Nos cinemas, como medida de
segurança, deverá haver a alternância de ocupação entre as fileiras
Ibaneis libera cinemas e teatros no DF. Decreto
será publicado hoje. O documento estabelece uma série de restrições para o
funcionamento desses setores, como venda de ingresso, exclusivamente, pela
internet. Medida altera, ainda, regras para academias, templos religiosos e
clubes recreativos
O
Executivo local publica, hoje, no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF), um
decreto que libera a retomada imedita de mais atividades presenciais. A norma
inclui cinemas, teatros e o uso de piscinas em clubes recreativos. Na noite de
ontem, o Correio teve acesso à versão preliminar do documento, que determina
uma série de medidas para o funcionamento desses estabelecimentos e modifica
algumas das regras em vigor.
Para ocorrerem, os encontros em teatros e cinemas
deverão obedecer a orientações, como disponibilização de produtos para
higienização das mãos e dos calçados na entrada; disposição alternada das
fileiras de cadeiras, sendo uma ocupada e outra vaga; venda de ingressos,
exclusivamente, on-line; limitação de até seis pessoas por grupo de espectadores;
e proibição da entrada e da permanência de pessoas sem máscara.
Para as piscinas, as diretrizes incluem o
funcionamento, apenas, para práticas desportivas e em ambiente aberto;
distanciamento mínimo de 2,5 metros entre cada atleta; ocupação de raias e
bordas de forma intercalada; limitação de até dois treinadores para
acompanhamento das equipes; e interrupção das atividades, ao menos, duas vezes
por dia para limpeza geral.
O documento altera dois decretos que tratam de
áreas liberadas. Em igrejas, templos e locais religiosos, não há mais a
obrigatoriedade de intervalos de, no mínimo, duas horas entre as celebrações
presenciais. Nos parques, ficam abertas as demais áreas de atividades
coletivas, exceto os pontos com equipamentos de musculação. O funcionamento
permanece entre as 6h e as 21h.
Nas academias, ficam liberados os bebedouros, as
aulas coletivas e a utilização de chuveiros. O uso obrigatório de máscaras de
proteção estendeu-se para funcionários e colaboradores, além de alunos e
professores. A minuta estabelece restrição do número de alunos nas áreas de
circulação e a ocupação máxima de uma pessoa a cada quatro metros quadrados da
área disponível para treino. O documento preliminar inclui, ainda, a
recomendação de não haver contato físico entre frequentadores e funcionários.
Contágio: Estimativas calculadas por pesquisadores que acompanham o avanço da
covid-19 indicam que a capacidade de o novo coronavírus se transmitir entre a
população do Distrito Federal diminuiu. O índice que analisa a possibilidade de
o micro-organismo se replicar ficou abaixo de um, a partir da segunda quinzena
de agosto, segundo boletim divulgado, ontem, pelo Observatório PrEpidemia. O
resultado indica que o pico da doença passou. No entanto, isso não significa que
seja o momento de baixar a guarda, pois as quantidades de mortes provocadas
pela doença e de pessoas infectadas continuarão a subir.
O observatório reúne pesquisadores da Universidade
de Brasília (UnB), além de instituições de ensino e laboratórios associados.
Para Paulo Angelo Resende, da Associação GigaCandanga, a queda no índice de
transmissibilidade ocorre às custas de mortes e sequelas. “Há estudos que
indicam a possibilidade de reinfecção, mas, o que temos observado é uma
imunidade após o primeiro contágio. Esses indivíduos recuperados dificultam a
continuidade da epidemia, pois ela depende de pessoas suscetíveis a serem
contaminadas. Se isso é bom por um lado, por outro, é desastroso, pois a
imunidade natural tem o custo das mortes, além das sequelas”, alerta Paulo
Angelo.
O cenário de transmissão é avaliado com base na
taxa R(t). Ter esse indicador igual a 1,00 durante a pandemia de covid-19
significa dizer que cada grupo de 100 infectados é capaz de transmitir o novo
coronavírus para outras 100 pessoas. Na última segunda-feira, por exemplo, o
valor calculado para o DF ficou em 0,98 — assim, estatisticamente, um conjunto
de 100 contaminados poderia infectar, em média, 98 indivíduos.
Em julho, quando José Donizete da Costa, 57 anos,
ficou doente, o DF enfrentava o pico da epidemia. Os incômodos no corpo foram
um sinal de que algo estava errado. Com o tempo, os sintomas evoluíram para
febre alta, dores de cabeça, diarreia e baixa oxigenação. “Decidi ir a um
hospital particular e pedir (para indicarem um) teste da covid-19. Estava
achando estranha a minha piora”, conta. Na unidade de saúde, o paciente
confirmou o esperado: “Testei positivo para o (novo) coronavírus. Quando
cheguei ao hospital, meu pulmão estava comprometido em 40%. Se demorasse, talvez,
teria uma piora e poderia até morrer”, acrescenta José Donizete.
O aposentado mora no Gama, uma das cinco regiões
administrativas com maior número de casos, no DF. Ele é um dos 148.980
recuperados na capital, com base nos dados monitorados pela Secretaria de
Saúde. Ontem, segundo o último boletim da pasta, o total de infectados chegou a
164.649. As mortes alcançaram 2.606 notificações, incluindo vítimas de Goiás e
de outros sete estados. Entre 29 de junho e ontem, a secretaria contabilizou 36
óbitos.
Além de tratar do pico de casos, a pesquisa do
Observatório PrEpidemia indicou a possibilidade de haver menos mortes por
semana, a partir dos próximos dias. No entanto, o total de óbitos acumulados
vai continuar a subir. Atualmente, os cálculos indicam que entre 22% e 50% dos
brasilienses tiveram contato com o novo coronavírus. A divergência entre o
possível número de 1,5 milhão de habitantes infectados — metade da população do
DF — e os 162 mil casos confirmados pela Secretaria de Saúde até 31 de agosto
deve-se à subnotificação da doença.
Professor da Escola Superior Ciências da Saúde
(Escs), José Roberto Bittencourt considera que o aumento da porcentagem de
pessoas imunizadas trata-se de uma situação “extremamente dramática e danosa”.
“No caso da vacina, as pessoas ganham imunidade, adquirem anticorpos, não ficam
doentes e não morrem. Mas, a perspectiva da vacina é só para o ano que vem. Até
lá, vamos sofrer muito. A tendência é de queda, como foi identificado pelo
observatório, mas há uma tendência lenta, com muito sofrimento, gente infectada
e pessoas morrendo até o fim do ano”, alerta José Roberto. “Não precisava ser
desse jeito. Se os governos tivessem coordenando ações de vigilância
epidemiológica, conseguiríamos conter a transmissão do vírus”, argumenta.
(*)
Jéssica Eufrásio – Thais Umbelino – Foto: Júnior Aragão – Correio Braziliense
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