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SILÊNCIO MORTAL EM PELOTAS (Coluna Victor Dornas)


 Por Victor Dornas 
Quem é de fora, mas conhece bem o município de Pelotas, certamente guarda com carinho algumas memórias em virtude do estilo de vida do cidadão pelotense. Em Pelotas, o direito de ir e vir é um tanto mais sagrado e diferente daquilo que se vê em grandes metrópoles brasileiras, pois o pelotense, a despeito da pobreza sobretudo na periferia, perambula pelas ruas em paz e toma a liberdade como seu principal patrimônio. Até mesmo em dias de semana, o centro da cidade sempre está repleto de pessoas que passeiam por praças, se divertem em cafés e livrarias e respiram o ar puro providencial de um paisagismo inspirador.

Pelotas, entretanto, como se sabe, enfrenta problemas estruturais sérios, há tempos, principalmente em setores de saúde. Em 2006, os empresários locais da cidade e pessoas de bem em geral criaram uma aliança para tentar identificar os piores entraves na redistribuição de verbas do erário pelos gestores públicos. O grupo é chamado de “Aliança Pelotas”.

Pois bem, o cenário singelo e charmoso de Pelotas, esse final de semana, foi transformado num caos típico de filmes de guerra daqueles que se vê em ficção científica. O motivo? O de sempre. Falta de perícia na gestão pública. Na noite deste último sábado, a prefeitura resolveu decretar “lockdown” na cidade inteira argumentando iminente falência de disponibilidade de unidades de terapia intensiva no sistema hospitalar pelotense no combate ao covid.

O grupo Aliança Pelotas afirma que, com a verba destinada ao enfrentamento da pandemia, seria possível disponibilizar hoje 130 UTIs, ao contrário da realidade, onde apenas 30 unidades estão de fato operando. A ideia é que a prefeitura não entende direito os modelos de parceria público e privadas – PPPs, - um clássico da má gestão brasileira inflamada por ideologias putrefatas. A julgar pelo ocorrido no final de semana é bem provável que eles estejam certos.

A prefeitura do município então resolveu chamar a força policial para obrigar o uso de armamento pesado na contenção do cidadão pelotense que deveria ficar recluso em casa, obrigatoriamente, por um período de 3 a 4 dias, iniciado no sábado as 8 da manhã. O resultado? Catastrófico. 

O gestor ideologizado não enxerga um palmo além da fuça e não previu que uma medida dessas, feita de qualquer jeito, a exemplo do que já ocorreu em São Paulo com episódios relativamente análogos, impulsionou a aglomeração de pessoas que, desesperadas, formaram filas intermináveis em busca de suprimento uma vez que a atitude das autoridades foi desorganizada em repentina. 

Com isso, o vírus logicamente se disseminou, ainda mais, e logo depois encontrou seu local preferido para proliferação, ou seja, os locais fechados, ainda mais fechados “de qualquer jeito”.

Claro que o decreto logo foi alvo de uma ADI da procuradoria e o tribunal do Rio Grande do Sul derrubou a atrocidade, porém não antes de Pelotas amargar um sábado de ruas vazias e policiais andando com rifles pra lá e pra cá, como se a cidade estivesse sitiada. 

A erva daninha que motivou algo assim permanece enraizada não só em Pelotas mas no Brasil todo, de um modo geral, a o silêncio complacente dos grandes veículos de comunicação, ostensivamente aparelhados politicamente atestam isso. Feitos do governo federal, que é muito maior do que a figura histriônica de Jair Bolsonaro, tais como o acordo de transferência de tecnologia com a universidade de Oxford com potencial para salvar milhares de brasileiros e medidas provisórias que facilitam o início de uma depuração do sistema carrancudo e protecionista que impede a privatização de estatais que só geram corrupção e prejuízo, são conquistas também silenciadas pelos grandes veículos que só se interessam na deposição de Bolsonaro e na legitimação do larápio e bastião da vulgaridade petista, Luís Inácio da Silva.

As cenas vistas em Pelotas são tristes, principalmente para os pelotenses e também aqueles que, mesmo de fora, a exemplo deste humilde articulista, guardam um carinho sincero pela cidade.

A prefeitura fará novamente, não tenham dúvidas. A expectativa, no entanto, é que isso não se repita num fenômeno em cadeia em outros municípios pelo Brasil afora que agora na descentralização da gestão de crise brasileira nessa pandemia, se entendem muito "senhores de si" para proceder ao que bem quiserem. 

Havendo a necessidade de um decreto extremo como um lockdown, que seja feito com a organização devida, pois como dizem estudos que a mídia insiste em negligenciar, o lockdown aplicado de qualquer jeito tem matado muita gente pelo mundo. E que, por fim, o governo federal busque uma forma de tentar ajudar Pelotas, embora saibamos que a culpa da devolução de bilhões e bilhões de reais em recursos que seriam destinados à saúde, todos os anos no Brasil, é justamente desses gestores de araque que matam inocentes com a melhor das intenções.

Alguém da prefeitura pelotense se preocupou com os milhares de ambulantes que não conseguem se manter em lockdown? Certamente, não. Nos próximos dias, as cenas devem se repetir. Fiquemos atentos ao ensaio ditatorial.


(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google.

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