De acordo com a médica, as células-tronco
possibilitaram uma adesão muito boa do enxerto de pele feito na paciente para
tapar os ferimentos e aceleraram a cicatrização do tecido. “Conseguimos obter
melhor qualidade estética da ferida e mais elasticidade da pele, dando um ar
mais natural a ela”, relata Márcia.
O procedimento ocorreu em setembro do ano passado e
foi inédito no hospital. Para a extração das células diferenciadas, o HB teve a
ajuda da empresa brasileira DMC, que disponibilizou aparelhos avançados para
realizar a técnica, chamada de One Step. Pelo método, os profissionais
conseguem retirar, com a gordura da paciente, as células-tronco, por meio de
uma lipoaspiração a laser.
“Com a emissão de luz, é possível extrair uma
solução mais concentrada com células-tronco, o que garante um melhor resultado
no momento da aplicação do enxerto”, explica a cirurgiã Márcia Moreira.
A obtenção completa das células-tronco só é
possível pela técnica de centrifugação. “Por meio da centrifugação, separa-se a
gordura das células-tronco”, esclarece a especialista.
Com o material puro em mãos, os médicos conseguiram
injetá-lo nas bordas do ferimento de Cleuza. Já a gordura aspirada foi passada
por cima da ferida. “Esse tecido adiposo serve como um curativo biológico”,
esclarece Márcia. Para finalizar, a equipe encobriu a lesão com um curativo a
vácuo, como forma de impedir a exposição do local.
Em um segundo momento cirúrgico 15 dias depois, a
mesma equipe, composta por dois cirurgiões plásticos, um anestesista e uma
instrumentadora, aplicou um enxerto de pele, retirado da coxa de Cleuza.
“Depois da aplicação, a gente percebeu, ao longo da cicatrização, que o
procedimento foi mais eficaz do que quando feito sem alta concentração de
células-tronco”, aponta Márcia.
Cada cirurgia durou, em média, de duas horas e
meia, e os gastos estimados das duas intervenções, totalmente gratuitas para a
paciente, foram de R$ 60 mil no total.
Mudança de vida: As dores intensas devido aos
ferimentos na perna de dona Cleuza viraram apenas lembranças. Depois da rápida
cicatrização após as cirurgias, a manicure conseguiu retomar as atividades e,
hoje, valoriza cada cicatriz em seu corpo. “Elas são reflexo da minha luta e da
sorte que tive em receber um atendimento tão cuidadoso e de excelência”,
agradece.
O destino de dona Cleuza poderia ser diferente, não
fosse a decisão da família em levá-la a um hospital público de Brasília. Tudo
começou após a moradora de Uruaçu (GO) sentir fortes dores na perna. As bolhas
logo apareceram, causadas pela hanseníase. “Elas estouraram e abriram
ferimentos na minha perna. Em menos de um dia, as feridas já começaram a ficar profundas”,
conta. No hospital da cidade goiana, disseram que seria preciso amputar a
perna. “Graças a Deus, me levaram para Brasília”, diz, aliviada.
Dona Cleuza recebeu atendimento primeiro no
Hospital Regional do Paranoá, onde foi feito um curativo para evitar piora do
quadro. De lá, foi encaminhada ao HB, onde o tratamento durou 68 dias. “Foi
tudo muito rápido, e aquela dor, insuportável, parou. Ganhei qualidade de
vida.” Atualmente, a pele da paciente está quase completamente cicatrizada, e o
retorno para acompanhamento será em maio.
Plásticas de traumas no HB: O tratamento com
células-tronco de feridas extensas causadas por trauma é uma prática comum no
Hospital de Base. Mas, diferentemente do tratamento de Cleuza, ocorre sem o uso
do laser. “Todo paciente traumático que chega com ferimentos profundos e pouca
pele precisa passar por uma cirurgia plástica para repor o tecido”, comenta a
cirurgiã plástica do HB Márcia Moreira.
Para isso, é feita uma lipoaspiração para retirada
de gordura. O material coletado é colocado para decantar (método para separar
os compostos) e, por meio de um seringa, são extraídas as células-tronco. “Por
esse tipo de procedimento, a concentração de células-tronco é menor, mas também
eficiente”, aponta Márcia.