O Hospital de Base (HB) é a maior e mais antiga
unidade de saúde pública do Distrito Federal e uma das mais importantes do
Brasil. Fundado em 1960, o HB ocupa 54 mil metros quadrados de área construída,
formada por 12 andares, onde estão distribuídos 634 leitos e cerca de 30 tipos
de serviços médico-hospitalares, inclusive transplantes de alta complexidade.
Mais de 10 mil pessoas são atendidas diariamente ali. Para recebê-las, o
hospital conta com 4 mil colaboradores. À frente desse exército de profissionais,
há um batalhão de médicos renomados e conceituados internacionalmente. Entre
eles destacam-se doutores cuja trajetória profissional se confunde com a
própria história do Hospital de Base.
É o caso dos médicos José Carlos Quinaglia e Silva,
68 anos, Osório Luís Rangel de Almeida, 74, e Julival Ribeiro, 67. Conheça a
história desses profissionais que, há mais de três décadas, se dedicam a salvar
vidas no Hospital de Base, uma das oito unidades administradas pelo Instituto
de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF).
José Carlos Quinaglia: “O HB é uma verdadeira referência para a saúde”
Especializou-se em cardiologia em homenagem ao pai,
que sofria da Doença de Chagas, transmitida pelo inseto barbeiro. Desde
criança, ele acompanhava o sofrimento do pai. “A enfermidade do meu pai expôs
para mim as dificuldades que pessoas com doenças cardíacas enfrentam”, relata.
Em 1998, José Carlos ajudou a fundar a Associação
dos Amigos do Hospital de Base, atualmente extinta. Formado por servidores e
pessoas da comunidade, o grupo conseguiu arrecadar dinheiro para comprar
equipamentos caros, que seriam usados em cirurgias complexas. “Era um serviço
importante para a comunidade, que hoje foi substituído pelas instituições de
caridade que trabalham no Base”, explica Quinaglia.
A dedicação à cardiologia o fez assumir cargos
estratégicos no HB. Entre 2001 e 2002, foi chefe da Unidade de Cardiologia.
Depois, entre 2003 e 2005, ocupou os cargos de vice-diretor e diretor da
instituição. Mais tarde, entre 2011 e 2012, comandou a Unidade Coronariana do
hospital. “O HB é minha verdadeira paixão”, declara-se. “O nosso hospital é
essencial para os atendimentos de média e alta complexidade, uma verdadeira
referência para a saúde.”
Defensor do ensino e da pesquisa, o médico também
se destacou como pesquisador-chefe do Brazilian Heart Study, iniciação
científica voltada para estudantes da Escola Superior de Ciências da Saúde
(ESCS), da UnB, da Universidade Católica de Brasília (UCB) e do Centro
Universitário de Brasília (Ceub). “Esse contato com os alunos é importante
porque nos permite, além da pesquisa, ensinar a importância de um trato humanizado
com o paciente”, defende. “Temos essa responsabilidade com os novos médicos e o
compromisso irrefutável com a medicina.”
No ano de 2004, o profissional assumiu a direção
geral do Hospital de Base e um dos projetos implementados foram as visitas itinerantes
e semanais nas unidades do hospital para ouvir servidores e gestores sobre as
suas principais necessidades. “A partir dessa visita, um plano de ação
programava as melhorias por setores”, comenta Quinaglia.
O médico também esteve presente no aniversário de
46 anos do HB. “No dia, houve uma belíssima e memorável homenagem, com
servidores, pacientes, terceirizados e usuários de mãos dadas e em volta do
hospital dando um ‘grande abraço’ no nosso gigante HB”, completa, orgulhoso.
Osório Luís Rangel de Almeida : “O HB sempre foi um hospital de vanguarda”
Em 35 anos de dedicação ao HB, o doutor Osório
acumula inúmeras conquistas e recordações. Em 1983, por exemplo, foi
responsável pela implantação da telemedicina no hospital. Era um dos médicos
que, por telefone, prestava consultoria a diversos colegas que trabalhavam em
outras regiões administrativas do DF. “A orientação era por meio dos sons de
eletroencefalograma e de eletrocardiograma dos pacientes em atendimento”,
explica o cardiologista.
