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Bão de ir.... No rumo de Itiquira, o sabor rural se encontra no Dom Fernando

Fernando Monteiro chegou a Brasília em 1957 para ajudar na construção. No rumo de Itiquira, o sabor rural. Cercado pela vegetação do cerrado, entre ipês floridos e paineiras, o Restaurante Dom Fernando oferece menu especializado com o melhor da cozinha goiana e mineira. O bufê conta com cerca de 50 pratos, incluindo a rabada com agrião

Um dos passeios ecológicos mais bonitos ao redor de Brasília é em Itiquira, que, em tupi-guarani, significa águas que caem. De fato, com 168 metros de queda livre é o maior salto da América Latina de fácil acesso. Fica a 115 km da capital e 32 km de Formosa, município goiano cujos atrativos englobam lagoas, saltos, cachoeiras, sítios arqueológicos, lendas, história, além de uma deliciosa culinária executada por um povo simpático e receptivo.

 

Você pode conferir a dica antes mesmo de chegar a Itiquira, mas melhor mesmo é na volta. Vá cedo curtir a cachoeira em meio a jardins arborizados que se misturam com a vegetação do cerrado dentro de uma área protegida: o Parque Municipal de Itiquira. No poço, onde se dá a queda, não é permitido banho, dada a força da água, mas, logo abaixo, no rio, é possível nadar em pequenos trechos. E oferece uma sequência de saltos, corredeiras, nascentes de água mineral e outras cachoeiras, entre elas a do Indaiá, que leva o nome da palmeira que cresce em toda a área.

 

Tomara que o passeio tenha estimulado o apetite, porque, só com uma fome razoável, você poderá experimentar as dezenas de pratos do bufê no Dom Fernando, restaurante rural que funciona exclusivamente sábado, domingo e feriados. Fica à beira da estrada entre Formosa e o Salto de Itiquira. Se você estiver voltando de lá, depois de percorrer 23 quilômetros, pare no KM 6 da Rodovia GO 116. Vale a pena se deliciar com a infinidade de sabores típicos da gastronomia de Goiás e de Minas Gerais servidos em ambiente bucólico. (Os doces caseiros chamam a atenção, especialmente o de leite)

 

A história: Nascido em Niterói, Fernando Monteiro Andrade se considera mineiro, porque a família se mudou para Belo Horizonte quando ele tinha 2 anos. Estudante de engenharia, veio trabalhar na construção de Brasília com o pai, dono de uma empresa de instalações elétricas. Aos 86 anos, Fernando lembra bem de cada edifício, palácio e prédio nos quais estendeu a fiação em uma árdua tarefa que teve início em 1957, três anos antes da inauguração da cidade.

 

Desse tempo, o que ele gosta de enaltecer é o entusiasmo demonstrado por Juscelino Kubitschek. “JK costumava percorrer as obras e, antes de terminar a visita, subia em um tamborete e dirigia palavras de estímulo aos candangos que, embora cansados, sentiam-se renovados pelo otimismo dele”, recorda.

Menos de 20 anos passados, o engenheiro comprou uma fazenda de 350 alqueires goianos (1.500 hectares) de José Batista Sobrinho, que vem a ser o fundador da JBS, a maior empresa processadora de proteínas do mundo. “Tempos depois, Zé Mineiro, como é chamado o açougueiro de Anápolis que ganhou o primeiro par de sapatos aos 12 anos, já estava bem de vida e até quis comprar de volta a propriedade, mas eu não concordei”, conta o fazendeiro. (Delícias da roça em panelas de ferro. Típica culinária no interior)

Sem pressa: Fernando casou aos 24 anos com a namorada, Maria Olivia, 21, e tiveram três filhos: Marilivia, Fernando e Rogério. A primogênita não se ocupa mais com a fazenda, administrada pelos dois irmãos. Fernando e a mulher, Márcia Andrade, tocam o restaurante, enquanto Rogério, a granja da qual faz parte a produção de ovos férteis em cinco enormes galpões que abrigam 10 mil galinhas poedeiras em cada um. São ovos para chocar, coletados três vezes ao dia.

 

Além desses, há os ovos comuns de galinhas caipiras, que ao lado do leite, da verdura, dos vegetais, da mandioca e das hortaliças abastecem o restaurante, aberto em 2004. Dezessete anos depois, conta com a mesma equipe na cozinha. São profissionais da região, que tem a culinária local nas veias.

 

Cerca de 50 pratos fazem parte do portfólio servido intercaladamente a cada fim de semana nos bufês montados em enormes mesas de madeira. Só de arroz, há 11 preparações, entre elas, com brócolis, alho, suã de porco, pequi, lentilha, carneiro e até bacalhau. Alguns pratos se destacam do menu e são muito apreciados, como “o frango caipira, a rabada com agrião, a fraldinha assada, a moqueca de surubim e o pernil à pururuca, que vem com molho picante de abacaxi à parte”, revela Márcia, que fica no caixa.


Rodeado de paineiras e ipês, cujas flores nesta época são roxas, o restaurante tem 280 lugares. Na entrada, música ao vivo, sempre MPB executada por um conjunto, que, a cada semana, se reveza com a cantora Cristina, todos de Formosa. Outra atração é o redário, onde “os clientes gostam de descansar um pouco antes de voltar à mesa, pedir mais bebida e se servir no bufê de sobremesas (destaque é o doce de leite). O diferencial da casa é que, aqui, se come sem pressa”, resume Márcia.

Ouvir histórias do pioneiro da construção de Brasília é mais um atrativo. Fernando Monteiro Andrade, que tem um ano menos que o milionário da JBS, circula entre as mesas, relatando causos que a memória e a lucidez não lhe deixam esquecer.



Conheça: Restaurante Dom Fernando - Funcionamento das 11h30 às 16h. Preço do almoço: R$ 52,90 (sábados) e R$ 56,90 (domingos e feriados).  Reservas: (61) 9 9905-1887, 9 9968-7823 ou 9 9988-7823.



Liana Sabo – Colunista, jornalista – Correio Braziliense


 

 

 

 

 

 

 

 


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