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UnB: O colorido da natureza em meio ao concreto

Jardim sequeiro é composto por seis gramíneas nativas do cerrado e 10 tipos de flores de ciclo curto tradicionais, além de duas flores bulbosas

 

O colorido da natureza em meio ao concreto Plantas e flores embelezam o câmpus Darcy Ribeiro. Novo jardim de sequeiro do Instituto Central de Ciências (ICC) conta com espécies tropicais e nativas do Cerrado

 

Dentre gramíneas nativas do Cerrado e flores bulbosas, o jardim de sequeiro dá vida ao prédio do Instituto Central de Ciências (ICC) da Universidade de Brasília (UnB). Inspirado em uma linguagem naturalista, as singelas plantas tropicais colorem o dia a dia de quem trabalha no prédio tombado, e dão um toque especial ao corredor e aos canteiros laterais do local. 

 

A ideia veio da vontade de aproveitar a área dos canteiros do ICC, que não tinha constância no trabalho paisagístico. Segundo Julio Pastore, professor de paisagismo da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAV) e coordenador do projeto, a iniciativa surgiu da beleza do prédio e do vão central sem vegetação permanente. “A ideia foi fazer um jardim muito dinâmico, que contrastava com a arquitetura rígida e mais permanente”, pontua. Segundo o professor, foram seis gramíneas nativas do cerrado e 10 tipos de flores de ciclo curto tradicionais, além de duas flores bulbosas. 

 

A iniciativa é totalmente diferente dos outros jardins comumente vistos na universidade. “É temporário, renovado a cada chuva. Não é irrigado. Por isso, chama-se sequeiro, pois diz-se de uma “cultura de sequeiro”, uma cultura não irrigada”, explica. De acordo com Júlio, o espaço também se difere pela técnica utilizada. “Jardins costumam utilizar capins do Cerrado, em associação a flores de ciclo curto tradicionais, que somos acostumados a ver em rotatórias, com uso bem clássico. No jardim de sequeiro, elas foram compostas em estilo naturalista, com muita mistura e variação”, diz.

 

Implantado pela primeira vez nas chuvas do ano passado, o professor explica outro ponto particular do jardim. “Esperamos semeá-lo a cada temporada de chuvas daqui pra frente, sempre reinventado, incorporando novas espécies e mudando o desenho”, diz. Em janeiro, o jardim começou a florescer, cerca de 45 dias após a semeadura. “Vai florir até junho. Com o fim das chuvas, ele seca, mas, ainda assim, pode continuar bonito, com novos tons de palha, castanho, marrom”, pontua. 

 

As áreas verdes foram repaginadas pela equipe do projeto de extensão Museu das Flores. De acordo com o professor, a escolha do tipo de jardim surgiu devido ao baixo custo de implementação. “Não necessita de irrigação. Achamos que ele ficaria lindíssimo, e interessa às pessoas pela novidade estética, além de fazer parte de meus interesses de pesquisa”, afirma. Além disso, a manutenção é simples. “O cuidado maior é retirar o excesso de daninhas no início das chuvas. Depois, o jardim cresce, floresce e seca sozinho”, explica. 

 

Na área verde do edifício, foram semeadas apenas plantas de ciclo curto, justamente àquelas que aproveitam a chuva. A intenção é de que, conforme a leva atual for secando, seja feito novo plantio com sementes coletadas da leva anterior. “Agora estamos coletando as sementes, e depois vamos preparar as áreas para a próxima semeadura”, garante Júlio.

 

Enquanto nos jardins laterais do ICC as espécies semeadas são tropicais — a maioria de meia-sombra e de uma formação mais parecida com a da Mata Atlântica —, no vão central predominam gramíneas nativas do Cerrado e outras vegetações anuais, como zínia, margarida, mostarda, rúcula e linhaça.

 

Atualmente, a beleza das plantas no câmpus Darcy Ribeiro não pode ser conferida por todos devido à pandemia, mas aqueles que trabalham no local têm esse privilégio. É o caso da vigilante Jackelline Araujo de Carvalho, 53 anos. Há dois anos trabalhando na UnB, ela conta que acompanhou a construção do jardim. “Foi algo especial, porque era um espaço sem nada e, de repente, vi as plantas surgindo. Pude ver o cuidado da equipe, que todo dia ia até o local. Hoje, se tornou esse jardim maravilhoso”, diz.  De acordo com a vigilante, diariamente cerca de 15 a 20 pessoas que trabalham na UnB passam para admirar o espaço. “Várias pessoas se encantam. Às vezes, querem até levar uma mudinha pra casa, mas a gente não deixa”, conta. 

