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A vida do outro em jogo

A vida do outro em jogo

 

Domingo. No Facebook, um morador denuncia uma festa regada a pagode em Águas Claras. A publicação impulsiona críticas não à postura irresponsável e inconsequente do organizador da festa, mas ao denunciante. Alguém recomenda o mesmo a cuidar da própria vida. Sim, mas ele está cuidando da própria vida! Violações das regras sanitárias colocam todo o resto da sociedade em perigo. Crimes contra a saúde pública precisam ser punidos de forma exemplar. Estamos no meio de uma pandemia e tem gente que insiste em relativizar, em minimizar a tragédia, em usar a máscara como tapa-olhos (ou cabresto) e ignorar a mortandade, que ganha progressão geométrica.

O feriado da Semana Santa começa amanhã com uma quase certeza:
muitos brasileiros irão frequentar praias e se esbaldar em festas da morte. Pagarão um preço doloroso demais em poucas semanas. Além de se infectarem com o Sars-CoV-2, levarão a covid-19 para dentro de suas casas e serão os culpados pela tragédia que poderá, inclusive, ceifar famílias inteiras. Depois de tudo, ficarão a saudade, o luto, a dor e, sobretudo, o peso do remorso eterno.

Mais de 317 mil brasileiros perderam a vida para a covid-19. Não se atenha apenas ao número, caro leitor. São 317 mil vidas, sonhos, planos, abraços e beijos, lágrimas de emoção com o nascimento do filho, sorrisos... Seres humanos ceifados por um vírus implacável, disseminado pela irresponsabilidade, mas, também, pelo fanatismo ideológico de outros seres humanos. No momento em que você lê este artigo, muito provavelmente o coração de algum brasileiro, em um canto qualquer, parou de bater. E uma família chora e sofre com um vazio insubstituível.

A inconsequência e o egoísmo de alguns impõe ao outro a dor inominável de um luto interrompido à força. O caixão permanecerá fechado e baixará à sepultura rapidamente, quase sempre sem velório. A festa, a bebida e a farra de poucas semanas atrás terão o gosto amargo de uma vida que se esvai sem uma despedida digna. Como será colocar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilamente, sabendo da parcela de culpa por essa tragédia?

Imaginei que, com a maior pandemia em mais de século, a humanidade se esforçaria para rever alguns de seus conceitos. Valorizaria a empatia, o amor pelo próximo, o respeito, o cuidado, o humanismo. Se a covid-19 expôs o melhor de médicos e enfermeiros, abnegados guerreiros pela vida, também destrinchou o que existe de pior em algumas pessoas.


           Rodrigo Craveiro – Correio Braziiliense - Fotos/Ilustração: Blog- Google



 


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