União Química planeja vender vacina russa por até
US$ 5 em toda América Latina. Em entrevista ao Metrópoles, presidente da
farmacêutica, Fernando de Castro Marques, deu detalhes sobre acordo para
produção da Sputnik V
O acordo fechado pela farmacêutica brasileira União
Química com o governo da Rússia prevê que o Brasil seja o centro produtor da
vacina Sputnik V para toda a América Latina. A expectativa é que a imunização
contra Covid-19 esteja pronta para ser comercializada até março de 2021 e que
as doses custem cerca de US$ 5 (cerca de R$ 28,5) cada aos governos dos países
que, em situações assim, assumem os gastos da vacinação em grande escala para a
população. As informações foram repassadas em entrevista exclusiva ao
Metrópoles, pelo presidente da empresa, Fernando de Castro Marques.
A União Química tem nove fábricas no Brasil e uma nos
Estados Unidos. A unidade Btheck Biotecnologia, localizada no Polo JK, em Santa
Maria, é a única fábrica brasileira capaz de produzir biofármacos – remédios de
última geração obtidos a partir de micro-organismos ou células modificadas
geneticamente. “Outras plantas cuidarão do fracionamento e envase da vacina,
mas a fórmula dos imunizantes será fabricada aqui no Distrito Federal”,
informou Fernando.
Inaugurado em 2017 com investimento de US$ 30 milhões,
o laboratório brasiliense possui os equipamentos adequados para a produção da
vacina desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, de Moscou. O centro de
distribuição será a fábrica de Guarulhos, em São Paulo.
A relação da União Química com a Rússia é anterior à
Covid-19, a farmacêutica brasileira já mantinha conversações com o país sobre
negócios na área de biotecnologia antes do início da pandemia. Quando a Sputnik
V foi apresentada ao mundo, os laços estavam suficientemente fortes para que o
empresário fosse o escolhido pelo Fundo de Riqueza Soberana da Federação Russa
(RDFI) para tocar o projeto da vacina russa na América Latina.
O imunizante da Rússia virou notícia mundial em 11 de agosto quando o presidente do país, Vladimir Putin, anunciou que havia registrado a primeira vacina contra a Covid-19 do mundo. Recebida com desconfiança – o registro não foi acompanhado de detalhes sobre as pesquisas realizadas para o desenvolvimento do fármaco -, a fórmula vem ganhando espaço e credibilidade conforme a Rússia aumenta a transparência dos dados e o RDIF encontra parceiros para a iniciativa.
Na terça-feira (27/10), quando recebeu o Metrópoles,
Fernando Marques se preparava para uma série de compromissos, ao lado do
ex-governador do DF, Rogério Rosso, que hoje trabalha como diretor de negócios
internacionais da União Química. Entre as tarefas planejadas para o resto da
semana, está o pedido de registro da vacina russa na Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa). (Vídeo: Entrevista
Por que o DF foi escolhido como planta para a produção
da vacina? Qual a capacidade produtiva? A nossa companhia é a principal do país
em biotecnologia. A fábrica do DF é muito moderna e tem os equipamentos adequados
para a produção da vacina. Foi uma fábrica construída pela General Eletrics
(G&E), com investimento de US$ 30 milhões. Uma vez a vacina sendo liberada
(pela Anvisa e por governos de outros países), vamos poder dimensionar isso
melhor, bem como falar sobre novos investimentos.
Quanto vai custar a vacina? Quando o senhor imagina
que ela estará disponível para a população? O preço será bastante acessível.
Estamos imaginando que vai custar abaixo de US$ 5, por volta de US$ 3. Queremos
ter uma margem de lucro normal, não explorar a situação trágica causada pela
Covid-19. Vamos fechar o cronograma certo agora na segunda quinzena de
novembro, quando os técnicos russos virão à Brasília ver a fábrica e organizar
como será a produção. Acredito que no primeiro trimestre de 2021, a Sputnik V
produzida no Brasil já estará disponível para a comercialização.
E se a vacina não funcionar? A vacina já está
funcionando. É uma vacina que está na fase 3, que já foi aplicada na Rússia em
40 mil pessoas. Nesta semana, entraremos com o pedido de registro da vacina,
com documentação robusta. Se a Anvisa exigir que se faça novamente a fase 3 da
vacina aqui, faremos. Já temos isso alinhando (os testes), inclusive, com os
estados
Por Érica Montenegro – Fotos: Igo Estrela – Gustavo Moreno - Metrópoles