Depois de um mês de
portas fechadas, lojas podem voltar a funcionar. Comércio reabre hoje com
restrições. Com horários mais reduzidos e manutenção do toque de recolher,
setor produtivo volta às atividades; expectativa de empresários é de bons
resultados na Páscoa. Situação da pandemia ainda preocupa e, ontem, o DF bateu
novamente o recorde na média móvel de mortes
Há um mês, quando a taxa de transmissão do novo
coronavírus era de 1,35 — em média, 100 infectados podem transmitir o
vírus para 135 pessoas — o Governo do Distrito Federal restringiu o
funcionamento de determinados setores da economia. Hoje, lojas e
estabelecimentos comerciais estão autorizados a reabrir as portas seguindo uma
série de protocolos, além de um horário de funcionamento pré-estabelecido.
Cada atividade terá um horário específico de
funcionamento (veja Mudanças) e o toque de recolher, das 22h às 5h, segue em
vigor. Na quinta-feira, entidades do setor de bares e restaurantes
chegaram a enviar um ofício ao governador para pedir a ampliação do
horário de funcionamento desses estabelecimentos. Contudo, de acordo com o
presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar),
Jael Antônio da Silva, o setor vai aguardar essa primeira semana para ver como
será a evolução da situação com a liberação do comércio. “Precisamos disso, mas
quem sabe o que tem que ser feito é o governador”, resume.
O vice-presidente do Sindicato do Comércio
Varejista (Sindivarejista), Sebastião Abritta, vê com bons olhos essa retomada
das atividades. “Porque, mesmo com dificuldades e restrições de horário, parte
do comércio voltará a abrir faltando sete dias para o domingo de Páscoa”,
afirma. Para Abritta, “cabe ao consumidor contribuir para que o comércio volte
a operar. Os consumidores devem usar máscaras e álcool em gel, o que evita a
propagação da covid-19”.
Fabio Hiro, um dos sócios proprietários do Salão
Enjoy You, também concorda com o papel dos consumidores em seguir e,
principalmente, exigir e fiscalizar os protocolos de segurança. “É preciso
entender que o que é essencial hoje é a preservação de vidas e não entrar no
mérito de qual atividade é ou não essencial. Não devemos esperar o Estado
determinar o que pode ou não abrir. A consciência tem de partir de cada um, do
consumidor e do empresário. E o consumidor deve ser o principal fiscal dos
protocolos”, avalia. Fabio comenta que o setor tem um manual de biossegurança
que engloba toda a cadeia, como clínicas de estética e barbearias, que foi
aprovado pela Secretaria de Saúde do DF e está sendo seguido pelos
estabelecimentos.
Além disso, o empresário afirma que os
estabelecimentos de beleza já atuavam com equipamentos de proteção individual,
o que difere, por exemplo, de casas noturnas, casas de festas e restaurantes.
“Faz parte do expediente da atividade”. Por fim, Fabio argumenta que, para a
população, foi comunicada uma narrativa de receio quanto ao consumo que afeta a
cadeia toda. “Por mais que tenha protocolo e trabalhe com as medidas, se a
população não se sentir segura com base nas informações que chegam,
consequentemente todo o comércio sofre.”
Apesar da permissão, a situação da pandemia no DF
ainda preocupa. A taxa de transmissão do vírus diminuiu com relação ao mês
anterior. Ontem, o valor, atualizado diariamente às 8h da manhã, era de 0,91.
No sábado, quando a cidade registrou 43 mortes pela doença, a média móvel
de óbitos bateu recorde e chegou a 51,71.
“Impossível dizer que a pandemia está sob controle.
Mesmo que nossa taxa de transmissão tenha reduzido com as medidas das últimas
semanas, ainda não podemos garantir que ela se manterá baixa, já que é um
indicador dinâmico e que tende crescer com o aumento de circulação de pessoas”,
detalha a infectologista Ana Helena Germoglio. Como exemplo, ela cita alguns
países da Europa que reabriram os serviços sem o controle da doença e tiveram
uma piora na taxa de infecção. “Em verdade, nunca tivemos a paralisação real
das atividades. Araraquara, no interior de São Paulo, pode provar a real
efetividade do efeito de suspensão de todas as atividades. Enquanto formos cada
vez mais permissivos em momento no qual ainda vivemos um colapso da saúde, a
tendência é só piorar”, afirma.
Mudanças: Confira como funcionará
o comércio do DF a partir de segunda-feira: Por setor; Academias: das 6h às 21h; Comércio de rua: das 11h às 20h; Clubes recreativos: das 6h às 21h; Bares e restaurantes: das 11h às 19h; Agências de viagens: das 10h às 19h; Cultos, missas e rituais: sem horário pré-determinado; Atividades
coletivas de cinema e teatro: sem
restrição; Eventos em estacionamento ou drive-in: sem restrição; Shopping centers e centros
comerciais: das 13h às 21h; Salões de beleza, barbearias,
esmalterias e centros estéticos: das 10h às
19h; Supermercados: horário definido
em alvará, respeitando o toque de recolher; Atividades 24 horas; Hospitais,
farmácias, funerárias, postos de gasolina, clínicas médicas e veterinárias.
Roberta Pinheiro – Foto: Ed Alves/CB/D.A.Press –
Correio Braziliense