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UM JAIR TERRIVELMENTE MODERADO (Coluna Victor Dornas)


*Por Victor Dornas 
Uma das maiores dificuldades políticas do presidente Bolsonaro é conciliar seus atos para agradar tanto a chamada direita raivosa jacobina (pupilos de Olavo de Carvalho e cia), quanto os mais sofisticados supostamente de centro e também o povão. Imagine caro leitor, Bolsonaro nessas alturas da vida tendo que buscar conciliação, ele que sempre foi um deputado tão aguerrido e falastrão.

A política extrapola a análise do comportamento humano ao máximo.

O início do mandato de Bolsonaro foi mais voltado para os jacobinos. "Golden Shower", a saga Adelio Bispo, brigas com a China via Twitter, nomeação de “astronautas” para o MEC também (gente que vive no mundo da Lua), humilhação pública do falecido Bebianno. Logo após, Bolsonaro vestiu a carcaça mais moderada, que no Brasil significa a das aparências e colocou o Paulo Guedes pra se debater com o filho do Zé Diceu no congresso. Os jacobinos não entendem de economia, mas acabaram anuindo ao projeto e colocaram milhares de pessoas nas ruas. Quando se imaginou ver no Brasil multidões nas ruas pedindo corte de subsídio previdenciário? Pois é, uma baita conquista do atual governo.

Então o governo de Bolsonaro tem sido assim, semana vai, semana vem e ele incorpora um papel para agradar um determinado tipo de público e logo depois veste outra indumentária nesse jogo de malabarismo político. Alexandre de Moares parece ter ficado um tanto irritado com o sucesso político do presidente e resolveu abusar da máquina pública para forçá-lo a assumir um perfil só, aquele que mais interessa ao PSDB que quer o monopólio da “sofisticação”, ou seja o Jair jacobino. Alexandre deturpou o regimento para colocar a PF na casa do núcleo grosso dos jacobinos e nunca encontraram nada. 

O objetivo? Forçar uma cisão na base do governo. 

Assessores especiais como Filipe G. Martins foram às redes avisar os jacobinos que haveria retaliação, porém Bolsonaro acertadamente optou por recuar e deixar Alexandre se lascar sozinho. O resultado foi uma explosão de popularidade que a grande imprensa não quer aceitar. Bolsonaro venceu a disputa e os jacobinos permaneceram fiéis no rebanho.

Claro que nessa troca de posturas, muitos soldados são abatidos. Figuras famosas que apoiavam o governo passam a hostilizá-lo com mais ódio do que a própria esquerda. A figura do dissidente é como um cônjuge traído. 

A questão da desilusão é passional! Amor ferido, ódio fatal! Vamos ao caso da semana então.

Foi noticiado que a Globo teria se envolvido com doleiros que repassaram alguns bilhões de forma irregular à emissora nos anos 90, se somados todos os valores. É difícil fazer uma conta de adequação monetária de valor de moeda de décadas atrás, pois a nossa moeda está constantemente mudando de valor, contudo sabe-se que, caso a denúncia seja verdadeira, seria de qualquer modo uma quantia astronômica de dinheirama irregular.

Bolsonaro, terrivelmente moderado, entra em cena para fazer seu malabarismo. Ele usa o Twitter para agradar os jacobinos e faz afrontas à rede Gobo que, logicamente, responde. O jacobino pira! O mito lacrou! Nos bastidores, o Jair moderado costura uma aliança com o ressentido PSL, uma vez que é um tanto absurdo imaginar que um presidente sem partido consiga fazer qualquer coisa no congresso, vide a sina de Collor e tantos outros. 

Bolsonaro então usa um escândalo iminente contra a Globo para fazer seu jogo de cena. É um mestre do populismo que vem se mostrando além de casca dura, um camaleão nas crises.

A debandada do Ministério da Economia decorreu justamente do Jair moderado. Ao contrário dos jacobinos, aquela turma é técnica e não tolera quebra de palavra. Quando Bolsonaro, para agradar figuras arcaicas do congresso resolve falar em Bolsa Jair, medidas acíclicas, imposto sob transações, no estilo da CPMF, é óbvio que esse povo perde a linha. Não conseguiram privatizar quase nada pois entenderam como funciona a lei brasileira que protege os esquemas de corrupção e então largaram os pontos.

Paulo Guedes, como os jacobinos, até então vem demonstrando lealdade.

Guedes em várias oportunidades já elogiou outros populistas. Até mesmo o próprio Lula. Mesmo sendo um Chicago Boy, ele parece ter uma certa admiração pelos mestres do jogo político. Quer ver de perto como a brincadeira funciona, quer entender essa coisa que é um tanto nova para quem, até então, manteve-se focado no mercado financeiro. Guedes gosta de ver Bolsonaro atuando nesse malabarismo da “arte do possível”. Se sair, alegará problemas pessoais e não fará como Moro e Mandetta que deixaram o governo atirando no próprio líder.

Talvez pelo motivo de não ter ambições políticas. Talvez por gostar de Bolsonaro. Não importa, o fato é que Bolsonaro, o camaleão das crises, está incomodando o status quo. E foi mais ou menos por isso que foi eleito. É o pesadelo da Globo.




(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google.

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