Amanhã, quando
acordar, será Dia Internacional da Mulher. Amanhã, quando acordar, podemos e
devemos reverenciar, lembrar, celebrar as mulheres — líderes, mártires, donas
de casa, empresárias, trabalhadoras, militantes. Amanhã será mais um dia em que
perderemos o ar para, em seguida, retomar o fôlego e, então, acordar para a
vida.
E, hoje, quero falar sobre o fazer feminino, especialmente em tempos de
pandemia. A covid-19 legou a todos, mas especialmente às mulheres, o ônus
extra. Cuidar do outro. Nós, mulheres, a quem sempre coube jornadas duplas e triplas,
agregamos novos fazeres. Acostumadas a cuidar, cuidamos em dobro. Os afazeres
domésticos, a aula on-line dos meninos, a saúde mental dos filhos, a
assistência aos pais, a solidariedade com o próximo, tudo isso e um pouco mais
são demandas diárias, e muitas de nós carregam sozinhas e sem qualquer apoio
essas duras missões cotidianas.
Soma-se a isso um contingente enorme de mulheres que perderam pais, irmãs e
irmãos, filhos, amigas e amigos confidentes. Perderam a si próprias num
emaranhado de sentimentos confusos, de culpas por não conseguir suprir tudo e
todos, como se fosse humanamente possível dar conta de tanto.
A pandemia levou grávidas para a UTI e matou tantas outras, deixando bebês
órfãos até da primeira mamada. Deixou mais mulheres reféns de companheiros
violentos, fazendo do confinamento um ambiente de tortura e pouca esperança.
Legou às mulheres trabalhadoras da saúde a tarefa inglória de assistir a mortes
em série, ficar longe dos filhos, implorar aos egoístas cuidados básicos de
proteção. Ainda assim, as mulheres se levantam e fazem. Todo dia, toda hora.
Respiram fundo, guardam suas dores, e fazem o que precisa ser feito.
Amanhã, quando eu acordar, preciso lembrar quem sou e de onde venho. Preciso
acordar minhas ancestrais e agradecer a incrível trajetória que tiveram para me
fazer chegar até aqui. Preciso dar as mãos à minha filha, minha neta, minhas
irmãs, sobrinhas, nora e amigas e lembrar a elas que somos a história que
construímos juntas, e isso já é muito.
Desejo profundamente que, nesta segunda, todas as mulheres se olhem no espelho
com orgulho de ser quem são, que se reconheçam e se perdoem, que se amem acima
de tudo e que recuperem o direito de sonhar com dias muito melhores — também e
principalmente para si próprias. Que elas resgatem suas crianças internas e
suas vontades mais íntimas para fazer algo por si.
Brinque, dê gargalhada, fale bobagem, fique mais 15 minutos na cama, veja um
bom filme, ouça uma música que alimenta a alma, ligue para uma amiga. Faça, mas
viva — não apenas sobreviva, não apenas subsista. Dê um tempo para você. Todas
nós somos merecedoras de autocuidado e autocompaixão.