Por Victor Dornas
A politização da
pandemia quase levou Jair Bolsonaro para o tribunal de Haia por vários motivos,
dentre eles a recomendação e aquisição de cloroquina sem lastro científico.
Ocorre que, após mais de cem mil brasileiros mortos, a China resolve endossar o
uso deste antimalárico e disso tiramos duas constatações iniciais: 1. Se o uso
precoce de hidroxicloroquina no tratamento de COVID 19 pudesse ter salvado uma vida
sequer, alguém deve responder por isso. 2. Não houve a devida repercussão midiática
para o teste chinês realizado em 193 pessoas.
O início da pandemia
foi marcado por equívocos mortais de escala mundial. O primeiro erro foi a
demora da ditadura chinesa em alertar o problema e a falta de transparência da
gestão do país nos impede de saber ao certo o quanto eles erraram e se foi por
culpa ou dolo. Ao contrário de Bolsonaro, em Haia, este sim é um assunto
pertinente para ser tratado num tribunal internacional. O segundo erro foi a
própria OMS que menosprezou o problema até o fim de fevereiro, quando as autoridades
brasileiras já haviam decretado emergência.
Os endossos de figuras
midiáticas reforçaram uma falsa segurança para a liberação do carnaval. Sendo a
prévia circulação um dos principais fatores de instalação do vírus, pode-se
dizer que o carnaval foi o principal fator de explosão pandêmica no Brasil.
Quando líderes com
discursos populistas como Trump e Bolsonaro começaram a reivindicar o direito
de distribuir cloroquina para a população, a maioria (incluindo este humilde
articulista que hoje reconhece seu erro também) pensou que fosse uma aposta
política sem maiores repercussões, já que órgãos renomados sempre obstaram a
ideia. A questão é que Bolsonaro e Trump são duas figuras excêntricas e
histriônicas, de modo que muitas vezes cometemos o erro de misturar toda a
galhofa de suas posturas com aquilo que seus respectivos governos
verdadeiramente significam, ou seja, quem são as milhares de pessoas que
labutam ali diariamente. Eles não tiraram a ideia de outro lugar senão da
orientação de técnicos de saúde e dos próprios militares.
Enquanto criticávamos a
crise da pasta ministerial e suas sucessivas trocas, muitos não notaram que o
envolvimento dos militares numa guerra pandêmica era uma questão de
sobrevivência e, como venho apontando desde o início, a indicação do General
Pazuello, a despeito das celeumas no quartel que indicaram sua indicação
oficial, assim como Teich, foi um acerto da presidência. O envolvimento das
forças armadas em qualquer governo, sendo grande parte da ativa gera, de fato,
um incômodo, mormente em países sem uma arregimentação política democrática e
segura. Mas é uma questão de guerra, ora bolas.
O fato é que, diante da
postura da China, Bolsonaro esteve certo desde o início. Numa guerra onde o
inimigo não tem pontos fracos, qualquer medida com um mínimo de respaldo ou
esperança e que não imponha riscos para a população deve ser adotada. Nós
desprezamos a importância da observação clínica empírica, sobretudo de médicos
mais antigos.
E o cientificismo de papéis, num país campeão de produção de
artigos científicos que não auferem de qualquer repercussão social relevante a
opinião de médicos que lidavam diariamente na linha de frente, foi sufocada.
Na política, tudo é uma
questão de “timing”.. tic, tac, tic, tac...
Com as falas
desastrosas de Bolsonaro, num momento inicial, era compreensível a condenação
de suas decisões. Com o passar do tempo, entretanto, aflorando-se os
verdadeiros culpados, as intervenções indevidas do Supremo, a máfia do Covidão,
a politização do vírus por uma oposição sedenta por colocar figuras carcomidas
e corruptas financiadas por órgãos paramilitares internacionais de volta ao
posto máximo do poder brasileiro, tudo isso fez daqueles que insistiram em
continuar demonizando o governo como cúmplices de algo muito sério, que em
última análise pode significar, inclusive, a morte em vão de milhares de
pessoas.
Em decorrência da
quantidade de dinheiro envolvido nisso, no fato da cloroquina ser uma medicação
barata também, é bem provável que jamais saibamos a extensão dos crimes
ocorridos nessa pandemia. Se um dia, de fato, abrirão a caixa de pandora, não
importa. Diante da China, que usa cloroquina desde fevereiro e já exportou
toneladas para a Rússia, inclusive, é urgente que o governo brasileiro
disponibilize para a população a aquisição facilitada da medicação, que sempre
foi um antimalárico vendido sem tarja, inclusive.
A cada dia que passa, o
vício da vaidade em não admitir seus erros custa vidas. Mas a política, em
última instância, sempre foi isso mesmo. Um jogo maquiavélico que decide a vida das pessoas.
(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google.
(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google.