“Alívio e reconhecimento pelo
trabalho realizado”. Assim, Márcia Abrahão Moura define a nomeação como reitora
da Universidade de Brasília (UnB), realizada pelo presidente Jair Bolsonaro
(sem partido) e publicada no Diário Oficial da União de ontem. A decisão de
Bolsonaro respeita o resultado da votação da lista tríplice. Márcia foi a
escolhida pela comunidade acadêmica em 26 de agosto, quando a Chapa 86 — Somar,
composta pelo vice Enrique Huelva, conquistou a reeleição, com 54% dos votos. O
alívio vem após semanas de incerteza, uma vez que o presidente da República
nomeou reitores que não ocupavam a primeira posição na lista tríplice. Depois
da consolidação do processo democrático na UnB, a instituição prepara-se para
enfrentar desafios nunca antes observados nos 58 anos de história, devido à
pandemia da covid-19.
Márcia terá mais quatro anos de
trabalho na reitoria da universidade, e enfrenta o dilema do retorno às aulas
presenciais, tema que rendeu uma batalha jurídica no campo da educação básica
no Distrito Federal. Para ela, é necessário encarar o assunto com muita
cautela. “Dividimos o cronograma de retorno em cinco etapas. Agora, estamos na
etapa um, que é quando não há atividade presencial, mas estamos planejando um
possível retorno com presencialidade mínima. Porém, estamos, há um mês,
discutindo a possibilidade de retorno presencial ou não e acompanhando as
curvas epidemiológicas. No momento, não temos como tomar essa decisão”, diz. A
última reunião do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) da UnB tratou
do assunto. “O próximo semestre começa em fevereiro, mas temos que ter cautela,
porque a pandemia parece estar entrando em um novo ciclo de aumento de casos,
como acontece em outras partes do país. Estamos nos preparando, comprando
equipamentos, analisando espaços, mas avaliamos, no encontro, que a tendência é
continuar o próximo semestre de forma não presencial”, afirma.
Inovação: No cargo desde 2016, Márcia e Enrique Huelva
receberam 16.325 votos na consulta à comunidade acadêmica, do total de 30.228,
colhidos, pela primeira vez, virtualmente, para evitar aglomerações. Para ela,
a UnB vem se destacando cada vez mais como referência de pesquisas que
contribuem para a inovação e retornam à sociedade. “As universidades têm um
papel muito importante no combate ao novo coronavírus, com pesquisas em várias
áreas. Na UnB, lançamos editais e tivemos mais de 200 projetos de pesquisa e
extensão relacionados à covid-19, e, também, estamos participando de um dos
testes de vacina”, detalha.
Márcia pontua que, apesar da crise
econômica provocada pela pandemia, o país deve olhar com mais cuidado para a
ciência. “Precisamos de financiamentos dos órgãos de fomento, de investimentos.
Infelizmente, não existe uma curva ascendente de aplicação em pesquisa no Brasil,
e acabamos perdendo muitos cientistas para o exterior, porque, aqui, não
encontram bolsas e incentivos”.
Desigualdades: No mês da Consciência Negra, debates lembram o
papel da educação para enfrentar desigualdades sociais. A UnB carrega, na
história, a marca de ser a primeira universidade federal a adotar cotas raciais
nos processos seletivos da graduação, em 2013, algo que é ressaltado por Márcia
como processo identitário da instituição, que deve ser cada vez mais ampliado.
“Também instituímos as cotas na pós-graduação, aumentamos o ingresso de
indígenas e temos o desafio para manutenção desses alunos na universidade. Um
outro ponto importante a se observar é que o modelo não presencial veio para
ficar, e precisamos ter um olhar atento à comunidade que mais precisa. Uma
pesquisa nossa mostrou que 6% dos nossos estudantes não tinham computador e
cerca de 30% não tinham internet de qualidade suficiente para assistir à aula”,
revela.
Para dar ferramentas que
possibilitem diminuir as desigualdades entre alunos mais e menos favorecidos
socialmente, a UnB lançou o Edital de Inclusão Digital que deve servir de
modelo para ações futuras, englobando mais áreas. “Não podemos comprar um
supercomputador, mas esse primeiro edital forneceu R$ 1.500 de auxílio para um
equipamento que permite as condições básicas de o aluno acompanhar as
atividades remotas. Vamos fazer esse tipo de ação todo ano para que os
estudantes sem condições socioeconômicas, em situação de vulnerabilidade,
possam ter apoio. Há cursos em que os materiais são caros, como odontologia, e
vamos trabalhar para comprar e dar essas condições”, completa.
Excelência: Outra meta da reitoria é ampliar a qualificação e
o incentivo aos técnicos e docentes da instituição. “Temos 2.800 professores,
sendo que mais de 90% deles são doutores, muitos com doutorado e pós-doutorado
no exterior, sempre se envolvendo com pesquisadores de outros países. Nós vamos
apoiar muito para que sejam realizadas mais publicações em revistas, algo que
fizemos nos últimos anos, mesmo com redução de orçamento. Também sabemos da
importância do investimento em iniciação científica, apoiando com participação
em congressos e publicações. E, os técnicos também precisam de incentivos,
então fornecemos cursos de mestrados, criamos três novos para eles,
recentemente, para que se motivem cada vez mais, fortalecendo nossa
comunidade”, finaliza.