Segundo a apuração do MPDFT, 170
nomes receberam tratamento privilegiado para receber resultado rápido
Testes rápidos tinham lista VIP.
Investigação do Ministério Público do DF mostra que secretário de Saúde pediu
celeridade nos resultados de exames de pessoas influentes da capital, como o
senador cassado Luiz Estevão e o ex-governador José Roberto Arruda
Mensagens trocadas pelo secretário
de Saúde do Distrito Federal, Francisco Araújo, e o diretor do Laboratório
Central do DF (Lacen), Jorge Chamon, mostram que o chefe da pasta pediu que o
resultado de testes da covid-19 de figuras influentes da política da capital
federal fossem acelerados e considerados prioritários. Entre os privilegiados
pela equipe estão o senador cassado Luiz Estevão e o ex-governador José Roberto
Arruda. Mais de 170 nomes receberam tratamento especial.
As mensagens foram obtidas a partir
da análise do celular de Chamon pelos investigadores do Ministério Público do
Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e fazem parte das informações que
embasaram o pedido de prisão preventiva do secretário e mais seis pessoas.
Araújo foi preso, na manhã de ontem, na segunda fase da Operação Falso
Negativo, que investiga supostas irregularidades na compra de testes rápidos.
Ele é apontado pelo MPDFT como líder de uma organização criminosa, que operava
na pasta.
Segundo os promotores, foram
inúmeros casos em que Araújo demandou Chamon para que os resultados de algumas
pessoas fossem antecipados “com determinação de prioridade para os integrantes
dessa espécie de ‘lista VIP’. “Testes eram realizados na frente de outros
tantos que estavam na fila de espera, ou seja, tudo em detrimento do
atendimento da população mais carente do Distrito Federal, que, obviamente, não
tem acesso a essa espécie de tratamento prioritário”, ressaltou o órgão.
Em mensagens trocadas com Chamon,
em 25 de março, Araújo diz que precisa urgentemente do resultado do teste de
Luiz Estevão. Um dia antes, Estevão conseguiu na Justiça o direito de cumprir a
pena de 26 anos a que foi condenado em prisão domiciliar por uma liminar em
habeas corpus deferida pelo ministro Rogério Schietti, do Superior Tribunal de
Justiça (STJ). O mérito não foi julgado, e Estevão continua em casa.
Em 19 e 20 de junho, o secretário
pede pressa nos exames de Arruda. No caso do ex-governador, Chamon respondeu
que o resultado só sairia no dia seguinte. Araújo afirmou que precisaria ser
naquele dia. “Por isso, a gente leva bronca”, reclamou. Chamon respondeu que
não havia como atender a todas essas prioridades, porque o Lacen estava
recebendo mais de mil amostras por dia para avaliação. “Então, prioriza o que peço”,
rebateu o secretário.
A defesa do secretário alega que
ele está seguro de que não cometeu “crime algum”. Os representantes de Chamon
não foram localizados pela reportagem.
Investigação exclusiva: A investigação que culminou na prisão preventiva de
Francisco Araújo e mais seis pessoas foi feita sem a participação da Polícia
Civil, sendo exclusivamente pelo Ministério Público do Distrito Federal e
Territórios (MPDFT). Na medida cautelar, os promotores solicitaram que, pelas
especificidades das apurações, os mandados fossem expedidos aos cuidados e para
cumprimento do MPDFT, além de que fossem mantidos em sigilo até o cumprimento
para “resguardar o sucesso das diligências”.
MPDFT quer dados do Iges: O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) impetrou, ontem, mandado de segurança para ter acesso aos dados bancários do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges). A Secretaria de Saúde repassa cerca de R$ 1 bilhão por ano para a entidade, responsável pela gestão dos hospitais de Base e de Santa Maria, além de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Segundo o MPDFT, o acesso a essas informações é a única forma para acompanhar com eficiência a execução dos recursos e confirmar se informações divulgadas são fidedignas. As informações tinham sido negadas ao órgão pelo Banco de Brasília (BRB), onde a instituição tem conta.
Alexandre de Paula - Ana Maria
Campos - Fotos: Ana Rayssa/CB/D.A.Press - Ed Alves/CB/D.A.Press - Correio
Braziliense