Banquinha da Conceição - (“Não tenho medo de nada. Temos de ensinar o medo a ter medo de nós” (Elza Soares, cantora)
*Por Samanta Sallum
“Luta e afeto.” Assim, a
jornalista Conceição Freitas define empreendedorismo. Depois de muitos anos em
redações de jornais, que lhe trouxeram prêmios importantes, ela apostou numa
nova forma de vida e trabalho. Sentiu vontade de resgatar, quase que romanticamente,
um comércio em especial: a banca de jornais da 308 Sul. Há 5 anos, comprou o
espaço, que ficou conhecido na cidade como a Banquinha da Conceição.
“Para mim, é um mix de luta e
afeto. Tudo numa coisa só. Já aceitei que dinheiro não me traz felicidade,
embora seja imprescindível para assegurar a dignidade. A banquinha rende afeto
que me fortalece para eu ganhar o da sobrevivência”, diz.
Ela transformou o local num ponto
de encontro, onde se pode tomar um café, comprar um livro, suvenires de Brasília,
saborear um sorvete, encontrar publicações especiais sobre a história da
capital. Um ponto de encontro lúdico e cultural de velhos amigos e de novos que
fez no dia a dia na quadra. Promoveu pequenas apresentações musicais,
lançamentos de livros e rodas de conversa.
“Empreender pode ser a solução das
mulheres ao desemprego, para estar mais perto dos filhos, para poder sair de
relações abusivas, conquistando o próprio sustento; ou representar a simples
realização de um sonho. De qualquer forma, é muito importante que elas tenham
apoio do Estado para isso”, aponta a advogada especialista-sênior em gênero do
Banco Mundial, Paula Tavares.
Ter a chance de tocar o próprio
negócio é algo que pode fazer grande diferença na vida das mulheres.
Confeitaria, agronegócio, supermercados, postos de combustíveis e até oficina
mecânica. Elas estão à frente das mais variadas empresas. São 120 mil no DF,
segundo o Sebrae.
Passou por alguns momentos
difíceis. Pensou em fechar a banquinha, que chegou a sofrer um ato de
vandalismo com suspeita de coação por posicionamentos políticos e sociais da
jornalista. Mas o amor prevaleceu. Ela resistiu. E, depois do fechamento
forçado por meses, devido à pandemia, a banquinha reabriu cheia de
frescor, esperança e resistência.
“É um aprendizado diário, com
muita luta e muito olhar torto e racista. Não há hoje no Brasil movimento mais
importante que o antirracista. Só curando essa ferida, o Brasil pode se tornar
verdadeiramente uma nação.”
Engajamento no direito: A advogada Ilka Teodoro é um marco no empreendedorismo feminino no DF ao abrir o primeiro escritório de advocacia na capital dedicado exclusivamente às causas de gênero. Também é engajada na luta contra a discriminação racial e que a mulher sofre.
“Mulheres negras sempre
empreenderam. Por necessidade e por oportunidade. Parabenizo todas as
empreendedoras que, por meio de seus negócios, impulsionam a dinâmica econômica
do país”, diz.
Ilka chegou a entrar para política
numa forma de conseguir mais participação feminina numa esfera ainda tão
masculina. Foi candidata a deputada distrital e, há 2 anos, escolhida pelo
governador Ibaneis Rocha para ser administradora regional do Plano Piloto, onde
abre espaço para mulheres negras e em situação de vulnerabilidade social.
“Importante para nossa história
exaltar a ancestralidade negra e reforçar a luta por igual oportunidade na
sociedade brasileira”, afirma Ilka.
Pela beleza negra: Adriana Ribeiro é outro exemplo do espírito
empreendedor feminino. A empresa dela transborda beleza. Reafirma a identidade
negra, quebrando os estereótipos que obrigam a mulher de forma geral, e mais
ainda as negras, a se encaixar. Virou referência nacional como empresária e
consultora de imagem. A Afro&Cia Ponto Chic é uma marca forte nas redes
sociais e chama a atenção de mulheres de todo o Brasil. O espaço, de 200m² e 25
funcionários, fica no Riacho Fundo e atrai clientes de todas as regiões do DF,
de estados e até de fora do país, como diplomatas. “De juíza a doméstica, eu
atendo no Ponto Chic. A maior parte é negra. Mas também recebo mulheres
brancas. O que todas querem é valorizar a beleza natural. Eu as ajudo, na minha
consultoria, a enxergar a própria beleza e, assim, não sentirem necessidade de
se encaixar em velhos padrões”, diz Adriana.
(*) Samanta Sallum – “Coluna Capital S/A” – Fotos: Rejane Agra – Zuleika Souza – Renato Alves – Minervino Júnior – Correio Braziliense