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UM “MILAGRE” CHAMADO EMBRAPA (Coluna Victor Dornas)


Por Victor Dornas 

A despeito da crise mundial causada pela pandemia, a produção agrícola brasileira atualmente opera em pleno vapor, com expectativa de crescimento de 8 % nas novas safras, diz a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Eis a principal razão do Brasil, acostumado a suportar crises das mais diversas, prever uma recuperação mais otimista em relação a vários países que também foram severamente acometidos pelo vírus, mormente os nossos vizinhos.

Não seria nada forçoso considerar, ademais, que o setor agrícola, que incomoda tanto nossos concorrentes estrangeiros, se trata do arrimo que nos impede, num momento como este, de experimentar o caos generalizado. As exportações de soja, milho e outros, que anunciam números recordistas, vale frisar, nos propiciam alguma dignidade econômica, como já é sabido.

Tudo isso começa lá atrás, numa mudança de mentalidade que modernizou o setor público e impulsionou nossas empresas públicas a negociarem o princípio da indisponibilidade do escopo coletivista com a finalidade lucrativa. Nem todo investimento estatal deve dar lucro. Muitas áreas dependem de um subsídio por agregarem valores imensuráveis, contudo o fato de empresas públicas conviverem com a noção de lucro trouxe também a ideia de excelência.

Diferentemente de uma autarquia, ou uma fundação, na Embrapa, o gestor não navega em qualquer água por apadrinhamento político, justamente por envolver também a ideia de que o fracasso, de alguma maneira, dói no bolso. Então tudo que colhemos no Brasil de hoje em termos de prosperidade agrícola decorre de decisões acertadas do passado, no fomento à inovação, de gestores que se preocuparam de fato com as decisões que tomavam. Noutras palavras, essas pessoas acertaram no passado para salvarem vidas no futuro.

A gestão não funciona bem quando aquele que toma as decisões tem seus proventos garantidos. O risco faz parte dessa equação chamada de inovação e não deve, jamais, ser afastado como se fosse doença. A finalidade lucrativa, mesmo em empresas públicas, chama o gestor a conhecer a responsabilidade de seus atos, pois seus feitos serão expostos, isto é, devidamente publicados e naturalmente auditados pelos sucessos e fracassos constatados.

Um dos maiores problemas na ciência no Brasil é que universidade privada não faz pesquisa. Isso cria uma blindagem nas universidades federais, como se o modelo educacional que envolve o vultoso investimento de mais de 6 % do PIB e não gera retorno fosse incriticável. A ideologização não convive com a noção de lucro, de modo que o gestor, numa fundação pública, como uma universidade federal, por exemplo, não está nem aí para o fracasso das suas ideias pois não há um balanço claro de rendimento, como há numa empresa pública.

O gestor desse tipo de órgão público, além de comumente ser arrogante, não é auditado por ninguém, não conhece a noção de risco e, por isso, tem um problema de auto-imagem. No lugar de um asno, ele enxerga um alazão. Um alazão que nunca foi testado na pista de corrida, numa pesquisa de clientela por exemplo e que tem por hábito se aglomerar num corporativismo que adota a politização como meio de dificultar o acesso social ao balanço de rendimento daquilo que é gasto e dos resultados alcançados. O PT aparelhou todos esses locais.

O caminho viável para o Brasil: Já que o ideal não pode ser feito, ou seja, uma revisão severa no sistema de gastos educacionais que serve de cabide político e paraíso de ociosos, resta doravante aos congressistas liberais a labuta de criar novas formas de parcerias público-privadas envolvendo universidades particulares para que estas também passem a fazer pesquisas, a exemplo da tantas universidades renomadas do exterior que, embora sejam privadas, contam com o apoio estatal para suplantarem o lucro.

É muito mais racional esperar que um empresário aprenda a pesquisar do que um servidor público estatutário aprender o significado de lucro e risco atuando na administração indireta, como no caso das universidades federais. O problema, por óbvio, é que o governo mal tem verba para custear o status quo, numa legião de ociosos aposentados que sugam verdadeiras fortunas e não serão em nada afetados pela reforma do ano passado, que, sendo assim, fica difícil esperar algum ânimo para raciocinar novos modelos de educação e pesquisa no Brasil.

O corporativismo aqui venceu e ainda tem muita banha pra queimar.

A Embrapa, entretanto, é a realidade da pesquisa efetiva e pode ensinar gestores de todas as áreas públicas a se condicionarem a pelo menos fingirem que se importam com o prejuízo de seus projetos quando seu salário em nada será afetado por um eventual fracasso.

Muitos dos pesquisadores da Embrapa saíram das federais e tem orgulho disso. Querem de alguma forma retribuir o investimento estatal pois sabem do custo enorme que é o subsídio do ensino universitário integral. Podiam começar, então, com o básico, ou seja, ensinando para os gestores que atuam nesses locais o significado de prejuízo. E assim quem sabe eles passam a se importar menos com assuntos impertinentes ou em fazer militância para o PT e suas coligações paramilitares internacionais. O risco do fracasso é o chão de uma pessoa normal. 

Já a ausência de fracassos é a marca do maior dos imbecis.



(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google.

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