test banner

Educação e um tempo que passou

Educação e um tempo que passou


*Por Circe Cunha e Mamfil 


Pouco antes de falecer, em 1997, o educador, antropólogo, escritor e sociólogo Darcy Ribeiro, fundador da Universidade de Brasília (UnB) e criador dos chamados Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs), chamou a atenção para um fato que, hoje, vamos comprovando com tristeza: “Se os governadores não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”. Ele, na condição de brasileiro que antevia na educação a única saída para o término do subdesenvolvimento crônico do país, havia percebido e experimentado, na pele, as dificuldades impostas pelas elites nacionais para que a educação ocupasse um lugar de destaque absoluto entre todas as necessidades internas.

Na terceira idade, chegou à conclusão derradeira de que “a crise da educação no Brasil não era uma crise, mas um projeto”. Um projeto, diga-se, com começo, meio, fim e finalidades objetivas, quais sejam, a perpetuação do ciclo de dependência e subserviência da população aos donos do poder, tal como existia no Brasil da era colonial.


Não é por outro motivo que a educação pública, mormente o montante de recursos para ela destinado, segue aos tropeços, como bem confirma todo e quaisquer certames de exames e testes, tanto no país quanto em avaliações internacionais, em que o Brasil fica, invariavelmente, na lanterna de popa, com pontuações medíocres e que parece envergonhar apenas os brasileiros de bem.


Também não é por outra razão que ostentamos a quantia de quase um milhão de presos, fossem computados os encarcerados e cumpridos todos os mandatos de prisão em aberto. Por certo, esse número ultrapassaria essa marca, fossem colocados atrás das grades a miríade de políticos, empresários e outros membros da elite nacional apanhados, pela Justiça, em atos de corrupção .


As predições de Darcy Ribeiro sobre o descaso com a educação pública de qualidade podem muito bem ser sentidas por ocasião das rebeliões de presos, que obrigaram boa parte da população brasileira a ficar trancada em casa, com medo do que poderia acontecer.


Hoje, com as escolas fechadas e com parte dos presídios controlados pelas facções do crime organizado, o retrato do Brasil, diante do mundo civilizado, pode muito bem compor um cartaz publicitário para incentivar o turismo com os seguintes dizeres: “Bem-vindos à selva”. E pensar que tivemos educadores do quilate de Anísio Teixeira, (1900-1971), criador das escolas parques, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e da Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior (Capes). Ao lado de Darcy Ribeiro, foi também um dos fundadores da Universidade de Brasília (UnB).


Além desses educadores de ponta e que poderiam verdadeiramente construir um país desenvolvido, tivemos, ainda, Paulo Freire (1921-1997), que conhecia a importância e o valor do conhecimento popular, integrado à pedagogia e é detentor de 27 títulos de doutor Honoris Causa pelas mais importantes universidades do planeta. Graças a ele é que foi implantado o Estatuto do Magistério


Ao lado desses educadores, destacam-se, ainda, Maria Nilde Madscellani (1931-1999); Florestan Fernandes (1920-1995); Miguel Arroyo; Jaqueline Moll e muitos outros que orgulham todos aqueles que entendem o verdadeiro papel da educação para a formação de uma nação soberana.


Essas lembranças vêm, a propósito, da recente entrevista do atual ministro da Educação ao jornal Estado de S. Paulo e cujo nome nem vale a pena ser citado, tal a coleção de platitudes e sandices que desfilou em sua fala e que demonstra, de maneira patética, o quão distante ainda estamos, em pleno século 21, do ideário dos educadores aqui mencionados e que enxergavam um Brasil que tinha tudo para dar certo lá nos idos do século passado.


****

A frase que foi pronunciada: “Duas coisas não podem ser violentadas: a história e a geografia. A história, que é a alma de um país; e a geografia, que é o seu corpo.” (
José Sarney
, ex-presidente do Brasil.)



Novidade » Em breve, carros que prestam serviços de transporte, como os Uber, terão que ter um dispositivo para gravação do ambiente no interior do automóvel. Trata-se de uma alternativa de segurança tanto para o motorista quanto para o passageiro.

Passeio » Brasília em Linhas, exposição do artista gráfico holandês M. C. Escher (1889-1972), no Espaço Niemeyer. Em função dos protocolos de segurança, a visitação está restrita a 20 pessoas por vez no salão, de segunda a sexta, das 10h às 16h.

 (*) Circe Cunha e Mamfil  - Coluna “Visto, lidon e ouvido” – Ari Cunha -  Fotos: tecnoblog.net – Blog/Google – Correio Braziliense

 

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem