O samba mais triste. Kunka: legado de muita
música e amizade
*Por Irlam Rocha Lima
O samba em Brasília sofreu uma
grande perda na noite de segunda-feira. Wilson Elpídio Cunha Filho, o
percussionista Kunka, morreu aos 67 anos. A causa do óbito foi falência
múltipla dos órgãos, em decorrência de um câncer no pâncreas. O músico,
servidor aposentado do Banco do Brasil, deixou dois filhos. Fez parte da cena
musical da cidade com os grupos Primas e Bordões e Samba & Choro, além de
particiar frequentemente de rodas de samba em vários pontos do Distrito
Federal.
Paraibano de Campina Grande, Kunka
chegou a Brasília, com a família, em 1966. Ele iniciou a carreira musical como
instrumentista na década de 1970, fez parte do grupo que acompanhava o sambista
e compositor Carlos Elias, ao lado de quem foi um dos fundadores do Clube do
Samba, que funcionou por dois anos no Teatro Galpão. Durante algum tempo,
ocupou o cargo de diretor social da AABB, onde promoveu shows de dois sambistas
legendários, Jamelão e Nelson Cavaquinho.
Na sequência da trajetória, nos
anos 1990, participou de vários shows, com destaque para os do mestre Cartola —
em apresentação na Universidade de Brasília (UnB) —, Choro Livre e Dois de
Ouro, formado por Hamilton de Holanda e Fernando César, no Clube do Choro. Na
década seguinte, passou a ter atuação ainda mais efetiva. Ele, o saudoso
multi-instrumentista Evandro Barcelos e o cavaquinista e pandeirista Valerinho
Xavier criaram o Samba & Choro, que cumpriu longa temporada, aos sábados,
no Bar do Calaf, entre 2002 e 2008 e chegou a lançar um disco.
Com o Samba & Choro, Kunka fez
parte de um dos mais importantes projetos da história da música na capital, o
Gente do Samba. O grupo, entre 2000 e 2008, acompanhou shows memoráveis no
Feitiço Mineiro, como os de Nelson Sargento, Elton Medeiros, Monarco, Nei
Lopes, Noca da Portela, Walter Alfaiate e Dona Ivone Lara.
“Além de um músico competente e
agregador, Kunka era uma figura humana especial. Sempre fomos amigos e
trocávamos mensagens frequentemente, até quando foi internado no hospital, por
conta da doença que acabou lhe vitimando”, disse, emocionada, Sônia Alves,
produtora do Gente do Samba. O sobrinho e ex-companheiro de grupo
Valerinho Xavier também se emociona ao falar do mestre. “Foi com ele que, ainda
muito jovem, tive iniciação musical. Vamos lembrar do Kunka também pelo hábito
que manteve. Enquanto tocava, ele tinha sempre ao seu lado no palco, uma
garrafa com cachaça artesanal, que sorvia em meio às apresentações”.
(*) Irlam Rocha Lima – Correio Braziliense
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