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Faleceu: Roberto Cavalcante, 44 anos, educador


Betão é o fundador do Colégio Ideal, que tem seis unidades no Distrito Federal

O adeus a Roberto Cavalcante, o Betão, tomou as ruas de Águas Claras e Taguatinga, em uma carreata em que cada buzina era uma forma de despedida ao professor de história que fundou o Colégio Ideal. Aos 44 anos, ele tornou-se mais uma vítima da covid-19. Depois de 21 dias internado em um hospital particular da Asa Sul, ele morreu, na madrugada de ontem. Betão era obeso e hipertenso. O sepultamento ocorreu ontem à tarde, em cerimônia restrita a familiares.

Nascido e criado em Taguatinga, Betão escolheu a cidade para inaugurar, em 2004, a primeira unidade do que chamava de “escolinha de esquina”, maneira carinhosa de dizer que ali todos se conheciam. O que começou com cerca de 260 alunos cresceu e, hoje, atende a cerca de 5 mil estudantes dos ensinos fundamental e médio. O Ideal tem seis unidades, em Águas Claras, Taguatinga e Jardim Botânico.

Como coordenador, Betão fazia questão de chamar todos os jovens pelo nome, além de conhecer a família de cada um. Quem o via logo era contagiado pela alegria, como explica a diretora da instituição de ensino, Norma Molina, 65 anos. Os dois conheciam-se há quatro décadas. Para ele, Norma era a mãe do coração. “Formamos uma relação de amizade muito grande entre as famílias, com todos da QNS 20, que foram criados juntos, em uma época em que se jogava bola no meio da rua, subíamos em árvores e todo mundo era muito feliz”, recorda.

Filho de um garçom e de uma professora, Betão seguiu os passos da mãe. Dentro e fora de sala de aula, aprendeu a lidar com os alunos com carinho e cuidado. “Ele falava a linguagem do adolescente. Sabia resolver conflitos. Quando os jovens olhavam para ele, viam que também poderiam conseguir o sucesso. Mas ele também dava broncas quando era preciso”, detalha Norma.

Colega de trabalho e amigo querido, o diretor Carlos “Quico” Martinez, 55, o descreve como diferenciado. “Ele tinha uma empatia muito grande e a capacidade de entender o outro apenas com um gesto ou olhar. Era muito atento e carinhoso e tratava todos os alunos de igual para igual.” Nos 18 anos de convivência quase diária, a afeição apenas aumentou. “É um irmão de coração. Pedindo licença à família, aproprio-me dessa condição, porque a nossa relação foi muito isso. Muita cumplicidade e compartilhamento de tudo”, contou.

Paizão: Betão deixou duas filhas, de 15 e de 10 anos. Mas a natureza paterna fez com que muitos outros jovens o abraçassem como um paizão. A advogada Danielle Medeiros, 28, conviveu com o professor entre 2006 e 2008. “Tive aula com ele no 1º e no 2º ano do ensino médio. Quando fui para o 3º, ele passou para a coordenação”, lembra. “Ele sempre chegava à sala brincando, conversando. Falava com os alunos durante o intervalo. Não era de ficar no canto dele, fazendo trabalho. Não existia ninguém como ele”, emocionou-se.

Ela recorda com carinho as viagens feitas pelo colégio, e como Betão estava sempre no meio dos estudantes, participando das brincadeiras. “Tive a sorte de revê-lo este ano e achei incrível, que, mesmo 10 anos depois, ele me reconheceu de prontidão. Eu estou muito diferente, mudei o cabelo, mas ele era assim. Não era o professor que fingia que te conhecia. Ele, realmente, lembrava de você, dos seus pais e sabia das suas notas”, ressalta. “Não existia ninguém como ele”.

Mariana Machado – Correio Braziliense

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