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QUEIROZ É UM BONECO DO GARANTISMO (Coluna Victor Dornas)


Por Victor Dornas 

Apesar desta coluna ter boa intenção no trato com os acertos do governo, que têm sido, a meu juízo, bastante frequentes recentemente, para este articulista não há dúvida de que Jair Bolsonaro é velha política, embora até onde se saiba, seja uma pessoa legalmente idônea. Bolsonaro acumula certas benesses imorais do serviço público, como o acúmulo de aposentadoria militar desde os trinta anos somada com o salário opulento do legislativo e prerrogativas especiais. Nenhum dos bolsonaros abriu mão destes privilégios, aliás, ao contrário de alguns colegas.

Além disso, Bolsonaro, mormente quando mais jovem, emitiu declarações abjetas sugerindo o assassinato de Fernando Henrique Cardoso em rede televisiva, por exemplo. FHC foi de fato um problema, com malfeitos acobertados pela grande mídia e está longe de ter sido um bom presidente como foi Itamar Franco, contudo nada disso legitima a barbárie promovida por Bolsonaro que na época flertava bastante com o discurso revolucionário misturado com o revisionismo tacanho por ele insistido até hoje ao difundir bravatas sobre  o desgoverno militar de exceção. Bolsonaro comete equívocos, também, com relação aos índios.

Lá atrás nós optamos pelo relativo diálogo com as comunidades indígenas, de modo que o massacre aqui foi muito mais brando do que em nações como os Estados Unidos. Nas constituintes resolvemos quitar uma espécie de dívida repleta de demagogia ideológica e conferimos aos índios prerrogativas supralegais, além de uma reserva ambiental descomunal. Uma vez que optamos por isso, talvez o melhor caminho agora seja aprendermos a lidar com a questão de um modo inteligente ao invés de promovermos uma guerra estúpida num momento onde o mundo clama (com hipocrisia) por tecnologias sustentáveis e pela preservação ecológica. Nós devemos nos orgulhar por termos preservado tesouros culturais indígenas, quilombolas, ao contrário de países que dizimaram essas culturas. Podemos fazer dinheiro com isso lá fora frisando como nosso jeito  é manso  e, com isso, obtermos acordos lucrativos com grandes empresas estrangeiras. 

O Brasil tem uma reserva ambiental imensa e a exploração de recursos retidos nesses locais de fato incomoda muita gente, entretanto as áreas já permitidas para exploração, com uma boa gestão e políticas públicas corretas já seriam suficientes para promovermos nosso progresso, como, por exemplo, as recentes descobertas de terras raras (minérios usados em tecnologia de ponta) em Goiás.

O caso Queiroz é um incômodo não tanto pelo vulto flagrado na rachadinha do gabinete de Flávio Bolsonaro que é muito menor do que o percebido em gabinetes de gente que hoje chefia a ALERJ. Gente de partidos de esquerda que se acham muito probos para perguntar: “Cadê o Queiroz?”, como se eles próprios não fossem muito mais sujos. A questão Queiroz é sobre a ligação da família Bolsonaro com milicianos. É disso que se trata, além da questão de Bolsonaro ser difundido como nova política. Tudo isso é interessante, porém há nisso tudo uma questão que me parece muito mais importante que suplanta Queiroz, aliás.

Trata-se da questão penal brasileira. A protelação das prisões e o “garantismo” do STF.

O garantismo que encontra sua expressão mais ostensiva se dá no Supremo, o tribunal formado em grande maioria por advogados de políticos. O garantismo não é o positivismo jurídico,como alguns articuladores de um modo muito cínico tentam refletir. O garantismo é a opressão da crítica jurídica, como se as pessoas não tivessem o direito de se revoltar diante da impunidade. O positivismo, isto é, o legalismo estrito, também se incomoda com incoerências entre a materialidade de um texto constitucional com leis infraconstitucionais que permitem ao operado de má fé protelar e inibir a justiça. O único que não se incomoda com isso é o garantista, aquele que diz: “Ora bolas, se você está incomodado, mude a lei!” Como se o garantismo não mantivesse um sistema de cartas marcadas que impedem justamente o avanço legal, como por exemplo, nós termos uma corte suprema formada por advogados e nada possamos fazer sobre isso. 

O garantismo pragmaticamente é a sujeira jurídica, a má fé estampada.

Queiroz,assim como Lula, está livre em virtude do garantismo. Não se trata de uma questão política que envolve a figura Queiroz especificamente, mas um sistema que protege milhares de casos análogos, sendo Queiroz, por questões políticas um chamariz midiático, uma questão inconveniente aos garantistas que normalmente gostam de agir na penumbra. Queiroz desperta questionamentos, chama atenção demais. O garantismo, entretanto, por meio do aparelhamento político num sistema partidário corrupto, onde o ingresso de pessoas bem intencionadas é bastante difícil, é capaz de assimilar a revolta e deixar tudo como está. A questão Queiroz, ao invés de ser uma questão sobre o garantismo, passa a ser uma questão apenas sobre o Bolsonarismo e nisso a grande mídia, patrocinada por gente suja, sabe como ninguém como fazer. Queiroz então deixa de ser um problema do Supremo ou do Congresso e sim de Bolsonaro e sua vocação natural para manter amizade com milicianos.

Se o brasileiro em maioria detivesse do mínimo de senso crítico estaria perguntando “Cadê a reforma processual penal?”, pois uma Suprema corte de advogados se metendo com matéria penal de fulaninhos de todo o tipo atravancam qualquer progresso ou projeto de país. A realidade, manipulada por garantistas, entretanto, se contenta com o “Cadê Queiroz?”, ou seja, o circo midiático de fofoquinhas diárias que não ameaçam em nada o status quo.

Sem reforma no judiciário, principalmente no Supremo, não há caminho possível.



(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google

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