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Velhos, jovens e cinquentões

Velhos, jovens e cinquentões 

Meu caro amigo e fotógrafo consagrado Leo Aversa tambem se revelou excelente cronista, capaz de trazer leveza, humor e esperança com seus relatos do cotidiano. Por isso me surpreendi com ele meio chateado de fazer 50 anos e assustado com a passagem rápida do tempo. Com 76, quase me senti ofendido rsrs. 


Calma, garoto, você ja fez e ainda vai fazer muito, não é verdade que aos 50 começa a decadência irreversível. Do corpo, é natural, é o desgaste da máquina, que tem que ser bem cuidada; mas da cabeça, que comanda o corpo, a tendência é melhorar com a experiência e os erros. Claro, cada pessoa é um mundo e cada idade é uma história que não se repete, o jeito é vivê-las com a maior intensidade possível, com “paciência, humildade e entrega”, como dizia um grande mestre zen. 


Como ensina a mestra da moda Costanza Pascolato, “elegância é adequação” ao ambiente, à situação, ao horário, mas vale para tudo na vida, especialmente a idade, nada mais patético que coroa metido a broto. Mas a inteligência, a jovialidade, a simpatia e o humor não têm idade. Nada envelhece mais do que reclamar da vida e cultivar nostalgia por tempos que não voltam. Nada mais chato que velho ranzinza, teimoso e malcriado. É papo furado que, como o vinho, quanto mais velho, melhor. Às vezes azeda, às vezes amarga. 


Quantos realmente melhoram o sabor da sabedoria e do estilo com a idade ? 


Outro mestre, da psicanálise, Jacques Lacan, ensinou que o tempo que vale não é o do relógio nem do calendário, o cronológico, mas a medida da intensidade, o “tempo lógico”. Faz muita diferença nessas avaliações do tempo passado, e especialmente do perdido. Como aproveitá-lo melhor. 


E o gênio Jorge Luis Borges escreveu: “A velhice pode ser o nosso tempo de ventura. O animal está morto. Ou quase morto. Restam o homem e a alma”. Nelson Rodrigues aconselhava os jovens: “Envelheçam logo.” 


É melhor encarar os aniversários como uma comemoração por estar vivo e por sua história de ganhos e perdas, conquistas e frustrações. E agradecer por tudo. Até pelas coisas ruins, que valorizam as boas e renovam valores. Uma consequência da velhice é que, pelo acumulo de perdas, valoriza-se mais a vida e aceita-se melhor a sua precariedade e finitude vivendo cada dia. Êpa! Isso está parecendo autoajuda para idosos, kkkkk, tô fora. 


Vamos mudar de assunto. Boa notícia. Tudo indica que publicitários de alto nível estão reunidos numa espécie de “gabinete do bem” na contra-ofensiva de humor contra o bolsonarismo, em vídeos profissionais de um minuto, super bem acabados, com produção impecável e de grande potência crítica e humorística que estão viralizando na internet. O primeiro foi a paródia dos comerciais de supermercados com o “Bolso-caro”, e agora com o especial de Páscoa “Chokomito”, com Carluxo de coelho da Páscoa. São hilariantes, são mais contundentes que centenas de discursos furiosos, pelo ridículo e pela desmoralização. Contra o ódio e a mentira, a melhor arma não é o amor, é o humor cáustico e corrosivo. 


Nelson Motta - Nelson Cândido Motta Filho é um jornalista, compositor, escritor, roteirista, produtor musical, teatrólogo e letrista brasileiro.



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