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História: Brasília sexagenária » Construções pioneiras

Construções pioneiras. A cerca de 40 quilômetros do Plano Piloto, o Centro Histórico de Planaltina guarda edificações levantadas há mais de 100 anos, no núcleo urbano mais antigo. Fachada de casa na região, em foto tirada em 1991

“O Centro Histórico de Planaltina é a avó ou até bisavó de Brasília.” É assim que a produtora cultural Simone Santos Macedo, 61 anos, define o local. Para ela, também fundadora da Associação Amigos do Centro Histórico de Planaltina, não tem como dissociar as construções bucólicas da região da trajetória da capital federal. As edificações, presentes no Planalto Central antes da construção da cidade de Juscelino Kubitschek, são o tema da reportagem de hoje da série Brasília Sexagenária.

Simone chegou a Brasília em 1970. Deixou os pais e duas irmãs em Formosa (GO) e veio sozinha, para cursar o terceiro ano do então segundo grau e trabalhar. Morou primeiro na 312 Norte. Depois de alguns anos, mudou-se para Planaltina, onde está há 24 anos.

Na cidade centenária, conheceu pioneiros, que enriqueceram seus conhecimentos sobre o nascimento de Brasília. Durante a construção, a região administrativa era ponto de lazer para operários, segundo a produtora cultural. “Vinham caminhões cheios de trabalhadores, porque aqui tinha mulheres lindas, cinema. Eles sempre estavam aqui”, conta. 
Região guarda as características de cidade de interior nas edificações

Os relatos só fizeram aumentar o amor por Planaltina. “Tenho muitas lembranças de Brasília, mas encontrei meu lugar aqui. Gosto de falar sobre essa cidade, porque é a pré-história da fundação da nossa capital”, diz. Um dos locais preferidos dela é a Igreja São Sebastião, primeira construção do Centro Histórico de Planaltina. “No início de tudo, era uma capelinha de palha, com chão batido. Hoje, é uma igreja tradicional. Infelizmente, tem gente que quer derrubar essa parte da história. Eu já fui até apedrejada tentando impedir uma derrubada. Por isso, criei um movimento”, afirma Simone.


A Associação Amigos do Centro Histórico de Planaltina foi fundada em 2007. O projeto busca manter as edificações históricas da região e recebe patrocínio da Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF).

A Igrejinha de São Francisco também faz parte da história do professor e historiador Mário Castro, 71. Ele é bisneto de Aprígio Gomes, um dos responsáveis pela construção do templo. Além disso, é neto de Viriato de Castro, guia da Comissão Exploradora do Planalto Central, mais conhecida como Missão Cruls, que demarcou a área considerada adequada para a construção da nova capital. Mário Castro, professor e historiador

A família é predominantemente mineira, as últimas gerações nasceram em Planaltina. “Nasci em 1949 e estou há 51 anos fazendo pesquisa histórica sobre Brasília e, principalmente, Planaltina”, conta, com orgulho. Mário lembra de detalhes do levantamento da nova capital. “À época, os operários não usavam utensílios de segurança durante o trabalho, caiam e muitos morriam erguendo a Catedral, o Congresso. Eles eram enterrados ali mesmo. Quando havia mais mortes em um dia, os corpos eram trazidos para Planaltina e enterrados ao redor da igrejinha”, relembra.


Depois de um tempo, foi construído o cemitério da região. Quando tinha 8 anos, o professor e historiador encontrou Juscelino Kubitschek pela primeira vez. “Durante a construção de Brasília, ele esteve aqui. Eu fui à cerimônia. Mas, no dia, o palanque desabou e quase que JK cai também. Ele chegou a dizer a frase ‘quase caí em Planaltina, mas ela nunca cairá do meu coração’”, recorda.

Colorido: Com casas coloridas no estilo colonial, o Centro Histórico mostra um pouco de como era a vida na região escolhida para a construção de Brasília, antes dos projetos de Oscar Niemeyer e de Lucio Costa saírem do papel. Enquanto muitos prédios em Brasília completam 60 anos em 2020, essas edificações em Planaltina são centenárias. A região é o núcleo urbano mais antigo do Distrito Federal e foi o único de antes da construção que permaneceu dentro da delimitação da unidade federativa.


Apaixonada pela história da cidade, Simone Macedo, 61, fundou a Associação Amigos do Centro Histórico de Planaltina

A cidade era um distrito de Formosa, chamada Mestre D’Armas. Ela só recebeu o nome de Planaltina em 1917 e, após a demarcação da área do DF, passou a pertencer ao Distrito Federal. “Em 1896, a Comissão Cruls apresentou o segundo relatório delimitando essa região com precisão e fazendo indicação de um local específico para construção de Brasília, que é esse que a gente está hoje”, afirma o professor aposentado de arquitetura da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Carlos Carpintero.


Em 1922, após a passagem da Comissão Cruls, foi colocada uma Pedra Fundamental na cidade, definindo onde seria construída a nova capital do Brasil. Atualmente, há um monumento em homenagem no Morro da Capelinha. Segundo o professor, grande parte da região do Plano Piloto foi construída em um território que pertencia a Planaltina. “A divisa de Planaltina era o Rio Paranoá e o Rio Gama”, explica.

Para ele, preservar o Centro Histórico é preservar a história do Distrito Federal e do Brasil. “Planaltina perdeu as características de município e passou a ser uma cidade-satélite muito importante do DF”, comenta. A área se tornou região administrativa em 1964.

Vizinhos da construção: Para moradores em Planaltina, as construções remetem ao que o lugar era antigamente. A aposentada Diva Azevedo, 81, acompanhou o desenvolvimento de Brasília praticamente desde o início. Saiu de Sergipe com 20 anos, acompanhada do marido, em 1961. O casal vinha tentar a vida na nova capital. As lembranças de quando chegaram é de um lugar deserto.

“A gente morava no Plano Piloto e, às vezes, durante a madrugada, alguns bichos faziam barulho e aquilo me dava tanto medo”, conta. Anos depois, se mudaram para Planaltina. “A cidade já era desenvolvida, mas com o ar de interior ainda. Planaltina era uma fazendinha quando viemos para cá”, declara a aposentada, que nutre amor pela cidade.

"Durante a construção de Brasília, ele (Juscelino Kubitschek) esteve aqui. Eu fui à cerimônia. Mas, no dia, o palanque desabou e quase que JK cai também. Ele chegou a dizer a frase ‘quase caí em Planaltina, mas ela nunca cairá do meu coração” (Mário Castro, professor e historiador)


Caroline Cintra - Juliana Andrade -  Fotos: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A.Press - Antonio Cunha/CB/D.A.Press - Caroline Cintra/CB/D.A.Press - Ana Rayssa/CB/D.A. Press - Correio Braziliense .



  

 


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