Nelson Sargento tinha ligação artística e afetiva
com Brasília. Aqui, costumava vir não apenas para fazer shows, mas também para
visitar amigos, sempre trazendo a tiracolo uma sacola com quadros de pintura
naif, que costumava presentear a alguns privilegiados ou vendê-los. O trabalho
que realizava utilizando telas era outra faceta do seu talento, com o qual
complementava a renda que obtinha enquanto cantor e compositor.
Zico Cerqueira, ex-presidente da Aruc, mesmo tendo
ligação profunda com a Portela, tornou-se amigo fraterno de mangueirense
Nelson. Desde que se aproximou do sambista, tornou-se um misto de produtor e
anfitrião dele aqui na cidade. “Sargento fez, pelo menos, 12 apresentações nos
palcos brasilienses. O primeiro, em 1989, logo depois que o conheci
pessoalmente, foi na Aruc. Houve shows, também, no Feitiço Mineiro, Calaf e
Teatro da Caixa”, lembra. “O trouxe também para fazer uma exposição de pintura
no Carpe Diem e lançamento do livro Prisioneiro do mundo, na livraria do Ivan
da Presença, no Conic”, acrescenta.
Atualmente produtor e empresário de Serginho
Meriti, Cerqueira recorda-se da vez em que Nelson veio visitá-lo e juntos foram
passar as festas de fim de ano em Caldas Novas (GO). “Eu o acolhia quando vinha
a Brasília e, por vezes, ele me hospedava no apartamento que, com muito
esforço, inclusive pintando parede, adquiriu em Copacabana. Na minha visão, a
música brasileira acaba de perder um dos mais talentosos compositores de samba
e uma figura humana admirável”.
Destacado violonista, o carioca Jaime Ernest Dias
viveu a experiência de acompanhar Nelson Sargento em algumas oportunidades.
“Estava no Rio, em 1987, e fui convidado para acompanhar seu Nelson, na Sala
Sidney Miller, da Funarte, quando ele lançou LP de estreia. Depois, toquei com
ele em show na Aruc. Então nos tornamos amigos, embora me tratasse como filho”,
conta. “Em nova ida ao Rio, ele não só me convidou para almoçar, como foi me
esperar na Central do Brasil, para que fôssemos de trem a Belfort Roxo, onde
morava naquela época”, complementa.
Em seu último show na cidade, no dia 29 de novembro
de 2017, no Outro Calaf, Nelson Sargento teve ao seu lado o grupo 7 na Roda.
“São lembranças que vamos guardar para sempre”, destaca Breno Alves, vocalista
e pandeirista grupo. “Na parede da minha casa, está em relevo um quadro desse
mestre do samba e da pintura, que ganhei de presente do Zico Cerqueira, grande
amigo de seu Nelson”, diz emocionado.