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A DEBANDADA DA TURMA DO GUEDES (Coluna Victor Dornas)

Por Victor Dornas 

O último que sair apague a luz...

A pandemia catalisou a exposição das maiores fragilidades da política brasileira, tanto na situação quanto na oposição. Se houve um presidente inepto ao bom senso em suas declarações desastrosas que nos expuseram ao vexame internacional, também houve uma oposição oportunista que fantasia no Brasil algo que jamais ocorreu na história humana, ou seja, o funcionamento de ideologias carcomidas cheias de boas intenções. 

Além disso, o mito de um governo técnico aos poucos foi desfigurado na saída de Sérgio Moro e na crescente ideologização com servidores que criam escândalos diplomáticos em redes sociais.

A debandada do ME era questão de tempo, uma vez que, aos poucos, alguém que não se sabe quem exatamente foi moldando um novo Bolsonaro de ocasião a aquiescer ao jogo do poder. Um dia após a saída de Salim Matar e Paulo Uebel da pasta econômica, Bolsonaro diz que privatizar não é apenas leiloar empresas. De fato não é, porém a declaração diz muito mais.

Esses dois nomes não apenas simbolizavam uma possível e tímida inserção liberal no Brasil mas também eram a base do projeto de reestruturação administrativa que foi engavetado pelo governo. O motivo do engavetamento seria a pandemia? Mais ou menos. Todos sabem que a privatização é um processo lento, que demanda anuência de diversos setores do Executivo e também do Legislativo, portanto não havia motivo para interromper uma discussão que, por natureza, já demanda anos, a não ser pela evidente desistência em tê-la.

O Brasil sofreu, nesses quarenta anos de ideologização socialista, a sina de ser obrigado a manter empresas que, a exemplo da Eletrobras, são praticamente cadáveres mantidos por aparelhos que demandam ao erário cifras bilionárias anuais. O problema não é a quantidade de estatais e sim o processo de desburocratização inibido para não abalar o sistema de cartas marcadas, uma vez que, como é sabido, é ali dentro que corre todo tipo de corrupção.

Aliás, falando em quantidade, muita gente não sabe, mas foi no governo do FHC onde mais se criou estatais desde a redemocratização. 48 elefantinhos, contra  20 do PT somando-se Lula e Dilma! Por isso avento nesta coluna, com relativa frequência, que o Obama brasileiro, o socialista de lábia adocicada, o tucano boa praça, sofisticado, FHC, não vale nem um dedo do Itamar, que por sua vez foi o gestor que mais conseguiu privatizar estatais. 39.

Reitero, por oportuno, que o problema não é a quantidade e sim o processo de venda. A dupla de liberais encabeça a debandada da turma de Guedes por muitos motivos, embora deixem registrada a questão das privatizações. Eles perceberam que o maior problema é o congresso, pois se há essa enorme dificuldade em vender a Eletrobras, que praticamente está parada, não por falta de cliente disposto a entrar no mercado e sim por burocratização, isso significa que sem uma nova lei, o Executivo disposto a discutir a celeuma das estatais será sempre castrado.

A esperança seria que Bolsonaro personificasse a figura de combatente liberal.

Calma lá! Um milico aposentado aos trinta anos que acumula todo tipo de benesse do sistema engessado brasileiro e que nunca administrou uma barraquinha de picolé levantando a bandeira do Milton Friedman, Adam Smith ou da escola de Chicado? Evidentemente, não. Bolsonaro só pensa em sua reeleição e aprendeu que não adiantam se prestar ao ridículo de se debater com intelectuais para garantir o poder. Sua arma é o populismo com os pobres. Lula já deixou o caminho das pedras e por isso luta para tirar da esquerda o estigma de luta identitária roubado do exterior, sobretudo dos Estados Unidos e Europa.

No Brasil o que garante voto, ou seja, o caminho do poder é fazer gente pobre de idiota. Bolsonaro agora quer recriar medidas que já falharam na gestão petista mas remendando alguns pontos que talvez garantam a sustentabilidade de  um governo que quer agradar a todos. Quer agradar o centrão, quer agradar o filhão do Cesar Maia que, mesmo com meia dúzia de votos acha que manda no país, e, pasmem! Talvez queira agradar a mídia também. Por que não? Num final se semana onde assassinaram “acidentalmente” uma garota de 19 anos por conta do tal “lockdown”e nada disso se falou, Bolsonaro foi elogiado no Jornal Nacional por ter sido incisivo no escândalo do gordinho burguês e racista que ofendeu o motoboy. Gabrioelli Mendes morreu numa batida da GCM em São Paulo!

Aos poucos, Bolsonaro foi moldado numa nova versão, mais arrojada, de populista centrado, com o apoio da direita “Bob Jeff” que vive nos delírios ideológicos de condenar esteriotipos. Bolsonaro, que já se divorciou várias vezes, sempre mamou na tetinha do erário, mantém uma franquia familiar nepotista na política, relaciona-se com terrorista (sim, miliciano é terrorista), aos olhos dessa gente educada pelo astrólogo Olavo de Carvalho, é tipo um anjo Gabriel.

A questão agora, diante de tantas medidas acíclicas e a iminência de um pacotão econômico que precisa agradar Rodrigo Maia e a escola de Chicago ao mesmo tempo, é saber quantos tiros ainda restam no coldre de Paulo Guedes. Guedes tem se mostrado um sujeito  bem intencionado que, ao invés de gozar a vida, resolveu se meter no vespeiro da politicagem suja brasileira. Creio que o preço de sua permanência é também o de seu caráter.

Se Guedes cair, isso significaria em termos práticos, uma desvalorização incalculável no preço deste governo. Mas a pergunta é: Guedes já não caiu? 

Quem lá dentro ainda está com ele? O último que sair apague a luz.


(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google.

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