test banner

A DESONERAÇÃO DA ALMA DE PAULO GUEDES (Coluna Victor Dornas)


Por Victor Dornas 

Caro leitor, imagine uma disputa entre um liberal e um comunista. O assunto é o seguinte: Uma medida provisória estenderia a desoneração de dezessete setores produtivos, ou seja, empresas que deixariam de pagar tributos ou impostos ao Estado com mais facilidade. De qual lado ficaria o liberal e o comunista? A pergunta induz os incautos ao erro pois há na vulgarização das escolas acadêmicas no debate político de massa a ideia de que sempre que houver desoneração ou desestatização de qualquer coisa significa que houve liberalismo, porquanto no caso inverso, isto é, na compulsoriedade do imposto, será algo próprio do socialismo ou de quaisquer de suas variáveis. A realidade, contudo, costuma ser mais complexa.

Conforme já tratado nesta coluna sobre os ensaios econômicos para iniciantes ministrados pelo brilhante economista Marcos Lisboa, o povão precisa entender que o verdadeiro liberal tem aversão ao subsídio destinado a setores específicos, pois além de gerar lobby, faz com que as naturezas daquele ecossistema produtivo sejam manipuladas por grupelhos que detiverem as rédeas políticas. Explico. A quantidade de igrejas que se vê por aí tem mais a ver com a questão da isenção tributária do que com a fé ou a vontade das pessoas em abrir igrejas. 

Ao invés das pessoas buscarem produzir de acordo com as características e demandas naturais de seu próprio ambiente econômico, um governo corrupto que concede privilégios a determinados setores desvirtua tudo isso.

Ironicamente, quando o governo Dilma fez algo análogo ao que está sendo feito agora nessa medida provisória que concede privilégio a setores específicos, a grande mídia divulgou que “infelizmente a medida não surtiu em mais empregos, pois ela privilegiava grandes empresas que detém as melhores tecnologias”. Ora bolas, e quando foi que essa ideia de privilegiar A ou B teve como meta gerar empregos simplesmente por desonerar empresários? O intento do governo Dilma, ao contrário do que imaginava seu eleitorado abobado, não foi gerar emprego e sim de ceder aos interesses do centrão que na figura de Michel Temer mantinha a coisa toda, além dos próprios partidos reacionários de sempre ditos de esquerda.

Agora no governo Bolsonaro, o centrão novamente entra em cena e por isso vemos o Partido Comunista do Brasil (vejam se isso é lá nome para um partido, ou seja, é como se existisse um partido nazista brasileiro, mas tudo bem) junto do PT e da turma de sempre querendo estender o benefício por mais dois anos ou quem sabe dez ou vinte anos mais pra frente. A ideia dessa banda podre é agradar figurões das grandes empresas e, coincidentemente, hoje a PF fez batidas envolvendo o fundador da gigante “Ricardo Eletro” por sonegação fiscal.

O que fez Paulo Guedes nisso tudo? Sendo ele o famoso Chicago Kid, resolveu trocar tiros com os pistoleiros da velha política e condicionou o apoio do presidente desde que fosse feita uma reforma que desonerasse a cadeia produtiva inteira, privilegiando também os pequenos. "Ahhhhhh, não senhor!" Aí os grandões não gostam pois empresário graúdo no Brasil não está acostumado a jogar contando com o risco do insucesso, a tão temida concorrência! Aí não pode, uma vez que a insurgência dos pequenos quebraria o oligopólio dos grandes e agora o nobre leitor entende o motivo do liberal não anuir com a ideia de privilégio ininterrupto para os tais dezessete setores. A velha guarda do congresso sabe todas as regras do jogo sujo pois foram eles mesmos os seus criadores e logo disseram a Guedes: “Sim, combinado, faremos isso sim.”. 

Foi só o prazo caducar para dizerem que não, que não é momento para votarmos reformas importantes já que congressistas andam trabalhando muito nessa pandemia. Guedes já contava com isso e sabe que o veto doravante tem grandes chances de ser derrubado. A grande mídia, totalmente vendida a esses grupos de setores privilegiados, diz que Guedes quis enfiar uma nova CPMF pois enxerga no Chicago Boy um inimigo perigoso. Nada disso, tudo que Guedes quis e Bolsonaro anuiu foi tentar quebrar com um dos maiores esquemas mafiosos que operam nesse país há tempos e tempos. Guedes sabia que não adiantaria e que Bolsonaro seria noticiado como o presidente que vetou uma medida que gera empregos, mas, ainda assim, decidiu comprar a briga. 

A grande mídia diz que ficou surpresa com o veto, pois são cínicos. Este humilde articulista, entretanto, também ficou surpreso, mas verdadeiramente surpreso ao notar que ainda há pólvora na pistolinha de Guedes, o cowboy indômito.

O Brasil tem o maior custo emprego proporcional do planeta. Aqui a CLT moldada no fascismo italiano representou conquistas num primeiro momento, mas cavou um rombo tão profundo na mentalidade do brasileiro que, embora seja ela própria a causadora de toda a desgraça atual na dificuldade de contratação, faz com que toda narrativa que a coloque onde ele deveria estar seja automaticamente tomada como contrária ao trabalhador. 

Um mecanismo estatal dos mais astutos já criados na humanidade que perdura incólume por tanto tempo. Pessoas sofrem e ainda assim defendem o sistema que as rebaixam a tal condição. Deve haver sim uma legislação trabalhista, mas no sentido de proteger o trabalhador com subsídios justos e não onerando o sistema produtivo para dar ao Estado toda a munição para a corrupção. 

Claro que a medida provisória, por mais perversa que tenha sido, por trazer qualquer tipo de desoneração já representou de cara a medida do governo que mais surtiu efeito nessa pandemia. Mas isso não quer dizer que ela seja boa, pois seus efeitos verdadeiros são a manutenção do próprio oligopólio, camuflado em vespeiros, na sordidez da lorota. 

E o comunismo nisso tudo onde fica? O liberal, já entendemos que não compactua com privilégios a setores produtivos, sobretudo aos grandões oligopolistas. Pois bem. O comunista está exatamente onde sempre esteve. Na mentira daquele que diz que quer estar do lado do trabalhador mas acaba mesmo é financiando os grandes grupos exploradores concentrados. Vejam bem como uma questão aparentemente complexa, afinal trata de tanto economês que a própria classe trabalhadora jamais vai entender o que os técnicos no assunto debatem em termos jurídicos sobre aquilo que o governo fará ou não via decreto, guarda também aspectos fáceis de entender. 

O liberal não é aquele que quer simplesmente desonerar qualquer coisa ou privatizar qualquer estatal. O liberal, acima de tudo, é aquele que quer sabe onde é de fato o lugar do estado para que o lugar do indivíduo seja sempre devidamente respeitado. Para este articulista, Guedes agiu por princípio e não por interesse, uma característica própria de um homem de bem.

Por pessoas como ele talvez seja interessante estimular este governo a prosperar.



(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google



Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem