Balada na noite de Brasília. Em 2006, ao visitar a capital brasileira para um desafio de showbol entre Brasil e Argentina, no Ginásio Nilson Nelson, Maradona celebrou vitória com espumante. Na madrugada anterior à partida, fumou charuto e tocou o terror em hotel
Em 18 de fevereiro de 2006, Brasil
e Argentina se enfrentaram no Ginásio Nilson Nelson, com jogadores do duelo das
oitavas de final da Copa do Mundo de 1990, como Maradona, Careca e Dunga. O
craque argentino, no entanto, concentrou toda a atenção de fãs e da imprensa,
além de causar tumulto, no que foi a primeira visita à capital brasileira.
À época, a disputa era de showbol, uma variação do futsal em que a bola não
para, em um confronto marcado pela rivalidade e sabor de reencontro. Aos 45
anos, Diego Armando Maradona, o próprio carrasco do Brasil, estava visivelmente
recuperado, cuidando da forma física e tratando do abuso de drogas.
“Vai ser um grande jogo, é uma oportunidade de rever os amigos, como Taffarel”,
disse o astro argentino ao chegar em Brasília, sem saber da ausência do goleiro
brasileiro das Copas de 1990, 1994 e 1998.
A chegada de Maradona foi marcante e concentrou a atenção da imprensa nacional.
Ainda no saguão do aeroporto, por causa do tumulto, mesas e cadeiras foram
derrubadas. No hotel, a situação se repetiu. O craque, no entanto, manteve o
sorriso, ao contrário da fama de mal-humorado.
Naquele sábado, cerca de 5 mil pessoas foram prestigiar os jogadores. A vitória
por 8 x 4 ficou com a seleção argentina. Dieguito, como era chamado, ao fim da
partida em que comandou a conquista, recebeu um troféu entregue por políticos
da época e pelo ex-jogador Dunga.
A primeira noite de Diego Maradona em Brasília foi longa. Hospedado no
Kubitschek Plaza, no Setor Hoteleiro Norte, ele havia saído do hotel apenas
para ir a um único treino antes do embate com a seleção de veteranos do Brasil.
Ao voltar da atividade, o jogador jantou no local e permaneceu no bar da
piscina até de madrugada. Nesse intervalo, 20 latinhas de energético e uísque
foram comprados por um membro da delegação visitante em um supermercado
próximo.
De acordo com funcionários do hotel, Maradona e o ex-zagueiro da seleção
portenha Matías Almeyda chegaram a dançar em cima das mesas. Mas os jogadores
teriam sido advertidos, porque um dos hóspedes reclamou do barulho.
Ao subir para a suíte em que estava hospedado sozinho, Dieguito chegou a pedir
sete champanhes importados e cinco tira-gostos com torradas. O jogador só foi
dormir quando o dia amanhecia. Levantou-se apenas para seguir ao Nilson Nelson,
às 18h, e ganhar dos brasileiros.
A vitória, de virada, sobre os antigos rivais, serviu como a desculpa perfeita
para uma noite regada a espumante, vinho, uísque, mulheres e charutos cubanos
na última noite do craque na capital.
Depois da conquista, Maradona chegou ao hotel esbanjando simpatia. O astro
conversou com fãs, autografou camisas, posou para fotos e se recolheu. Passadas
duas horas, o jogador e a equipe saíram em sete táxis rumo à churrascaria
Porcão, no Setor de Clubes Sul.
Jantar no Lago: Na entrada no restaurante, Dieguito disse que estava muito feliz por
reencontrar os amigos, mas reconheceu que a vitória sobre os brasileiros não
teve o mesmo gosto de anos atrás. “Que nada. Não é mais a mesma coisa. Foi uma
partida para nos divertimos. Nós nos respeitamos muito, não existe mais aquela
velha rivalidade, por isso não tem o mesmo sabor”, disse. “Mas foi um
espetáculo, em que o respeito entre as pessoas foi o mais bonito.”
Depois de fumar, beber várias taças de vinho e se esbaldar na carne brasileira,
Maradona ainda trocou telefones com duas mulheres que jantavam na churrascaria.
O craque dançou e cantou para os jornalistas para provar que não se importava
com o assédio.
Ao chegar de volta ao hotel, a delegação argentina se encontrou com a
brasileira e a festa esquentou. Do saguão do hotel eram ouvidos os gritos e as
cantorias. O craque passou apenas dois dias na cidade e, segundo ele, o que viu
foi suficiente para conquistá-lo, prometendo voltar outras vezes.
Por Maíra Alves – Foto: Gustavo Moreno/CB/D.A.Press – Correio Braziliense