O álcool e as mortes no trânsito
Em apenas cinco dias, ao menos quatro pessoas
morreram brutalmente nas vias do Distrito Federal, vítimas de condutores
embriagados. Felipe Alves tinha apenas 24 anos. Em 3 de agosto, ele trocava o
pneu do carro no acostamento da DF-230, perto do Morro da Capelinha, em
Planaltina, quando um motorista alcoolizado o atropelou. O teste do bafômetro
acusou 0,66 miligrama de álcool por litro de ar expelido dos pulmões, o dobro
do índice tipificado como crime pela lei seca.
Dois dias depois, na noite de 5 de agosto, os garis
llda Barbosa de Sousa, 52 anos, e Anísio de Souza Lopes, 48, concluíram a
varrição das ruas de Sobradinho e voltavam para casa pedalando. Seus corpos,
segundo a polícia, foram arremessados por cerca de 100 metros, quando um homem
embriagado perdeu o controle do carro e atingiu as bicicletas deles. O Correio
apurou que, em 2011, este mesmo motorista foi multado por dirigir bêbado. Nas
duas vezes em que foi pego, ele se recusou a fazer o teste do bafômetro.
No sábado passado, uma mulher alcoolizada dirigia
um carro de passeio quando se envolveu em uma colisão com uma motocicleta, na
Estrada Parque Núcleo Bandeirante. Lucas Ribeiro, 24 anos, também não teve
chance.
Se, por um lado, os decretos de fechamento das
atividades e a proibição de eventos públicos com aglomeração reduziram a
quantidade de veículos e pessoas nas ruas, por outro, impactaram, negativamente,
na fiscalização do trânsito e na punição dos infratores. Fontes ouvidas pelo
Correio disseram que a quantidade de blitz caiu, assim como as abordagens aos
motoristas. “Quem disser que não teve impacto, está mentindo”, resumiu uma
delas.
De janeiro a julho deste ano, os órgãos de trânsito
do DF aplicaram 9.021 multas por embriaguez ao volante, número 28,6% menor do
que no mesmo período do ano passado, quando foram emitidos 12.643 autos de
infração. Não há como dizer quantos por centro dessa redução se deve ao
fechamento de bares e restaurantes e qual parcela entra na conta da queda de
fiscalização.
A pergunta é: com a reabertura de praticamente
todos os setores, quais serão as estratégias do poder público para evitar que a
selvageria de uma parcela de brasilienses deixe um rastro de mortos e feridos
na capital? Os bares e restaurantes voltaram a ficar cheios, denúncias de
festas clandestinas começam a pipocar na cidade, radares para coibir o excesso
de velocidade foram retirados das ruas e as pessoas estão morrendo. Até quando
as autoridades manterão seus olhos fechados para a epidemia de mortes no
trânsito e nós, sociedade, aceitaremos passivamente essa omissão?
Adriana Bernardes –
Foto/Ilustração: Blog – Google – Correio Braziliense
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