Museu da República
O Museu da República constitui um
caso desconcertante. É uma das obras menos inspiradas de Oscar Niemeyer. Ganhou
os apelidos de cuzcuz e de iglu. É um bloco de concreto maciço cercado de
aridez por todos os lados. Perdeu completamente a contiguidade, a leveza, a
transparência e o arejamento de outras criações do arquiteto. Niemeyer não
concedeu um mínimo jardim para amenizar o ambiente.
Além disso, sempre sofreu com a
precariedade da estrutura e das condições de trabalho. A Biblioteca Nacional
nunca teve um acervo digno e, muitos anos depois, continua a funcionar da
maneira mais insuficiente e improvisada. Inventaram uma biblioteca sem acesso a
livros.
Por tudo isso, confesso que
considerei que o Museu da República seria um fracasso espetacular. Mas, contra
todos os prognósticos, aquele território foi abraçado pelos brasilienses e se
tornou um dos espaços mais importantes da cultura na cidade. Ele tem muitos
aspectos favoráveis desconsiderados.
É um ponto de passagem
privilegiado da Rodoviária para a Esplanada dos Ministérios. As exposições são
vistas por um público amplo, que, necessariamente, não se interessa por arte. É
precioso para explorar as relações entre arte e educação. A exposição Atos —
Teatro e dança, com fotos de Mila Petrillo, foi vista por 15 mil visitantes.
Os jovens se apropriaram do espaço
para transformá-lo em palco das batalhas de poesia improvisada e em pista para
manobras de skate. O Museu da República é o mais democrático espaço da cultura
na cidade. É um território, eminentemente, público. É lá que rolam os shows
gratuitos, você curte apenas porque é um cidadão, sente uma relação de
pertencimento a Brasília.
No Museu, se consolidou uma
linguagem singularmente brasiliense, na interação com a arquitetura, por meio
da projeção de slides na cúpula do prédio, durante os shows musicais. E,
enquanto isso, é maravilhoso mirar as noites brasilianas, cravejadas de estrelas.
A pendenga em torno do salário do
diretor do Museu é um retrato do descaso com aquele importante espaço da
cultura. Ela atravessa vários governos. Oferecem o salário de R$ 4.685 para um
cargo de tamanha responsabilidade. É o que ganhavam os ex-diretores Charles
Cosac e Wagner Barja. Para aceitar, o candidato precisa ter alguma vocação para
herói ou filantropo.
Claro que, se quiserem, o governo
e a Câmara Legislativa resolvem essa pendenga simples. Mesmo sem estrutura, o
Museu da República foi apropriado pelos brasilienses como um dos espaços
públicos mais importantes para a cultura da cidade.
Desmente a imagem negativa e
distorcida que o restante do país tem sobre Brasília. Ele merece um tratamento
à altura da sua relevância. Como dizia o embaixador Wladimir Murtinho:
“Brasília não pode ser passiva e apenas receber cultura. Capital tem de
irradiar”.