“O Centro Histórico de Planaltina é a avó ou até bisavó de Brasília.” É
assim que a produtora cultural Simone Santos Macedo, 61 anos, define o local.
Para ela, também fundadora da Associação Amigos do Centro Histórico de
Planaltina, não tem como dissociar as construções bucólicas da região da
trajetória da capital federal. As edificações, presentes no Planalto Central
antes da construção da cidade de Juscelino Kubitschek, são o tema da reportagem
de hoje da série Brasília Sexagenária.
Simone chegou a Brasília em 1970. Deixou os pais e duas irmãs em Formosa (GO) e
veio sozinha, para cursar o terceiro ano do então segundo grau e trabalhar.
Morou primeiro na 312 Norte. Depois de alguns anos, mudou-se para Planaltina,
onde está há 24 anos.
Na cidade centenária, conheceu pioneiros, que enriqueceram seus conhecimentos
sobre o nascimento de Brasília. Durante a construção, a região administrativa
era ponto de lazer para operários, segundo a produtora cultural. “Vinham
caminhões cheios de trabalhadores, porque aqui tinha mulheres lindas, cinema.
Eles sempre estavam aqui”, conta. Região guarda as características de cidade de interior nas edificações
A Associação Amigos do Centro Histórico de Planaltina foi fundada em 2007. O
projeto busca manter as edificações históricas da região e recebe patrocínio da
Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF).
A Igrejinha de São Francisco também faz parte da história do professor e
historiador Mário Castro, 71. Ele é bisneto de Aprígio Gomes, um dos
responsáveis pela construção do templo. Além disso, é neto de Viriato de
Castro, guia da Comissão Exploradora do Planalto Central, mais conhecida como
Missão Cruls, que demarcou a área considerada adequada para a construção da
nova capital. Mário Castro, professor e historiador
Depois de um tempo, foi construído o cemitério da região. Quando tinha 8 anos,
o professor e historiador encontrou Juscelino Kubitschek pela primeira vez.
“Durante a construção de Brasília, ele esteve aqui. Eu fui à cerimônia. Mas, no
dia, o palanque desabou e quase que JK cai também. Ele chegou a dizer a frase
‘quase caí em Planaltina, mas ela nunca cairá do meu coração’”, recorda.
Colorido: Com casas coloridas no estilo colonial, o
Centro Histórico mostra um pouco de como era a vida na região escolhida para a
construção de Brasília, antes dos projetos de Oscar Niemeyer e de Lucio Costa
saírem do papel. Enquanto muitos prédios em Brasília completam 60 anos em 2020,
essas edificações em Planaltina são centenárias. A região é o núcleo urbano
mais antigo do Distrito Federal e foi o único de antes da construção que
permaneceu dentro da delimitação da unidade federativa.
Apaixonada pela história da cidade, Simone Macedo, 61, fundou a Associação Amigos do Centro Histórico de Planaltina
Em 1922, após a passagem da Comissão Cruls, foi colocada uma Pedra Fundamental
na cidade, definindo onde seria construída a nova capital do Brasil.
Atualmente, há um monumento em homenagem no Morro da Capelinha. Segundo o
professor, grande parte da região do Plano Piloto foi construída em um
território que pertencia a Planaltina. “A divisa de Planaltina era o Rio
Paranoá e o Rio Gama”, explica.
Para ele, preservar o Centro Histórico é preservar a história do Distrito
Federal e do Brasil. “Planaltina perdeu as características de município e
passou a ser uma cidade-satélite muito importante do DF”, comenta. A área se
tornou região administrativa em 1964.
Vizinhos da construção: Para moradores em Planaltina,
as construções remetem ao que o lugar era antigamente. A aposentada Diva
Azevedo, 81, acompanhou o desenvolvimento de Brasília praticamente desde o
início. Saiu de Sergipe com 20 anos, acompanhada do marido, em 1961. O casal
vinha tentar a vida na nova capital. As lembranças de quando chegaram é de um
lugar deserto.
“A gente morava no Plano Piloto e, às vezes, durante a madrugada, alguns bichos
faziam barulho e aquilo me dava tanto medo”, conta. Anos depois, se mudaram
para Planaltina. “A cidade já era desenvolvida, mas com o ar de interior ainda.
Planaltina era uma fazendinha quando viemos para cá”, declara a aposentada, que
nutre amor pela cidade.
"Durante a construção de Brasília, ele (Juscelino Kubitschek)
esteve aqui. Eu fui à cerimônia. Mas, no dia, o palanque desabou e quase que JK
cai também. Ele chegou a dizer a frase ‘quase caí em Planaltina, mas ela nunca
cairá do meu coração” (Mário Castro, professor e historiador)