O doutor Osório lembra-se de um paciente especial:
o presidente Tancredo Neves. Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo foi eleito
presidente do Brasil por meio de voto indireto do Congresso Nacional. Em 14 de
março daquele ano, um dia antes de tomar posse, foi internado às pressas no
Hospital de Base, após ser diagnosticado com apendicite aguda. Osório fez parte
da equipe médica que atendeu o chefe do Executivo. Tancredo depois seria
transferido para o Instituto do Coração, em São Paulo, onde faleceu em 21 de
abril, aos 75 anos.
Mas o que mais orgulha o cardiologista é salvar
vidas. Osório perdeu as contas de quantas vezes dormiu ao lado de pacientes, na
UTI, para acompanhar a evolução clínica dos doentes. Quando conseguia
liberá-los, comemorava. "Nossa maior satisfação é ver a alta de um
internado", garante. “O paciente sempre tem razão e merece o melhor
atendimento”.
Osório orgulha-se também de continuar fazendo parte
da equipe de profissionais no Hospital de Base, referência no atendimento de
traumas e de procedimentos de alta complexidade. Esse reconhecimento foi
conquistado por causa da dedicação dos médicos aos pacientes, segundo Osório.
“O HB sempre foi um hospital de vanguarda, com as
mais altas competências e com profissionais de ponta, vindo de todos os lugares
do País e do mundo”, ressalta o médico. “Muito mais que pela estrutura física,
o HB se define principalmente pela qualificação do seu pessoal.”
Defensor do ensino e da pesquisa como um dos tripés
essenciais para o desenvolvimento da ciência, atualmente o cardiologista dedica
parte de sua carga horária a ensinar aspirantes a médicos. “Esse também é um
dos nossos compromissos éticos: transmitir o conhecimento adquirido”.
Julival Ribeiro: “O HB há anos forma médicos residentes”
O amor pela capital foi à primeira vista e nela
concretizou o sonho de atuar na profissão que escolheu. “Amo esta cidade, onde
tive a oportunidade de crescer”, declara Julival. “Deus também me iluminou de
ter vindo para o Base, lugar de referência na saúde.”
Há 30 anos ele trabalha no hospital, estando à
frente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. Em 2011, foi
diretor-geral do HB. No cargo, desenvolveu em equipe um trabalho com objetivo,
sobretudo, do cuidado ao paciente. “Criamos a Unidade Neurocardiovascular,
reestruturamos totalmente o Trauma e atuamos na Comissão de Ensino e Pesquisa”,
relembra.
Defensor do Sistema Único de Saúde (SUS), acredita
que a assistência ao cidadão sempre deve ser o ponto de partida na medicina.
“Atender é a nossa razão de ser médico.” Atrelado ao compromisso com o
paciente, Julival enumera o ensino e a pesquisa. “O Base forma há muitos anos
médicos residentes”, atesta. “O nosso objetivo é melhorar, sempre, qualquer
educação contínua, visando, sobretudo à alta performance do serviço.”
Foram muitos os casos marcantes durante a
trajetória do médico, mas uma história ele considera como a mais marcante e
especial. Em 2008, durante uma ronda na UTI Pediátrica, ele conheceu um menino
que havia sido atropelado por um caminhão. “O transporte passou por cima do
abdômen dele, e foram necessárias várias cirurgias para restabelecer a
criança”, lembra.
No dia em que conheceu o paciente, ele encontrou o
pequeno intubado, mas algo lhe chamou a atenção. “Ao me aproximar, eu senti que
ele me pedia ajuda. Então, a partir daquele momento passei a dedicar todos os
dias para resolver o problema daquela criança, junto com a equipe da cirurgia
pediátrica”, conta.
Depois de dois meses, o paciente recebeu alta. Mas a história do menino continuou na vida de Julival, em forma de arte. Isso porque, por coincidência do destino, um quadro pintado pelo garoto chegou às mãos do médico. “Um belo dia, teve uma exposição na área administrativa do HB, organizada pelo pessoal da Pediatria. Nesse dia, eu virei para a professora de arte e pedi um quadro que tivesse felicidade e alegria. Ela me entregou justamente a obra pintada pela criança que eu tinha atendido”, ri, Julival. “Eu comprei e tenho até hoje na minha casa. É uma imagem de vida, de esperança. Nem por um milhão de dólares eu vendo esse quadro.”
Texto: Thaís Umbelino - Fotos: Davidyson Damasceno-Ascom Iges- DF (fotos do dr. Julival e do dr. Osório) e Arquivo Pessoal (foto do dr. José Quignalia).