Ciclistas, familiares e amigos reuniram-se, ontem,
na praça do Palácio do Buriti para homenagear os ciclistas que perderam a vida
nas vias do Distrito Federal em 2020. O ato foi organizado pelo Instituto Rodas
da Paz, em parceria com grupos de pedal do DF e Entorno. Segundo os
organizadores, cerca de 100 pessoas participaram do ato. Além da homenagem,
eles também pediam mais segurança no trânsito.
Os manifestantes lembraram 12 colegas mortos neste
ano no Distrito Federal e no Entorno — até setembro, o Departamento de Trânsito
do DF (Detran-DF) contabiliza sete ciclistas que morreram na capital federal.
Cruzes com os nomes de cada uma das vítimas foram instaladas na Praça do
Buriti. Os homenageados foram: Edson M. Farias, Ilda Barbosa, Eduardo Carvalho,
Renato dos Santos, Jailson B. de Oliveira, Francisco de Sales, Ricardo C.
Aragão, Rodrigo R. da Silva, Antônio Silva, Vitor Pullig, Anísio de Souza e
Francisco Lourenço Filho. As pessoas falaram o nome de cada um seguido pelo
grito de “presente”.
Os grupos responsáveis pelo ato redigiram um
manifesto com reivindicações em relação à segurança do trânsito. De acordo com
Eduardo Guimarães, um dos organizadores do ato, o texto dispõe de diversas
ideias construídas para garantir um bom convívio entre todos que utilizam as
vias do DF. “Algumas já foram apresentadas a gestões anteriores, mas nunca
foram realmente implementadas. Com a manifestação, esperamos conseguir apoio
para mudar. Sabemos que não será do dia para a noite, porém, precisamos dar o
primeiro passo”, afirma.
Presente na manifestação, Aline Henninger, 26 anos,
pedala há seis anos. Além de ter sofrido acidente enquanto pedalava, ela perdeu
um amigo atropelado em 2017. “A perda me traumatizou muito, pois eu estava com
ele quando um carro o atingiu na L2 Norte. Eu o vi partir”, relata. Aline
pensou em largar o pedal, mas, como trabalha realizando entregas de bicicleta,
precisou continuar.
Além da manifestação em frente ao Palácio do
Buriti, os participantes homenagearam um colega em especial. A pedido da
família de Cláudio Mariano, morto em atropelamento em frente ao Hospital São
Mateus, em 2017, eles instalaram uma ghost bike — bicicleta branca — em frente
à unidade de saúde. “É um sinal para mostrar que ali uma vida foi tirada por um
motorista inconsequente. Queremos mostrar que não estamos calados diante dos
acidentes”, explica Eduardo.
Diálogo: Uma das reivindicações do grupo é
a criação de uma comissão composta por membros de diversos órgãos do Distrito
Federal e da sociedade civil que trate de mobilidade urbana e segurança
pública. A intenção é criar uma agenda de ações a serem realizadas para amenizar
e solucionar os fatos geradores de mortes de ciclistas no DF.
O secretário de Transporte e Mobilidade, Valter
Casemiro, e o diretor-geral do Detran, Zélio Maia, foram ao encontro dos
manifestantes durante o protesto. Após alguns minutos de conversa, as
autoridades reuniram-se, em particular, com seis membros do grupo organizador
do ato. O secretário de Mobilidade reconheceu que Brasília ainda precisa de
mais ações para minimizar o número de acidentes com ciclistas, mas afirmou que
a pasta trabalha para entregar operações neste sentido. “Precisamos estudar as
demandas deles e ver o que pode ser atendido. Apesar disso, a construção de
ciclovias e políticas que visam a diminuição de veículos na cidade são ações já
implementadas, que têm o objetivo de garantir maior segurança no trânsito”,
considera.
Zélio Maia reiterou que o Detran-DF trabalha para
diminuir as ocorrências de acidentes no trânsito da capital federal. “A missão
do Detran é promover campanhas educativas, e temos buscado conscientizar a
população em relação à existência dos ciclistas”, afirmou o diretor-geral da
autarquia. “Só vamos conseguir efetiva mudança com campanhas educativas.
Mostrar que, no trânsito, não há competição, e que o maior defende o menor”,
complementa.
Por Samara Schwingel –
Foto: Ed Alves/CB/D.A.Press – Correio Braziliense