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A Brasília de ontem e de hoje

A Brasília de ontem e de hoje


O traço do grande urbanista e arquiteto Lucio Costa configurou o Plano Piloto de Brasília, em 1957, e não teria imaginado como a capital poderia evoluir e se consolidar como metrópole, conforme classificação do IBGE de 2007. De fato, o processo de urbanização, então deflagrado, era o começo de centro urbano disseminado no território. Em 1958, surge Taguatinga, que se firmou como a primeira cidade satélite — hoje região administrativa — de grande importância para o início do povoamento. Taguatinga iniciou a ocupação do espaço, que denominei polinucleado ou de núcleos múltiplos, disseminado no território no Distrito Federal (DF).

 

Filmes antigos mostram o frenesi existente no Núcleo Bandeirante, que se constituiu em agitado empório - local de abastecimento de cimento, madeira e ferro, de um lado para empresas e, de outro, de legumes, frutas e grãos para os famintos operários que trabalhavam de sol a sol na construção dos prédios e palácios com a assinatura do notável arquiteto Oscar Niemeyer. A partir de Taguatinga e Núcleo Bandeirante, surgem outros locais de moradia, como Sobradinho, Gama, ainda em 1960, e a ampliação dos sítios urbanos de Planaltina e Brazlândia, pré-existentes ao Plano Piloto.

 

Algo a não desconsiderar nos primórdios de Brasília é a evolução demográfica vertiginosa: o Censo Experimental do IBGE de 1959 encontrou no DF 64.313 habitantes, sendo 45.781 habitantes no núcleo central, assim distribuídos: Plano Piloto, 11.007; Núcleo Bandeirante, 17.761; acampamentos de construtoras, 11.250 e outros locais,  5.763 habitantes. No Censo de 1960, a população do DF dobra, chega a 141.742 habitantes. Em 2020, Brasília atingiu 3.055.149 habitantes, segundo estimativas do IBGE.

 

Atualmente, atenta-se não apenas para a vertiginosa expansão demográfica, mas para a qualidade de vida dessas populações. Por exemplo: como estão supridos de bens essenciais à vida digna. Qual tipo de moradia ocupam? Quais possibilidades de trabalho se apresentam aos trabalhadores? Como essas populações se deslocam para o trabalho e para buscar serviços? E, ainda, no atual período de pandemia, como está essa população sendo preservada de contaminação pela covid-19? Para essa crise da saúde pública, há hospitais e UTIs suficientes para atender os enfermos? Cuida-se em vacinar rapidamente os mais vulneráveis? A população coopera evitando aglomerações? Usa máscara? Previne-se usando álcool em gel e se higienizando com frequência?

 

São tantas as questões que a urgência de superar as atuais dificuldades mostra que a evolução demográfica não é a mais urgente de ser estudada. O mais urgente será vacinar essa população e não haver, concomitantemente, descuido em oferecer postos de trabalho em consonância com a população economicamente ativa — PEA. Reverter o desemprego que já atingiu 333.000 trabalhadores em abril de 2020, segundo a Pesquisa de Emprego e Desemprego da Codeplan (PEA), Seade e Setrab/GDF. Embora tenha ocorrido leve declínio no desemprego do DF, não significa deixar de nada se pensar na necessidade de superar o atual “perfil de empregos” da capital, basicamente assentada nos “serviços”. Pensar em outras modalidades de trabalho exige amplo debate em Brasília, em que participariam entidades públicas do governo do DF (GDF), sindicatos de classe e das classes patronais.

 

A sugestão que surge é estimular e investir em “indústrias leves”, como a alimentícia, de embalagens, indústrias gráficas e outras tantas, que não degradam o ambiente natural e que não sejam poluentes. Espera-se que as novas atividades demandem mão de obra de fácil adaptação a diferentes tipos de trabalho, não necessariamente especializada e que se encontra em disponibilidade na capital e em sua área metropolitana. A sugestão tem apoio na bastante conhecida dos altos padrões salariais existentes em diversas instituições do DF e em âmbito federal, como o Congresso Nacional e no Executivo e Legislativo. Esse alto padrão possibilita ampla e variada forma de consumo de bens e serviços que, diga-se, é a aposta dos empresários, empreendedores e investidores existentes no DF.

 

Portanto, se nos primórdios de Brasília havia verdadeiro frenesi nas atividades econômicas e na expansão dos núcleos urbanos, na atualidade a capital demonstra estabilização das instituições e mesmo dos assentamentos urbanos. Surgindo, nos dias correntes, a necessidade de oferecer novas possibilidades de moradia, que ela se mova em direção aos espaços já existentes e não na criação de novas regiões administrativas.



Aldo Paviani - Geógrafo e professor emérito da Universidade de Brasília – Fotos/Ilustração: Blog-Google


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