Escola Parque das artes
*Por Irlam
Rocha Lima
As salas
Villa-Lobos e Martins Penna do Teatro Nacional (fechadas há seis anos), o
auditório do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, a Sala Cássia Eller do
Complexo Cultural da Funarte e o Espaço Cultural do Choro, ou mesmo o Ginásio
Nilson Nelson, são os locais que vêm à mente do brasiliense quando o assunto é
palco para espetáculos. Certamente há quem vai se lembrar do Teatro da Escola
Parque que entre as décadas de 1960 e 1980 recebeu shows memoráveis, peças
consagradas e filmes clássicos.
Patrimônio
Imaterial de Brasília, a Escola Parque, o primeiro centro de ensino da nova
capital, concebida pelo inesquecível educador Anísio Teixeira, que na última
sexta-feira comemorou 60 anos de existência, a EP tem um teatro como algo a
mais. Localizada na Entrequadra 307/308 Sul, em outros tempos tinha como
vizinhos, de um lado o Cine Cultura e, do outro, os teatros Galpão e
Galpãozinho. Mesmo sem ser, exatamente, uma sala de exibição, foi lá que
cinéfilos sessentistas assistiram obras de celebrados diretores italianos: Blow
Up, de Michelangelo Antonioni; e Teorema, de Pier Paolo Pasolini.
Nos anos 1970,
aquele teatro teve plateias superlotadas, ávida para apreciar peças
protagonizadas por nomes exponenciais da dramaturgia brasileira, como Cacilda
Becker, em Esperando Godot, de Samuel Becket; e Paulo Autran, em A morte do
caixeiro viajante, de Arthur Miller. Ali cumpriu concorrida temporada de duas
semanas, o grupo Asdrubal Trouxe o Trombone que encenou Trate-me leão, montagem
pop e inovadora — para os padrões da época — com uma linguagem fragmentada de
letras de música, poesia e cartas. Sob a direção de Hamilton Vaz Pereira, a
trupe contava com artistas em início de carreira, entre eles Regina Casé,
Evandro Mesquita e Luiz Fernando Guimarães.
Intérpretes de
gêneros variados da MPB passaram pelo palco do Teatro da Escola Parque, também
naquela década. Da memória afetiva de muita gente deve fazer parte, por
exemplo, shows como Berra boi (Quinteto Violado), Miudinho (Paulinho da Viola),
o antológico Índia, de Gal Costa e o que reuniu Clementina de Jesus e João
Bosco, pelo Projeto Pixinguinha. Chamou atenção também o concerto — que beirou
uma catarse — de Hermeto Pascoal. Ao final, Bruxo do Som deixou o palco,
continuou tocando e arrastou as pessoas até a Praça 21 de abril, onde a festa
teve continuidade.
Primeira banda
pop da cidade, o Mel da Terra, ao abrir um show de Lulu Santos, em 1982,
provocou ciúme no popstar carioca, por ser mais aplaudido do que ele. Já no ano
seguinte, o teatro viveu uma vibrante noite de rock, ao acolher em seu palco o
primeiro grande concerto da Legião Urbana, antes do lançamento do primeiro
disco e, obviamente, anterior à fama e ao sucesso. Os seguidores de Renato
Russo e companhia fizeram coro para várias músicas — algumas delas compostas
para o seminal Aborto Elétrico.