Cine Cultura,
o cinema da W3. Cine-teatro Cultura,
na 507 Sul, no dia de sua inauguração
*Por João Carlos Amador
Apesar de ter sido criada para ser
uma avenida comercial, a W3 Sul já mostrava sua tendência cultural
desde o início. Ainda durante a construção da cidade, um galpão na futura 507
Sul era o endereço do auditório da Rádio Nacional de Brasília, local de
intensa atividade onde se apresentaram vários artistas locais e nacionais,
como Inezita Barroso, Cauby Peixoto e Ataulfo Alves.
Inezita Barroso se apresenta no
galpão da Rádio Nacional em 1959. Na plateia, o presidente JK e Israel Pinheiro
Após 1960, a Rádio Nacional transferiu-se para a
701 Sul e a 507 teve outra destinação ligada às artes: uma sala de projeção.
Isso aconteceu porque, com o aumento crescente da população na capital, viu-se
a necessidade de mais um cinema no Plano Piloto além do Cine Brasília. Ele
deveria ser construído no Setor de Diversões Sul, mas ainda faltava muito
para o futuro Conic ficar pronto. Decidiu-se, então, destinar
provisoriamente uma área na W3 para esse fim, empreitada que ficou a cargo
da Empresa Cinematográfica Paulo de Sá Pinto, uma das maiores do país
naquela época.
Começava, então, a história do Cine-Teatro
Cultura, inaugurado no dia 21 de abril de 1961 em uma noite de gala
com a presença do presidente Jânio Quadros e várias outras
autoridades da República. O filme exibido foi O Sol por Testemunha,
de René Clement.
Diferentemente do Cine Brasília,
que costumava exibir os filmes do circuito comercial, o Cultura privilegiava o
cinema de arte e diretores europeus. Outra diferença é que seus assentos (466
no total) eram numerados e podiam ser reservados com antecedência para as
sessões noturnas. Cartaz divulgando o filme “Meu
Último Tango” em 1961.
Durante toda a década de 60, o
Cine Cultura manteve sua proposta original na escolha dos filmes exibidos. Mas,
nos anos 70, visando um público maior, começou a passar os famosos western spaghettis e filmes de kung fu, além das pornochanchadas nacionais. Nesse período, o Cultura
era programa vespertino frequente dos estudantes após suas aulas. Durante os anos 60, as sessões do
Cultura estavam sempre lotadas.
Mas outros cinemas começaram a ser
inaugurados em Brasília e o Cultura entrou em uma fase de decadência. O golpe
final aconteceu no dia 18 de novembro de 1976, durante a exibição do
filme A Ilha das Cangaceiras para apenas oito espectadores: uma ordem
judicial fechava, para sempre, a icônica sala de projeção. Pornochanchada em exibição em 1975.
O melancólico desfecho foi fruto de uma briga
judicial que havia começado no ano anterior entre a Empresa Cinematográfica
Paulo de Sá Pinto e a Terracap. O motivo: o terreno para a construção
do cinema no Setor de Diversões Sul prometido lá em 1961 foi oferecido pelo
preço do mercado atual, que era muito acima do acordado no início, mesmo com os
reajustes monetários. Paulo de Sá Pinto recusou-se a pagar e entrou na justiça.
No fim das contas, ele foi vencido pelo argumento de que a W3 Sul não poderia
ter cinemas por ser uma avenida comercial. Apesar das muitas tentativas da
comunidade, o Cine Cultura nunca foi reaberto.
O prédio foi, então, desocupado e
permaneceu fechado por vários anos. A classe artística da cidade e a Associação
Comercial do Distrito Federal tentaram reativar o cinema de várias formas
por meio de sucessivas conversas com o setor público. Mas nunca conseguiram.
Por fim, a área foi cedida para a Secretaria de Saúde e, depois, para
entidades beneficentes. Atualmente, encontra-se abandonada mais uma vez.
(*) João Carlos
Amador – Fonte: Histórias de Brasília