Gabriela Rollemberg Advogada "Mulheres tendem a adotar um
estilo mais democrático, empático e participativo, a ter melhor habilidade de
comunicação, a dialogar mais com a população"
Você tem trabalhado em movimentos para aumentar a
participação das mulheres na política. Acredita que tem havido avanços? Sim, temos tido avanços, em especial nos últimos anos, com as
decisões do STF e TSE sobre a destinação de percentual mínimo de recursos do
Fundo Partidário e Fundo Eleitoral para candidaturas femininas. O incremento no
investimento em campanhas femininas impactou significativamente no número de
mulheres eleitas. Mas ainda há desvios desses recursos, candidaturas laranjas,
e uma falta de compreensão dos partidos políticos quanto à importância dessa
pauta, o que ainda dificulta para que tenhamos avanços ainda maiores.
Numa sociedade como a
brasileira em que o machismo e a misoginia parecem estar se fortalecendo, fica
difícil acreditar na ampliação da participação feminina na política? Na verdade, é certo
que há um cenário muito desfavorável, em especial nesse momento de pandemia,
com uma sobrecarga ainda maior para a mulher nas tarefas domésticas e criação
de filhos, aumento da violência contra a mulher, dentre outras questões
desafiadoras, em especial para quem decide ser candidata. No entanto, há um
grande despertar das mulheres pelo mundo, que tem resultado em inúmeros
movimentos, coletivos, institutos, campanhas que têm trabalhado para fortalecer
as candidatas e sensibilizar o eleitorado para essa temática. Posso citar como
exemplo a iniciativa que fundamos, que é a Quero Você Eleita, uma jornada de
consultoria coletiva que tem como propósito converter candidaturas femininas em
mandatos.
Em que as mulheres são mais
ativas e competentes do que os homens quando se trata de vida pública? As mulheres têm um
jeito particular de exercer a liderança, o qual tem especial relevância no
momento atual, considerando o cenário de crise sanitária, política e econômica.
Basta analisar como países liderados por mulheres têm se destacado no combate à
pandemia. Há exemplos maravilhosos, tais como Angela Merkel na Alemanha,
Jacinda Arden na Nova Zelândia, Tsai Ing-wen em Taiwan, Katrín Jakobsdóttir na
Islândia, etc. Mulheres tendem a adotar um estilo mais democrático, empático e
participativo, a ter melhor habilidade de comunicação, a dialogar mais com a
população. Além disso, priorizam o aconselhamento por especialistas e
cientistas.
No governo do seu pai,
Rodrigo Rollemberg, havia mulheres em posições estratégicas, como a secretária
Leany Lemos, no comando do orçamento e gestão. Você incentivava essa postura? Certamente. Além da
Leany Lemos, que foi uma gestora incrível que vem se destacando nacionalmente,
ainda havia muitas outras mulheres admiráveis que se destacaram no governo.
Apenas para dar alguns exemplos, posso citar Paola Ayres na Procuradoria-Geral
do DF, Heliana Kátia Campos como presidente do SLU, Bruna Pinheiro como
presidente da Agefis, Márcia Alencar na Secretaria de Segurança Pública, Leila
Barros na Secretaria de Esporte, deputada distrital Luzia de Paula, dentre
várias outras. Meu pai sempre elogiava a atuação e dedicação das mulheres do
seu governo. Tenho certeza de que foram fundamentais para entregas relevantes
em benefício da população do Distrito Federal.
Acredita que sua mãe, Márcia
Rollemberg, ainda vai ingressar na política? Não acredito que
esteja nos planos dela, mas não tenho dúvidas de que ela faria um excelente
trabalho.
E você? Acredito que somos
seres políticos por natureza, e há muitas formas de fazer política. Tenho sido
uma ativista voluntária pela participação feminina na política, pelos direitos
das mulheres, e feito a minha parte enquanto sociedade civil. Tenho atuado
institucionalmente a partir da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e
Político (Abradep), pela associação Elas Pedem Vista, e fundamos recentemente a
Quero Você Eleita, para deixar de forma mais efetiva a nossa contribuição para
acelerar a mudança que queremos ver no mundo com mais mulheres em cargos de
poder.
Pode dar um exemplo de
competência feminina na política?
Tenho a honra de
conviver com grandes exemplos de competência feminina na política, e aproveito
para mencionar algumas das mulheres que convidamos para entrevistas na Quero
Você Eleita, que se destacam como lideranças importantes no cenário político, e
nos inspiram pela sua trajetória de vida. A deputada federal Margarete Coelho,
que foi a primeira vice-governadora do Piauí, grande estudiosa e militante da
participação feminina na política; a deputada Soraya Santos, que é a primeira
mulher a ocupar o cargo de primeira-secretária da Câmara dos Deputados, e que
tem um papel fundamental no fortalecimento da Bancada Feminina; a primeira
vice-governadora do Espírito Santo Jaqueline Moraes, negra e que trabalhava como
camelô antes de ingressar na política; a deputada federal Perpétua Almeida, que
veio do seringal, e se destacou na Presidência da Comissão de Relações
Exteriores e Defesa Nacional; a deputada Luísa Canziani que, apesar de ser a
mais jovem parlamentar do Congresso Nacional, já foi premiadíssima pelo seu
desempenho nesse primeiro mandato. Há vários outros exemplos a ser citados, e o
que precisamos é, realmente, dar destaque ao trabalho que vem sendo
desenvolvido pelas mulheres de uma forma geral, entendendo que uma maior
representatividade de mulheres em espaços de poder contribui diretamente para a
construção de políticas públicas de qualidade, com impacto direto no Índice de
Desenvolvimento Humano e no Produto Interno Bruto do país.
Ana Maria Campos – Coluna “Eixo
Capital” – Correio Braziliense