Água mineral pede socorro
*Por Circe Cunha e Mamfil
Aproveitando a calmaria que a quarentena prolongada
impôs a todos, inclusive, aos profissionais devotados à fiscalização e à
proteção do meio ambiente do nosso país, a máquina de fabricar leis niilistas e
de moer esperanças, localizada dentro do Palácio do Planalto, segue funcionando
a todo o vapor, imprimido diretrizes, que, em última análise, visam tão somente
impor sobre nosso riquíssimo e castigado bioma a concepção de riqueza e
progresso tal como entendido no princípio do século18, durante a Revolução Industrial.
Nesse quesito, trata-se de uma política
absolutamente obscurantista. Parece culpar a natureza exuberante pelos
descaminhos e desventuras tomados por parcela da população. Não se pode dizer,
contudo, que a população tenha sido apanhada de surpresa. O sinal de fumaça
indicando que mudanças indesejadas viriam a toque de caixa foi feita,
literalmente, pelo atual ministro do Meio Ambiente, que a maioria lúcida desse
país critica.
Durante a fatídica reunião fechada de 22 de abril
último e que a Justiça, pelos descalabros ali confessados, levou ao
conhecimento da nação, o ministro Ricardo Salles declarava, literalmente:
“Então, para isso, precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse
momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só se fala
de covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando
normas. De Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional),
Ministério da Agricultura, Ministério do Meio Ambiente, de ministério disso e ministério
daquilo. Agora, é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação”.
Para tanto, dizia o ministro, “o governo federal não precisa de Congresso,
ainda mais nesse fuzuê”.
Declaração dessa gravidade, vinda de quem, em tese,
deveria zelar pela preservação do meio ambiente, soa surreal, para dizer o
mínimo. Não satisfeito com a sessão de bajulação e sabujismo explícito, Ricardo
Salles ainda emendou sua falação com sugestões ao chefe: “Agora tem um monte de
coisa que é só parecer, caneta, parecer, caneta. Sem parecer também não
tem caneta, porque dar canetada sem parecer é cana (…) isso aí vale muito a
pena. A gente tem um espaço enorme pra fazer”.
De lá para cá, o que parecia ser retórica de
subalterno vai virando realidade. Regulamentações abrindo espaço para mineração
e exploração de madeiras em terras indígenas, a permissão para exploração
econômica em áreas da Mata Atlântica e outras estultices. O rol de medidas
insensatas ao meio ambiente segue numa profusão que vai espantando não só ambientalistas
daqui e do exterior, mas colocando o Brasil como pária num mundo que parece ter
acordado para os efeitos do aquecimento mortal do planeta.
Uma das últimas medidas anunciadas por esse
ministério para modernizar a área dentro dos parâmetros de desenvolvimento do
século 18, é o da privatização do Parque Nacional de Brasília, onde está
localizada a idílica Água Mineral, transformando aquele patrimônio verde e de
inestimável valor a quem mora em Brasília numa espécie de Parque aquático, com
infraestrutura de turismo e outros “avanços” ao gosto do atual governo.
Por certo, o atual titular da pasta do Meio
Ambiente desconhece o fato de que nessa área de 42.300 hectares, que abriga
espécies variadas de plantas e animais, está localizado o segundo principal
reservatório de água potável do Distrito Federal, que engloba a Barragem de
Santa Maria, de importância vital para o futuro da capital e de seus
habitantes. Quem sabe algum empresário chinês enxergue a oportunidade ímpar
dessa privatização e estabeleça naquele local um resort de luxo ou coisa do
gênero, que demonstre, ao mundo, nosso total despreparo para cuidar de tão
preciosa joia.
A frase que não foi pronunciada “Mude o nome de Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade para Instituto de Natação e Recreio Braço Forte e Mão Amiga General Médici. Mas não acabe com a Água Mineral, ou Parque Nacional, esse patrimônio é dos moradores de Brasília.” (Dona Dita, pensando, ainda com esperança em reverter essa atrocidade contra a população de Brasília.) - (Vídeo)
Devagar com o andor » Quando ouvir falar em qualquer
vacina pense em Anvisa. Acontece que, apesar do alarde, o laboratório Russo não
pediu autorização da Agência de Vigilância Sanitária para registrar a vacina
contra a covid-19 no Brasil. A exemplo dos agrotóxicos, que são proibidos ou
não queridos em outros países e aceitos por aqui, é preciso muita calma nessa
hora. Parceria estratégica pode significar muita coisa.
Valorizar » Como a cidade base na construção de
Brasília, o Núcleo Bandeirante merece uma sinalização melhor. Inclusive, com
alusão à história da capital. Para quem conhece a cidade todos os caminhos são
claros. Mas, para quem quer visitar a “Cidade Livre, fica decepcionado com a
mesmice.
Monitoramento zero» Nem parece tempo de pandemia.
Quem quiser voltar à vida normal basta dar uma passadinha no piscinão do Lago
Norte num domingo ensolarado. Difícil ver alguém com máscara. Brincadeiras na
água, churrasquinho, barracas com cerveja gelada e muita alegria.
(*) Circe Cunha
e Mamfil - Fotos: Vinicius Cardoso Vieira/Esp.
CB/D.A Press – Tony Winston/Agência Brasília - 3/10/18
- Vídeo:
divulgação da vacina russa remete à corrida espacial (reprodução: g1.globo.com) –
Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense
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ÁGUA E MEIO AMBIENTE