Um dos nomes mais importantes da
fotografia em Brasília, Luis Humberto Miranda Martins Pereira morreu na madrugada desta sexta-feira (12/2), aos 85
anos.
Um dos fundadores do Instituto de Artes
da Universidade de Brasília (IDA/UnB) e responsável por registrar da
arquitetura da cidade à vida política do Planalto Central, Luis Humberto estava
internado no Hospital Df-Star desde dezembro em decorrência de complicações
geradas pelo Mal de Parkinson e por uma série de infecções.
Luis Humberto chegou em Brasília em 1961, com a
então mulher, Eloá, que vinha transferida da Câmara dos Deputados no Rio de
Janeiro por conta da inauguração da nova capital. Carioca, formado em
arquitetura e funcionário do Ministério da Educação, ele foi trabalhar nos
projetos de construção do campus da Universidade de Brasília (UnB). Entre a
arquitetura e o cerrado do Planalto Central, Luis Humberto encontrou a
fotografia.
Foi registrando a flora local que ele
começou a desenvolver com a câmera um intimidade que o levaria para o registro
da arquitetura e da política. “Fotografia, pra mim, é um negócio glorioso,
porque eu me encontrei. Aquele negócio de `você deixou a arquitetura´...não é
assim. Eu encontrei foi uma paixão maior. A fotografia combina mais comigo do
que arquitetura. Arquitetura, o cara entra, te pede um projeto, você vai
conversar com ele para saber o que ele quer, aí você faz uma coisa ele acha
ruim sempre, e isso não acaba até construir a casa. Todos os empecilhos
tirados, são mais de dois anos. Não tenho dois anos para perder com uma casa”,
contou o fotógrafo, em 2017, durante sua última entrevista para o Correio Braziliense.
Nos anos 1960, o fotógrafo registraria a cidade
monumental, sempre enquadrada à luz da pequenez do homem diante das curvas e
retas imensas de Oscar Niemeyer. Em 1965, o fotógrafo, na época professor da
UnB, pediu demissão com outros 223 docentes que discordavam da administração
linha dura do então reitor Laerte Ramos de Carvalho. A ditadura se instalava
com força e Luis Humberto foi para perto do poder, trabalhar como
fotojornalista para veículos como Veja, Visão, Realidade, IstoÉ e Jornal
do Brasil.
O olhar crítico para as entranhas do
poder e da opressão materializava-se em fotografias carregadas de ironia:
poucos fotógrafos conseguiam roubar dos militares e seus palácios os
enquadramentos sugestivos de Luis Humberto. Sem flash, sempre com duas câmeras
penduradas no pescoço, o fotógrafo produziu um dos maiores arquivos sobre o
teatro do poder durante a ditadura.
Nos anos 1980, Luis Humberto deixaria para trás as
redações para retornar ao posto de professor, na Universidade de Brasília
(UnB). Na Faculdade de Comunicação, como professor, formou várias gerações e
tornou-se referência no ensino da fotografia.
Para o fotógrafo Rinaldo Morelli, que foi aluno de
Luis Humberto, a definição adequada é de “mestre”. “Luis Humberto é o filósofo
das práticas e respectivas reflexões. Os processos de descobertas, partindo do
universo particular de cada um, sempre foi sua maior aposta, seja para seu
olhar pessoal seja para instigar outros olhares”, diz Morelli.
O cineasta Vladimir Carvalho, também professor da
UnB e amigo pessoal do fotógrafo, ele pavimentou a cena fotográfica da cidade.
"Luis praticamente fundou o movimento da fotografia na capital. Primeiro,
como professor, e depois como militante da fotografia na imprensa. Ele tem um
apuro tal, com relação às artes fotográficas, que é uma referência quando se
trata de fotografia artística. Ele era uma espécie de líder de todos os companheiros
que estavam no batente, especialmente na época da ditadura militar, ele cobria
o Congresso”, conta Carvalho.
Uma parte de sua obra está nos
livros Fotografia: Universos & arrabaldes (1983) e Brasília,
Sonho do Império, Capital da República (1981). Em 2007, ele publicou
ainda Do Lado de Dentro de Minha Porta, do Lado de Fora de
Minha Janela, que também foi transformado em exposição. Nos últimos anos,
Luis Humberto se dedicou a >>>>> ensaios domésticos. A dificuldade de
mobilidade por causa do Parkinson, ele passou a registrar o ambiente ao redor a
partir da perspectiva da cadeira de rodas. “Comecei a fotografar, a olhar as
coisas de outra maneira, descobrir coisas, trabalhar num universo de dimensões
menores, o que não desqualifica, mas faz você mergulhar em outra escala de
coisas. Você vai descobrindo coisas que têm um certo encanto, é um jogo”,
contou ao Correio, ao falar sobre o ensaio A reforma do (possível)
do olhar.
Nahima Maciel - Colaborou Ricardo Daehn – Foto: Zuleika
Souza/Divulgacão – Correio Braziliense.