test banner

JK e a meia do Mascate

JK e a meia do mascate: Uma saga que começou com Nadi Abdel, em 1959. Fugindo dos conflitos na Palestina e à procura de um lugar onde pudesse prosperar, desembarcou no Porto de Santos. Uma viagem de navio que durou mais de um mês. Ao chegar, logo “embarcou” em outra aventura. Soube que a nova capital do Brasil estava sendo construída e logo tomou o rumo do Planalto Central.

 

Aos 19 anos, virou mascate: vendia camisas, lençol, tolhas e outros artigos em meio ao grande canteiro de obras que era Brasília. Morou na Cidade Livre. E um episódio marcou a vida do palestino para sempre.  Um senhor de terno, que estava com outros senhores também de terno, perto do que viria a ser a Catedral, chamou o mascate e perguntou se ele tinha meias para vender. Ao prosseguir com mais uma venda, um colega operário lhe contou: “Sabe quem é aquele ali, para quem vendeu as meias? É o nosso presidente!”

 

“É aqui que vou ficar!”: O jovem, que ainda tinha dificuldade para entender o português, compreendeu algo maior. Que o futuro estava ali diante dos olhos dele. E afirmou: “É neste lugar mesmo que eu vou ficar”, disse, feliz ao ter como cliente Juscelino Kubitschek. Anos depois, tornou-se grande comerciante em Taguatinga. Foi dono da casa Nadi, de roupas femininas. Os filhos, Nader e Abdel, deram continuidade aos negócios da família. São donos de lojas de enxoval para bebê. A Babycenter, em Ceilandia e no Gama.

 

Novo negócio na gastronomia: Nader Nadi, 42 anos, é um dos quatro filhos do mascate que viraram empresários. Nasceu em Taguatinga e decidiu com o irmão, Abdel, diversificar os negócios e investir na gastronomia.


Inauguraram, há dois meses, o restaurante Istambul, na 215 Sul. Nader, que ficou à frente do negócio, conta que o momento foi muito difícil. Comprou o ponto comercial em fevereiro e, logo, veio a pandemia. Passou meses tendo de arcar muitos custos sem poder abrir o estabelecimento, além de administrar os outros negócios da família.


Vendas on-line: “A primeira semana foi de choque, desespero. Nunca nos preocupamos com venda on-line. Sempre contamos com a venda presencial. Mas, depois de uma semana perdidos, começamos a oferecer os produtos da BabyCenter, pelo WhatsApp e pelo Facebook. Deu certo, pois muitas grávidas precisavam de enxoval para os filhos que nasceriam. Agora, temos nosso site”, conta Nader.


Pandemia separou a família: O pai, hoje com 84 anos, voltou para a Palestina há 10 anos, quando se aposentou. “Meu pai é apaixonado pelo Brasil. Vem, sempre que pode, nos visitar, com a minha mãe. E nós também vamos muito lá.” Os laços com a terra natal sempre foram mantidos. A mulher de Nader, palestina naturalizada brasileira, e as duas filhas pequenas estão no estado do Oriente Médio. O que era para ser uma viagem de férias se estendeu mais do que o previsto. Com a pandemia, não conseguiram voltar ainda ao Brasil.

Sabor Mediterrâneo: O restaurante Istambul começou a fazer sucesso por não ser apenas mais uma casa de comida árabe. Apesar de oferecer o tradicional cardápio, o carro-chefe é a comida mediterrânea, além de contar com ótimo carta de vinhos a preços acessíveis.


Nader fez questão de oferecer variedade de opções. Carré de Carneiro, coelho, ragu de rabada são atrações da casa. Frutos do mar também. É possível até comer um delicioso bacalhau à portuguesa.

A doce princesa árabe: Outro personagem importante nesta história é o chef de cozinha e consultor de gastronomia Edilson Oliveira. A troca cultural entre palestinos e brasilienses rende ótimos sabores e pratos. São as mãos do brasilense as responsáveis pelos pratos do Istambul. Ele tinha conhecimento na área, mas pôde aprofundar com Nader. Foram a São Paulo pesquisar referências no segmento. E Nader fez questão que Edilson aprendesse uma sobremesa muito apreciada: a Knafa. O Istambul é o único em Brasília a oferecer o doce árabe. “É nossa princesa da casa”, diz Edilson. Ela é feita com fios de ovos, queijo e vem acompanhada de sorvete de pistache.


Produção artesanal: Os pães, pastas e queijos servidos também são especiais. Tudo é feito lá de forma artesanal. E tem gente que pede para levar para casa

Festival cultural: Nader abriu o Istambul para música, dança e eventos, com número limitado de pessoas. Lá, tem happy hour e já foram realizadas duas festas de casamento. A noite latina e a noite de tango foram grande sucesso. E já há reservas para a próxima apresentação do premiado casal brasileiro de tango de pista Juliano Andrade e Paula Emerick, que será em 3 de dezembro. Músicos da cidade também têm espaço cativo lá.

 

“A gente tem de sonhar, senão as coisas não acontecem” (Oscar Niemeyer, arquiteto)



*Por Samanta Sallum – “Coluna Capital S/A” – Fotos: Divulgação – Correio Braziliense

 

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem