Deise Moisés, Presidente
do Conselho de Entidades de Promoção e Assistência Social (CEPAS)
Por causa da propagação de covid-19,
todos estão preocupados com a saúde. Mas há um outro problema: os conflitos e a
crise econômica que levam ao caos nas famílias de baixa renda. Qual foi o
impacto da pandemia na área social? A pandemia pegou o mundo e a saúde
desprevenidos. Ninguém pensou que passaríamos por tal situação. Os esforços
foram concentrados para se salvar vidas. Ao contrário do impacto da pandemia,
na saúde, o da área social já pode ser esperado desde o início do ano. Famílias
desempregadas, famílias de classe média precisando utilizar os serviços
públicos antes não utilizados, maior número de crianças em situação de trabalho
infantil, adolescentes, jovens e adultos sem oportunidade de emprego, situação
agravada pela pandemia. Com a suspensão das atividades escolares e as do
contra-turno escolar, as situações de vulnerabilidade se intensificaram,
crianças e adolescentes deixaram de ser protegidos pelas Instituições e pelo
Estado.
O foco do governo tem sido investimentos na saúde. Mas tem havido a necessária prioridade na área de assistência social? Os recursos são escassos, mas quando a pandemia chegou o governo teve que “inventar” recursos para equipar a saúde e evitar a dizimação da população brasileira. E o que vai fazer com a assistência social? Vai deixar que crianças e adolescentes tenham ainda mais seus direitos violados? A política de assistência social precisa ser vista pelo Governo como prioritária para tirar o DF e o País do caos que irá se instalar se os recursos para a assistência social não forem canalizados para o fortalecimento dos vínculos familiares e geração de renda.
O que podemos esperar na pós-pandemia? Ou
seja, com o empobrecimento da sociedade, desempregos e falta de
oportunidades? O cenário do pós-pandemia é desalentador. Famílias
desempregadas, adolescentes, jovens e adultos sem a perspectiva de emprego. Se
antes já era difícil, em um momento de empresas encerrando suas atividades fica
ainda pior. O Estado vai permitir que famílias fiquem dependentes de programas
sociais? Que o adolescente, o jovem e principalmente a mulher provedora do lar
continuem sem oportunidade de emprego? Vai esperar o caos chegar para ter que
tomar alguma medida? Com o desemprego e a falta de perspectiva de melhoria de
vida, as pessoas são compelidas para violência ou outros caminhos que muitas
das vezes não eram a que tomariam se tivessem apoio, orientação ou capacitação
para superar esse momento difícil.
Qual é o caminho para amenizar esses
problemas? Investir na política de assistência social em serviços de fortalecimento
de vínculos, geração de renda, empoderamento, principalmente, de adolescentes,
jovens e mulheres e no empreendedorismo de jovens e mulheres provedoras de seus
lares.
Como o GDF trata a política
assistencial? Diante do cenário que hoje vivenciamos, com o maior
número de crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, exploração
sexual, inúmeras famílias vivendo nas ruas, o GDF, por meio da Secretaria de
Desenvolvimento Social, possui um plano de contingência para atender a
população na pandemia e no pós-pandemia? Que tipo de serviço está sendo
contemplado no Plano de Contingência? As famílias que perderam seus empregos
podem ter esperança de que seus filhos serão protegidos pelo Estado e que as
mulheres poderão se capacitar para buscarem uma nova oportunidade? Que os
adolescentes e os jovens podem ter esperança de oportunidade de emprego seja
formal ou pelo empreendedorismo? Será que vamos ter que chegar no caos
para montarmos um hospital de Campanha ou ampliar o Autódromo para os usuários
da assistência social, ou vamos começar agora a investir para darmos cidadania
e dignidade para quem precisa. Vamos investir agora e com certeza teremos uma
sociedade mais digna e menos desigual no futuro.
Ana Maria Campos – Coluna “Eixo
Capital” – Correio Braziliense