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À QUEIMA-ROUPA: Arthur Trindade, Professor de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB)

Arthur Trindade - Professor de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP)

“Bolsonaro tem presenteado os militares com benesses previdenciárias, salariais e orçamentárias. Ao mesmo tempo que atende as demandas corporativas, Bolsonaro enfraquece as instituições militares”

Por que a decisão do Alto-Comando do Exército de não punir o general Eduardo Pazuello causou tanta frustração em outros integrantes das Forças Armadas? Mais do que frustração, a decisão do comandante do Exército causou indignação entre muitos oficiais. O general Paulo Sérgio (Nogueira) deveria ter punido Pazuello e, se fosse o caso, passando-o para a reserva. Teria saído grande como seu antecessor, (o general) Edson Pujol. Entretanto, Paulo Sérgio se apequenou e abriu um precedente extremamente perigoso de quebra da disciplina. Embora a justificativa fosse evitar novas tensões com o presidente, é pouco provável que esse gesto deterá as futuras investidas de Jair Bolsonaro.

Qual mensagem essa atitude passa ao país? O episódio mostrou que o presidente tem poder para interferir no funcionamento das instituições de Estado. Ele já fizera isso na Polícia Federal, no Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e na Receita Federal. Esperava-se que as FFAA (Forças Armadas) pudessem resistir às investidas dele. Ao impedir a punição de Pazuello, Bolsonaro interferiu gravemente nos assuntos internos do Exército Brasileiro.

É um sinal de que as Forças Armadas estão com Bolsonaro para o que der e vier?
 Eu não diria isso. Mas ficou claro que Bolsonaro conta com apoio e tolerância do alto escalão da Defesa. No caso Pazuello, ele contou com o apoio do Ministro da Defesa, general Braga Netto, que deveria atuar para proteger as FFAA das interferências políticas. Foi o que fizeram o ex-ministro da Defesa (Fernando Azevedo e Silva) e os ex-comandantes das (três) Forças quando, de forma inédita, pediram em conjunto exoneração dos cargos.

O crescimento do ex-presidente Lula nas pesquisas fortalece Bolsonaro entre os militares? Certamente, uma vez que há uma enorme rejeição a Lula entre os militares e policiais. Bolsonaro, provavelmente, usará a influência junto a esses segmentos para alcançar os interesses políticos dele. O ano de 2022 promete ser muito tenso dentro e fora dos quartéis.

Qual é o risco da politização dos militares?
 O risco aumentou consideravelmente nos últimos dois anos. Para cooptar o “seu” Exército, Bolsonaro tem presenteado os militares com benesses previdenciárias, salariais e orçamentárias. Ao mesmo tempo que atende as demandas corporativas, Bolsonaro enfraquece as instituições militares. A politização das FFAA passa pelo predomínio dos interesses corporativos em detrimento das prerrogativas institucionais. Foi assim que Hugo Chávez cooptou os militares venezuelanos.


Ana Maria Campos – Coluna “Eixo Capital” – Foto: Arthur Menescal/CB/D.A.Press – Correio Braziliense.




 


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