 

Apaixonada por plantas, Jackelline explica que cuidar da natureza é um de seus hobbies favoritos. “Na minha casa tenho várias, frutíferas e flores”, ressalta. Acompanhar o processo de construção do jardim de sequeiro serviu como oportunidade para a vigilante aprender mais sobre plantas. “Eu já vi muita coisa aqui e comecei a fazer lá também. Agora, aproveito muita água da chuva para regar minhas plantas. Aqui, a gente aprende um pouquinho a cada dia”, defende. (Verde das espécies tropicais em contraste com o cinza do concreto do prédio do ICC)

Contemplação: A comunicadora Cintia Rodrigues, 38, mãe de Louise, 6, e Rebecca, 2, conta que no início da pandemia começou a procurar locais tranquilos para passear com as crianças. “Eu havia ingressado no mestrado em Linguística na UnB, mas as aulas estavam suspensas devido à pandemia. Como eu estava muito ansiosa para começar a estudar lá, começamos a andar de carro pelo câmpus e percebemos que a universidade tem muitos espaços ideais para brincadeiras e contemplação”, diz. ( A vigilante do ICC Jackelline Araujo acompanhou o nascimento do jardim de sequeiro  )

Ao menos uma vez a cada duas semanas é possível encontrar a família nos jardins da UnB. “As meninas amam correr nos gramados e observar o colorido das flores e plantas. Como ainda estamos mantendo o isolamento social, tanto esse local quanto vários outros da UnB são nossos refúgios. Além disso, é uma oportunidade de conhecer mais sobre a vegetação do Cerrado, pois não somos de Brasília. Somos de Fortaleza”, explica. (Ideia é plantar no câmpus novas espécies do Cerrado a cada ciclo)

De acordo com o prefeito da UnB, Valdecir Reis, o projeto foi de extrema importância para a instituição. “Nós conseguimos ocupar um espaço que estava vazio, a custo baixo, uma vez que não utilizamos irrigação”, pontua. Além disso, Valdecir reforça que o jardim dá a oportunidade da universidade oferecer novos espaços ao público, e aumenta a interação com a comunidade. “Nos últimos tempos, temos recebido pedidos para ensaio fotográfico no câmpus. Esse jardim, além de ser de baixo custo, trouxe um embelezamento para o prédio, que tem estrutura rústica, e oferece para a comunidade, uma nova área”, pontua. 


Segundo o prefeito, a experiência foi proveitosa e, por isso, decidiu marcar uma reunião para conversar com o GDF sobre a possibilidade de implementar o projeto em outros locais de Brasília. “Eu já pedi uma reunião com a Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil) e vou apresentar o projeto para eles. Pode trazer muitos benefícios para a cidade”, garante.


Para o técnico dos parques e jardins da UnB Madson Reis, 34, o projeto tende a revolucionar técnicas de plantio e cultivo. Ele explica que, além de ser localizado em um prédio tombado, o jardim ocupa uma área de plantio de mais de cinco mil metros quadrados. Atualmente, Madson diz que o espaço pode servir de referência não só para o Brasil, como para o mundo. 


“Foi um jardim projetado com espécies de ciclo curto, que pudessem colorir o espaço durante um curto período de chuva no Centro-Oeste. Sendo assim, é um projeto cíclico, de fato, distinto de todos os outros. É uma nova forma de fazer jardim. Tornou-se uma experiência para todos nós”, garante. De acordo com o técnico, o intuito é dar continuidade ao projeto. “Pretendemos trazer novas espécies do Cerrado, a cada ciclo. É uma experiência, e podemos aprender sempre algo novo”, garante. 


Morador da Colina, setor habitacional para servidores da UnB, Madson diz que o Campus Darcy Ribeiro se tornou um grande parque. Por isso, muitos brasilienses gostam de visitar o local. Formado em biologia, o técnico se inclui no grupo. ”Eu acompanho o crescimento do jardim. A cada semana, tem coisas novas. O jardim é um organismo múltiplo vivo”, diz. “Aquela área não era ocupada, era terra batida. Na seca, não tinha nada. Agora, com o jardim, vemos pássaros diferentes, borboletas e insetos. Para mim, é algo mágico”, acrescenta. 

 

Ana Maria da Silva – Fotos Ed Alves/CB/D.A,Press - Correio Braziliense


 



 


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