Por Victor Dornas
Muitos consideraram a fala de ontem (01/10) do presidente Bolsonaro como seu
pior momento como chefe de estado. E olhe que em termos de “golden showers” e
“resfriadinhos”, esses momentos indefensáveis não foram poucos. Ocorre que o
pior momento deste governo na verdade se deu bem longe das câmeras,
precisamente há dois dias, quando o cunhado do Silvo Santos intermediou um
jantarzinho com Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Davi Alcolumbre e Jair
Bolsonaro.
Não se sabe ao certo de Bolsonaro realmente pisou lá, pois a Globo disse ter sido por conferência, já outros veículos apontam que ele foi pessoalmente. Sendo tudo isso muito sigiloso, a palhaçada em questão ocasionou na indicação de Kassio Nunes ao Supremo. Kassio Nunes é uma pessoa indecorosa? É um monstro? Alguém digno de linchamento? Evidentemente, não.
Liberar lagostas e champagne cristal para os advogados supremos da nação (que ganham muito mais que as cortes superiores europeias, nossa inspiração para a hermenêutica jurídica germânica, vale frisar), ou abrigar um sociopata como Cesare Battisti, ou votar a favor da protelação interminável de sentenças criminais, tudo isso vale, no máximo, uma crítica mais contundente, já que é o padrão brasileiro, por assim dizer.
A esquerda, principalmente o PT e os advogados dos grandes escritórios que defendem bandidos caçados pela lava jato festejaram sem pudor. Perfis de advogados conhecidos se manifestaram muito contentes. A OAB também está em festa. O Congresso? Adorou. O STF? Nem acreditaram e já separaram um lugarzinho no Oliver para o novo amigo que ficará lá no panteão mais ou menos umas três décadas, se depender do deus postiço do Bolsonaro.
Mas péra aí! Esse aí não seria o cara que romperia com o sistema? O sujeito que se aposentou aos trinta anos e acumulou um salário de mais de 100 mil reais sentando a bunda no Legislativo como uma espécie de sindicalista de policiais? O liberal que nunca administrou uma quitanda? Era esse o homenzarrão que peitaria a alta corte? E agora faz elogios diários ao STF em sua conta pessoal, posta fotografias abraçado com figuras do centrão?
Bolsonaro tem o direito de governar para todos se fosse de sua índole ter um
sujeito bastante maleável. Acaso tivesse como histórico de labuta legislativa a
conciliação, daria para entender o fato dele indicar um petista para a
procuradoria geral, outro para o ministério da justiça e agora mais um para o
Supremo, afinal todos sabem que Nunes chegou ao TRF com empurrãozinho da Dilma
e sua esposa era assessora do PT por intermédio de Wellington Dias, seu amigo
pessoal muito querido, conforme atestam fotografias e depoimentos. Ocorre
que não é isso que está ocorrendo.
Explico.
Não é uma indicação conciliatória e sim uma venda de toga ao centrão com
duas contrapartidas. Bolsonaro faz sua parte e tem como pagamento duas coisas.
Primeiro um apoio mais substancial para um programa eleitoreiro nos moldes
lulistas de subsídio a populações carentes. Como o Exército conseguiu mapear
como nunca antes na história desse país os dados de populações carentes,
conforme explanado nesta coluna há dias, o presidente poderia colocar em
prática uma política assistencialista moderna, diferente daquela que Lula fez
como curral eleitoral. Ele tinha a faca e o queijo na mão, porém para tanto,
não é preciso a ajuda de Ciro Nogueira e companhia, não é verdade?
Os esquemas do toma lá da cá tem como norte primordial a manutenção de cargos políticos e não políticas efetivas que muitas vezes não coadunam com as bravatas populistas por exigirem, também, medidas impopulares. No pronunciamento, Bolsonaro defendeu o lagosteiro, fez chacota de seu próprio eleitorado e mostrou, para quem ainda não tinha visto, que a arrogância já impregnou a sua face.
Mas não se engane, nobre leitor, tudo isso teve um mecanismo planejado com números. Bolsonaro sabe que em seu eleitorado cativo letrado existe uma parcela considerável de mulas dispostas ao que chamo de leniência incondicional. Ele romperá de certo com a ala mais instruída do astrólogo Olavo de Carvalho e seus generais virtuais, porém muitos ainda continuarão com ele, principalmente aqueles que ascenderam no jornalismo junto com o Bolsonarismo. Esses aí fedem a esterco e jamais deixarão de apoiar seu feitor e merendeiro. Tem muita grana nisso tudo.
Bolsonaro fez um cálculo político sobre o quanto vale um Lula que
nunca votou. Ele não votou com o PT durante vinte anos por acaso. Ali, nosso presidente
fez faculdade.
O problema não é escolher um ministro que é totalmente contrário ao seu projeto de governo, ou melhor, ao dito projeto que agora se mostra como ele realmente é. O problema é não escolher, isto é, vender uma toga tão importante por interesses pessoais. É disso que se trata. O presidente quer defender os "seus". E só.
(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho
Dornas ,fotos ilustração: Blog-Google.