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UM PRESIDENTE DE PAPELÃO (Coluna Victor Dornas)


Por Victor Dornas 

O afastamento da deputada Bia Kicis da vice-liderança do governo no congresso evidencia que Jair Bolsonaro já não detém as rédeas do poder. A aproximação do centrão, de criaturas das profundezas da máquina putrefata estatal como Bob Jeff, tudo isso deixa marcas em qualquer gestão e o desrespeito com Bia vem justamente dessa gente. O pretexto? Ela votou contra a manutenção permanente do Fundeb, ou seja, conforme expliquei nesta coluna ainda ontem, ela optou pela crítica ao invés de simplesmente aquiescer com um sistema de carta branca para setores educacionais especializados em gastar verba pública sem oferecer nada em troca. Não cabe admitir que um país que invista 6 % de seu PIB com educação leve tinta até do Peru na renomada aferição do PISA. 

É disso que se trata o Fundeb, o Fnde, etc.

Pessoas bem intencionadas como Bia Kicis e Paulo Guedes são inadmissíveis para as alianças que o governo Bolsonaro resolveu fazer. E aí cabe uma ressalva pois parece que o presidente tem um leque de opções, quando, entretanto, aquilo que se vê na prática são escândalos de partidos de todos os espectros, tais como PSDB, com seus caciques blindados por Dias Tóffoli e por Davi Alcolumbre. A própria base de apoio do presidente está infestada de politiqueiros, vide o caso do ex-ministro Mandetta, que após dueto com Gilmar Mendes para adjetivar Bolsonaro de genocida, agora anuncia candidatura para 2022 contando com o apoio de outro dissidente oportunista, o ex-juiz Sérgio Moro, esposo da feminista de centro, Rosângela, mais conhecida nos anais da internet como Yoko Ono.

Calma nobre leitor, que ainda tem mais.

Conforme expliquei nesta coluna, em textos pretéritos, o maior problema da saúde brasileira é que, ano após ano, são devolvidos bilhões e bilhões ao superávit da máquina que seriam destinados aos mais diversos setores. Os motivos? Vários, porém o mais evidente deles: A má gestão de políticas públicas agravadas por um congresso formado, em grande parte, por ignorantes de toda a sorte. Agora a grande mídia está festejando um relatório do Tribunal de Contas da União que indica que a gestão Bolsonaro deixou de gastar quase 70 % da verba prevista para o combate à pandemia. Os comentários? “Genocida! Assassino! Etc.”

Não se pode atestar que Bolsonaro faz uma boa gestão nessa pandemia, por óbvio. A questão é mensurar o quanto deste desastre é culpa exclusiva dele e não de tantos atores políticos que buscam capitalizar em cima da demolição midiática promovida contra o governo diariamente. O fato do relatório emitido pelo TCU que agora conta com a fiscalização do Ministério Público ter indícios de má gestão corrobora, além da postura do presidente, com outros inúmeros fatores que são mostrados o tempo todo, como o próprio Covidão, ou, como referido, com a dificuldade da nossa política em aprovar programas de saúde, coisa que não mudaria logo agora numa emergência, onde os desafios são maiores e o congresso está ainda mais ocioso.

Bolsonaro ainda testa positivo para covid, porém seu isolamento não se dá apenas por isso. Aos poucos, o presidente está sendo castrado por um grupo de pessoas, algumas conhecidas e muitas outras não, que respondem a interesses que não se sabe de onde vem. Achar que isso é obra do próprio Bolsonaro, um ator da velha política notoriamente de baixo clero, significa nivelar por baixo o grau de complexidade do vasto aparato de corrupção brasileira.

Aquilo que se sabe, com certeza, é que Paulo Guedes está na mira das mesmas pessoas que tiraram Bia da base do governo no congresso. Inicialmente, a forma de torturar o Chicago Boy é impor para a sua equipe econômica formada por pessoas de alto gabarito a pecha de engolir os programas assistencialistas e populistas que fazem de Bolsonaro uma espécie de Lula 2.0. Guedes tentará trocar seus tiros, mas sozinho, torna-se um alvo extremamente vulnerável.

Resta saber quanto tempo durará a paciência do ministro que, embora no passado tenha manifestado simpatia por ideias que são qualquer coisa menos liberais, também tem seus limites. Bolsonaro quer a governabilidade, pois ao contrário do que disse antes em campanha, ele quer a reeleição acima de tudo e de todos e isso não é uma crítica. Se a política é a arte do possível, Bolsonaro está flertando com a turma do impossível.



(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google

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