Com a taxa de transmissão do novo
coronavírus no Distrito Federal em 1,32, o governador Ibaneis Rocha (MDB)
anunciou a abertura de mais três hospitais de campanha, com 100 leitos cada, no
Ginásio do Gama, no Nilson Nelson e em Ceilândia. Além disso, o emedebista
declarou que disponibilizará, até domingo, mais 130 leitos em unidades de
terapia intensiva (UTI) voltadas para o tratamento da covid-19. Mesmo assim, o chefe
do Executivo local alertou para a grave situação em que o DF se encontra, onde
as vagas abertas são ocupados quase que imediatamente.
Em entrevista ao CB.Poder — parceria do
Correio com a TV Brasília —, ontem, Ibaneis falou da importância da suspensão das
atividades e da diminuição da circulação de pessoas em até 60%. Com isso,
segundo ele, será possível retomar, aos poucos, as atividades econômicas. Até
lá, a vacinação deve avançar, pois o DF espera receber 600 mil doses de
imunizantes contra a covid-19 neste mês. Assim, poderá ampliar a campanha para
pessoas com 65 anos ou mais até o fim de março.
O governador destacou que, hoje,
editará um novo decreto, que prevê a cassação do alvará de estabelecimentos que
não cumprirem as regras de funcionamento durante o período de pandemia. Segundo
Ibaneis, a medida é drástica, mas necessária para conter o avanço do novo
coronavírus na capital federal.
Infelizmente, estamos vivendo essa situação da pandemia, que levou o senhor a decretar o lockdown, mas os empresários não gostaram. Como o senhor vê as manifestações, que leitura faz desses primeiros dias e por quanto tempo teremos o lockdown? Sei da dificuldade pela qual eles (empresários) estão passando e me solidarizo com todos. Acho que o momento é de muita dificuldade na área econômica, mas chegamos a um ponto na Saúde em que não havia outra medida a ser tomada. Quando decidimos pelo lockdown, chegamos a 97% de UTIs (unidades de terapia intensiva) ocupadas e tivemos momentos, durante esta semana, com 99% de UTIs ocupadas. O índice de transmissão do vírus, que é o que mais nos preocupa, chega a 1,32. Isso quer dizer que 100 pessoas contaminadas transmitem para mais 132. O que indica que, mesmo com um grande trabalho na abertura de UTIs, teremos um agravamento da crise nos próximos dias. Por isso, clamamos à população que use máscaras, álcool em gel e, àqueles que não têm necessidade de ir às ruas, que fiquem em suas residências. Precisamos diminuir o índice de transmissão, senão não voltaremos à normalidade. Estou programando a abertura de novos hospitais de campanha. A licitação deve sair na segunda-feira, para mais três unidades, com 300 leitos, instaladas no Ginásio do Gama, no Ginásio Nilson Nelson e uma em Ceilândia. Até domingo, vamos abrir mais 130 vagas de UTI, para manter o atendimento à população tanto daqui quanto do Entorno. Mas temos necessidade de que a população se conscientize do grave momento pelo qual passa o Brasil.
Algum setor vai abrir na semana que
vem? Veja: hoje, abro um leito de UTI, e ele é preenchido
imediatamente. Estamos com um número muito pequeno de leitos. Então, temos de
avaliar. Estou pensando, com meu pessoal, em abrir academias e escolas
particulares, no esquema em que eles vinham trabalhando, com 50% de alunos em
uma semana e 50% na outra. Mas isso tudo será estudado, para vermos se, com
essa abertura, não vamos causar o agravamento da taxa de infecção. Pretendemos
diminuir a circulação de pessoas na cidade. Somente essa diminuição faz com que
caia o índice de infecção. Com esse lockdown, temos a expectativa de reduzir de
50% a 60% a circulação de pessoas no DF e de liberar os setores aos poucos,
conforme (haja) a abertura de leitos de UTI.
Uma forma de conter a doença é a
vacinação. Temos vacinas no DF para atender a população até quando? E quando
chegam novas doses? O compromisso do ministro (da Saúde, Eduardo) Pazuello
é de distribuir, ainda em março, 38 milhões de doses. O que chegaria ao
Distrito Federal seria em torno de 600 mil, e teríamos como vacinar o público
acima de 65 anos. Para o mês de abril, a promessa é que (a remessa) chegue
perto dos 54 milhões de doses, e teríamos um avanço progressivo, vacinando os
públicos mais vulneráveis. Temos a expectativa de vacinar, ao menos, metade da
população até julho. Essa é a promessa do Ministério da Saúde, e eu confio que
será cumprida.
O senhor conversou com o presidente
Jair Bolsonaro sobre essa situação de lockdown, de que ele deveria mudar o
posicionamento ou algo nesse sentido? Ele deixa a (vacinação a) cargo
dos estados. Acho que os estados têm condições de fazer isso e que vêm fazendo.
Acredito que, pelos próximos 15 dias, teremos uma grande maioria dos estados
nessa situação (de lockdown), até porque a crise se agravou em toda a
Federação. Muitos falam que nós, governadores, não nos prevenimos, mas todos
nós tomamos as medidas necessárias. Ninguém consegue manter a população dentro
de casa por muito tempo. Tanto que, mesmo com o lockdown, temos um número
grande de pessoas nas ruas. O que clamamos é que vão continuar saindo, vão continuar
morrendo. Chegamos a ter um dia com 26 mortes no Distrito Federal, o que é um
número muito grande. Não adianta ter dinheiro. Os hospitais públicos estão
fazendo todo o possível, e os hospitais privados estão lotados. Não adianta ter
plano de saúde, ter recursos, que (o paciente) não vai conseguir (atendimento).
Não brinque com a situação. Vai chegar um ponto em que ninguém terá leito se
não tomarmos cuidado neste momento.
E para o público de 60 a 64 anos, qual
é a previsão de vacinação? Acreditamos que, a partir de abril,
começamos a vacinar o público em geral. A ideia é iniciar com (pessoas de) 60
anos para cima, (pessoas com) comorbidades e, depois, o público geral. A partir
da chegada das doses programadas para março, queremos incluir, também, alguns
grupos prioritários, como professores, fiscais da DF Legal (Secretaria de
Proteção à Ordem Urbanística), (profissionais da) assistência social,
conselheiros tutelares e policiais.
Por que não passar a multar as pessoas
em geral, não só donos de estabelecimentos? Vamos editar um decreto, até
amanhã (hoje), para os estabelecimentos que não obedecerem às regras e aqueles
que estão abrindo de forma ilegal durante o período do lockdown. Antes, era
preciso aplicar multa e suspensão. Agora, vamos cassar o alvará dos que não
obedecem e aglomeram. O pessoal da área jurídica está fazendo o estudo e,
amanhã (hoje), devo editar esse decreto. Se (o estabelecimento) estiver aberto
e errado, vai para a cassação do alvará ou (terá) a suspensão das atividades
por um período de até 60 dias. Para crises pesadas, como a que estamos vivendo,
as medidas têm de ser fortes. Quanto mais rápido trabalharmos, mais rápido
saímos da crise e retomamos a economia do DF.
Entrevista completa: (Vídeo)
Denise Rothenburg - Samara Schwingel - Correio Braziliense