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PAULO GUEDES: LITERATURA INSANA. (Coluna Victor Dornas)


Por  Victor Dornas 

Não há como negar que a pasta da economia está repleta de boas intenções. Nos últimos meses, contudo, algo bastante estranho tem acontecido lá, de modo que houve até debandada de secretários especiais de desestatização. As razões são inúmeras, algumas vindas do “centrão”, outras do próprio pragmatismo da gestão pública, porém há aquelas estranhezas que são de autoria do próprio ministro Paulo Guedes, em sintonia com Bolsonaro e toda a tradição militar patrimonialista que nos deixou muitos louros e também um baita ônus.

Ao enviar a primeira parte de seu pacote de reformas econômicas, Guedes resolveu acabar com a isenção de PIS/PASEP conferida aos livros em 2004 pela Lei 10.865. A esquerda dita progressista, com razão, se enfureceu, afinal de contas, não faltam teorias da conspiração de toda a sorte sobre a escola econômica de Chicago (de onde vem Guedes) e a ditadura chilena.

A justificativa do ministro? Digna de um prêmio Dilma: “Livro é coisa de rico.” Um absurdo! Ainda que fosse o caso, entretanto, esse pensamento de que produtos destinados aos mais ricos devem ter maior tributação tem raiz ideológica socialista, então que raios Paulo Guedes, um pretenso liberal que enriqueceu especulando e manipulando um sistema combalido pelo socialismo, está querendo fazer? Talvez nem ele saiba, mas vamos aos fatos.

A chegada da Amazon provocou duas coisas. A primeira delas, bastante negativa, a falência de modelos de negócio que se debelavam contra o Estado para sobreviverem vendendo livros num preço nada acessível, por conta da tributação que já era alta antes de 2004 e da referida lei. A segunda, bastante positiva, a Amazon propiciou ao Brasil uma disponibilidade eficaz e um acervo impressionante de produtos culturais, dentre eles, principalmente, os livros. 

Isso ajuda muito a fomentar a cultura num país que não é afeito à leitura. Na Amazon, o SAC funciona 24 horas, o catálogo é moderno, a política de preços inteligente. Ou seja, um paraíso cultural. Assim como aconteceu com o Uber, a Netflix e outros que trouxeram a modernidade ao Brasil que ainda está afogado pela ideologia socialista, o olho do burocrata que nada produz, a não ser gastar mal o erário, cresceu com a chegada da Amazon. 

Sempre que ocorre uma disrupção mercadológica com aspectos positivos no Brasil, o governo, ao invés de tentar ser razoável e subsidiar os aspectos negativos dessas mudanças, seja no caso dos taxistas, ou agora as livrarias físicas, ele decide sugar com impostos aquele setor e com isso anulá-lo ao máximo.

A pressão social é aquilo que mantém o serviço funcionando, a despeito da fome insaciável dos políticos e por isso, mesmo com tanta briga, esses serviços ainda sobrevivem aqui. Sendo assim, vejamos se é possivel decifrar o ministro.

Antes da pandemia, mesmo com o subsídio da lei paternalista de 2004,as livrarias e também as editoras já estavam numa situação terminal. Se o projeto de Guedes passar, nestes termos, a falência será inevitável. Com isso, a Amazon tende ao monopólio cada vez maior e, com isso, a primeira preocupação será com o preço que eles oferecem, que por enquanto é ótimo, mas sabe-se que a ausência de concorrência é fator predominante no aumento de preços. 

Guedes quer que isso aconteça e por isso força a tributação, de modo que menos livros serão vendidos, porém com maior arrecadação estatal. Isso na cabecinha iluminada dele, pois qualquer pessoa de bom senso percebe que ele está errado, uma vez que com uma menor venda de livros a arrecadação será menor.

Guedes disse ainda que quer dar livros gratuitos aos pobres. E aí temos que dar alguma razão para a esquerda lulista que reivindica a tese pinochevista de controlar a leitura, pois ainda que o Estado possa subsidiar o fornecimento de livros de autores clássicos para classes mais baixas e também para escolas, o “pobre” deve escolher também aquilo que quer ler e não o governo.

Conforme posto, a tradição brasileira é sugar o mercado sem perceber que, com isso, estará arrecadando menos pela falta de movimentação de produtos. Um clássico da ignorância econômica num país afogado pela ideologização arcaica. Se esperava muito mais de alguém tão bem intencionado como Paulo Guedes. Se esperara, pelo menos, o mínimo de bom senso.

Guedes sempre demonstrou admiração com figuras políticas populistas. Já elogiou bastante o governo Lula e agora convive de perto com um mestre da lábia que é Jair Bolsonaro. Talvez isso tenha a ver com essa ideia ridícula dele em querer pesar a mão no mercado de livros. Talvez sim, talvez não...

Na verdade, embora se faça toda essa explicação sobre a chegada da Amazon e a sede de tributação, nada explica direito que raios está acontecendo na cabeça do ministro. Nem ele mesmo é capaz de explicar e tem apanhado rotineiramente em debates contra expoentes da esquerda como o socialista Marcelo Freixo. Enlouqueceu? Talvez. O baixo assinado contra essa parte do projeto do governo já conta com mais de 1 milhão de assinaturas.

Trata-se de uma leitura turva da realidade pelo governo... Uma leitura incompreensível. Ele está doidinho da silva, no bom português. E a debandada deve aumentar.



(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google.


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