Se puder, fique em casa!
A pandemia do novo coronavírus no Distrito Federal
continua a gerar disputas judiciais. Na mais recente, a Justiça acatou o pedido
de uma ação popular e deu 24h para que o governador Ibaneis Rocha (MDB)
suspenda o decreto que flexibiliza o isolamento social. De pronto, o chefe do
Executivo respondeu que vai recorrer para derrubar a liminar.
Em entrevista ao Correio, publicada na edição de
ontem, Ibaneis demonstrou segurança na decisão de autorizar a retomada das
atividades. Garantiu estar amparado por levantamentos diários sobre a situação
da pandemia no Distrito Federal. Para o bem geral de Brasília e dos
brasilienses, é imprescindível que ele e sua equipe estejam corretos na
avaliação. E que as críticas à flexibilização sejam um equívoco assim como Ibaneis
provou estar certo ao adotar, de forma pioneira, o isolamento social no começo
de março.
Fora da chamada sala de situação, o núcleo do
governo encarregado de produzir relatórios diários e em tempo real, sobram
dúvidas. Na semana em que o GDF decretou o estado de calamidade pública por
conta da pandemia, também liberou a retomada de academias, salões e escolas,
mesmo reconhecendo que, em julho, a capital enfrentará o pico de infecções.
Mundo afora, o pico da covid-19 é um cenário que persiste por um tempo até que
a curva se estabiliza e começa a cair. Teremos estrutura e mão de obra para
suportar tal pressão?
A decisão do governo de reabrir estabelecimentos
contraria a recomendação de pesquisadores de que a flexibilização só deve ser
adotada duas semanas após a queda e a consolidação do número de casos. Enquanto
isso, o Ministério Público do DF pede esclarecimento sobre a quantidade de
leitos disponíveis; estudos que justifiquem o fim do isolamento social,
denúncias de sindicatos de médicos e enfermeiros sobre o colapso iminente da
estrutura física, de insumos e de mão de obra para atender aos doentes. Na
outra ponta, o GDF tem anunciado a abertura de leitos, a compra de equipamentos
e insumos, além da contratação de profissionais de saúde.
Essa balança de contradições cria na sociedade um
ambiente de dubiedade sobre qual caminho seguir. Resta, a cada um, avaliar o
próprio contexto de vida e tomar a melhor decisão para se manter saudável. Já
se sabe que a covid-19 é uma loteria às avessas: para uns, pouquíssimos
sintomas. Para outros, morte certa, até entre os que são jovens e saudáveis.
O momento exige ações cidadãs em respeito aos
profissionais de saúde e da limpeza dos hospitais, aos quais não é dada a opção
de ficar em casa. Mulheres e homens que se arriscam diariamente para salvar
vidas. E voltam para casa sem saber se estão infectados ou não. Se puder, fique
em casa! Não seja mais um a entrar para as estatísticas de infectados e mortos
pelo novo coronavírus.
Adriana Bernardes – Correio Braziliense – Foto/Ilustração:
Blog-Google
Tags
COVID-19