Por Victor Dornas
O Conselho Nacional do
Ministério Público resolveu aplicar a pena de censura ao procurador Deltan
Dallagnol. Trata-se da repreensão mais severa que o código de ética pode
adequar a um procurador e os efeitos são entraves na progressão de carreira do
mesmo. A pedido de Renan Calheiros, o conselho entendeu que Deltan falou demais
nas redes e, com isso, influenciou a eleição da presidência do Senado no ano
passado. Deltan disse que Calheiros, derrotado por Alcolumbre na disputa do referido
cargo, uma vez eleito dificultaria a pauta anticorrupção.
Vejamos então de onde
vem a opinião de Deltan: Calheiros foi
denunciado no Supremo, em razão de prerrogativa de foro, em 2016, como réu em
ação penal por crime de peculato envolvendo propina de lobista. Um ano antes,
já na Operação Lava Jato, o falecido ministro Teori Zavascki autorizou a quebra
de sigilo de Renan após o caso envolvendo licitações. No mesmo ano, Paulo
Roberto Costa delatou que Renan estaria no esquema da Petrobrás, junto de
outros nomes. Renan na verdade era citado em inúmeras delações envolvendo
Odebrecht e por isso teve sua prisão pedida pelo PGR.
Então Deltan vai às
redes dizer que está receoso da hipótese de eleição de Renan para a presidência
do Senado, ou seja, disse uma obviedade para qualquer bípede com mais de dois
neurônios e, por isso, recebeu a dura repreensão do conselho.
Alguém poderia dizer
que não cabe na liturgia do parquet ficar dando pitaco em redes sociais. O
problema é a falta de simetria, uma vez que estamos num cenário onde minsitros
do Supremo anunciam posições em “lives” com celebridades e adjetivam o
presidente de genocida. Disso não há nenhum conselho para deliberar a respeito,
uma vez que o conselho maior da nação é o próprio Supremo.
Ou seja, num
contexto onde tudo quanto é figura pública, juízes, promotores, procuradores,
congressistas e presidentes opinam em redes sociais resolveram, por algum
motivo bastante politizado, enquadrar apenas o Deltan.
A verdade é que, no
Brasil, sempre que criam um conselho de qualquer coisa, a chance de dar errado
é grande justamente por aquilo que acusam Deltan unicamente de fazer, ou seja,
politizar. Qual a razão para um conselho nacional de magistratura tão manso em
relação à uma suprema corte formada por advogados de políticos? Politização.
Qual a razão para o presidente da Ordem dos Advogados entrar em embates diretos
com o presidente de república? Politização. A danada está em tudo que corrompe
a essência daquilo que é bom.
O ministério público, como todo o resto, está inundado de militantes políticos.
E sempre que algum
deles se posiciona sobre qualquer coisa e disso resulta um problema que
interessa à grande mídia, a notícia é que o Ministério Público fez isso ou
aquilo, e não aquele promotor e suas convicções isoladas. Já um conselho do
órgão colocando mordaça em procurador por dizer o óbvio é exemplo de ostensiva
aparelhagem política da pior natureza.
Não se sabe até quando
no Brasil teremos este privilégio de dizer as coisas.
A mídia endossa a tese
de que é Bolsonro quem mais complica os direitos civis enaltecendo os malfeitos
de ditadura num revisionismo boçal, contudo é ele próprio Bolsonaro que em cada
mísera postagem em redes sociais recebe centenas ou até milhares de ameaças de
morte de perfis anônimos por semana sem qualquer repercussão ou represália
adequada.
Ao contrário, acham até
bonitinho quando um articulista da Folha diz que Bolsonaro morto seria melhor
ao país. Que qualquer medida que o presidente tome em relação a isso é censura.
Que incitação clara não apenas ao ódio mas à insurgência de novos Adélios é só
uma ironia boba, afinal de contas não é a mãe deles que está lá como alvo de
algum pilantra predisposto.
Quem incomoda,
entretanto, é o Deltan. Por dizer que Renan
Calheiros não apoiar ia a pauta anticorrupção.
Um dos efeitos
imediatos desse tipo de insurgência
desvairada de uma mídia politizada é uma irritação popular ascendente, ou seja,
quem mais cresce neste surto de insanidade midiática é o próprio Bolsonaro, que
tende a ser o único que novamente dirá o óbvio em 2022. Quem apareçam outros
que digam o óbvio para que tenhamos ao menos o debate.
(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google.
(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google.