Caminhada no parque
*Por Severino Francisco
Que me desculpem os leitores, mas esta crônica será
de utilidade pública. A rigor, os epidemiologistas alertam que não existem
ambientes com risco zero de contaminação pelo coronavírus. Mas admitem que
caminhadas leves ao ar livre em parques, sem aglomerações e com uso de máscara,
apresentam pouco perigo.
Na verdade, as pessoas precisam se exercitar para
manter a saúde física e mental. A questão é quando, como e em que lugar. De
minha parte, adoro andar pelos parques da cidade-parque. No entanto, não
frequentarei nenhum até o fim da pandemia. Enquanto o mundo explode, tenho um
amigo que sempre faz caminhadas pelo Parque da Cidade, pelo Parque Olhos d’Água
e pelo Parque de Águas Claras.
Em suas andanças, uma pergunta o persegue de
maneira obsessiva, como se ouvisse vozes: “Presidente, afinal, por que Fabrício
Queiroz depositou R$ 89 mil na conta da Michele?”. Além disso, ele depara-se
com outro problema mais prosaico: o fechamento dos banheiros, determinado pelo
protocolo sanitário. Com isso, só consegue aliviar a bexiga escondendo-se atrás
das árvores.
Pois bem, o meu amigo resolveu conversar com um
senhor, vigia de um parque, para saber mais informações. O vigia era muito
bem-humorado e confessou que não aguentava mais tanta pressão. Algumas pessoas
achavam que ele tinha a chave do banheiro para uso exclusivamente pessoal. De
nada adiantava explicar que obedecia ordens superiores. Em sua teoria, os
parques deveriam ser regidos pelo regulamento de uma suposta “ABA”.
Meu amigo imaginou que o funcionário errara a
pronúncia; o nome correto da sigla seria APA (Área de Proteção Ambiental). Mas
o vigia esclareceu que se tratava mesmo de ABA e significava: água, banheiro e
árvore. Sem esses três componentes essenciais, um parque não poderia ser
chamado de parque. Como fazer longas caminhadas sem beber água e sem descarregá-la
em algum momento do trajeto?, indaga o servidor.
E aponta a incongruência: se os shopping centers,
ambientes fechados, com risco muito maior de contaminação, oferecem banheiros,
por que são interditados nos parques? Apenas exponho o caso e deixo a palavra
final com os epidemiologistas.
No entanto, apesar das incoerências nos protocolos
estabelecidos pelos governantes e dos argumentos engenhosos do vigia, pelo que
li, os banheiros públicos aumentam a possibilidade de transmissão do vírus. Talvez
o meu ilustre amigo, que presta relevantes serviços à cultura, fique bravo
comigo. Todavia, prefiro que fique bravo e protegido, bravo e vivo.
Severino
Francisco – Colunista, jornalista do Correio Braziliense – Fotos/Ilustração: Blog-Google
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