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A POLITIZAÇÃO DO ABORTO (Coluna Victor Dornas)


Por Victor Dornas

Para entendermos direito a repercussão social em torno do incidente envolvendo o aborto feito numa criança de apenas dez anos de idade é necessário pontuar, antes de tudo, o significado da politização. A politização acontece quando um fato social é manipulado para que aspectos seletivos aufiram relevância, de modo que questões mais complexas sejam postas de lado. No caso do aborto, por exemplo, as militâncias de ambos os lados selecionam pontos da discussão para que tudo em torno disso seja dicotomizado e antagonizado numa celeuma entre religiosos e aqueles que defenderiam, em tese, valores individuais da mulher.

Pergunta-se: Há na discussão do aborto outros pontos tão ou até mais relevantes? Sem dúvida. Um exemplo seria a indústria do aborto. Há um aspecto neste dito progressismo que é sufocado na politização: O feto foi classificado como um amontoado de células sem qualquer respaldo científico, ou seja, aquela esquerda que se diz muito afinada com a modernidade resolveu a questão do feto considerando, como um dogma, que aquele ser é um nada. 

E ficou por isso mesmo. Ocorre que se esse “nada” se torna um produto que rende bilhões numa indústria especializada em fomentar a cultura do aborto por ter interesse financeiro na causa, disso também nada se fala. Trata-se, conforme visto, da politização.

A politização é ilimitada. Ela se encarrega de destruir qualquer debate social.

O racismo, o sexo, qualquer coisa pode ser politizada. E em todos esses temas o amigo leitor, com algum esmero, perceberá questões sufocadas que normalmente tem fulcro financeiro. A própria divisão social entre “esquerda e direita” é politizada, por motivos óbvios. Então, agora pontuada a base, vamos ao caso:

Uma criança de dez anos foi estuprada pelo tio e acabou engravidando. Este é o fato abjeto. A politização começa já na rixa ideológica, quando um grupo de religiosos invade o centro cirúrgico para tentar impedir o assassinato do feto. De outro lado, influenciadores de esquerda celebram a realização da cirurgia como um marco na “causa pelo aborto”, como se todo caso de aborto fosse igual e o fato um nada. Não é difícil notar, dadas explicações iniciais a respeito da politização, que o caso em questão está insuflado de oportunismos de todos os tipos.

E sufocada na discussão, a criança de dez anos estuprada pelo próprio tio.

A guerra ideológica tem o germe qualquer guerra: Os estrategistas são desumanos. Nenhuma das duas partes de fato dá a mínima para a criança, contudo se portam como se solidários fossem. Isso é marca da politização. Como resolver questão? Ou melhor, como resolver qualquer questão que desperte o furor social? Primeiramente, educam-se as pessoas para que a politização seja suprimida e a complexidade da questão aflore devidamente. Segundo, nomeando pessoas responsáveis para conduzir o debate com mais qualidade, ou seja, especialistas em saúde física e mental que podem, inclusive, debater ideias.

Outro aspecto da politização é que os grupos envolvidos na briga buscam um saneamento da divergência de ideias. Ao invés da discussão sadia, humana, busca-se um dogma onde todo aquele que incomoda, ou seja, que aponta visões diferentes deve ser expurgado. Tanto a presença de grupos raivosos como a hegemonia de pensamento são aspectos de politização avançada. O ambiente sadio requer o debate constante, porém o debate civilizado.

Há aqueles que dizem: “Não gosto de política.”

Eles não percebem que estão sendo politizados, pois se negam a conhecer aquilo que motiva seus próprios atos. Muitas vezes, porém, a politização provoca tanto incômodo que as pessoas são obrigadas a censurar a própria política para prover a convivência mais harmoniosa. É árdua a tarefa de conviver com pessoas cegas pela politização, de qualquer um dos lados.

Quando a politização mata a política, ela atinge sua finalidade.

A política é o remédio para a politização. Não se trata de buscar a verdade e sim de buscar o bom debate para que, talvez, alguma verdade apareça, na melhor acepção da maiêutica dos gregos. Quem se acha dono da verdade tem complexo de Deus. Diz que liberta, mas aprisiona.




(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google.

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