“Bolsonaro tem
presenteado os militares com benesses previdenciárias, salariais e
orçamentárias. Ao mesmo tempo que atende as demandas corporativas, Bolsonaro
enfraquece as instituições militares”
Por que a decisão do Alto-Comando do Exército de não punir o
general Eduardo Pazuello causou tanta frustração em outros integrantes das
Forças Armadas? Mais do que frustração, a decisão do comandante do Exército causou indignação
entre muitos oficiais. O general Paulo Sérgio (Nogueira) deveria ter punido
Pazuello e, se fosse o caso, passando-o para a reserva. Teria saído grande como
seu antecessor, (o general) Edson Pujol. Entretanto, Paulo Sérgio se apequenou
e abriu um precedente extremamente perigoso de quebra da disciplina. Embora a
justificativa fosse evitar novas tensões com o presidente, é pouco provável que
esse gesto deterá as futuras investidas de Jair Bolsonaro.
Qual mensagem essa atitude passa ao país? O episódio mostrou que o presidente tem poder para interferir no funcionamento
das instituições de Estado. Ele já fizera isso na Polícia Federal, no Coaf
(Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e na Receita Federal.
Esperava-se que as FFAA (Forças Armadas) pudessem resistir às investidas dele.
Ao impedir a punição de Pazuello, Bolsonaro interferiu gravemente nos assuntos
internos do Exército Brasileiro.
É um sinal de que as Forças Armadas estão com Bolsonaro para o que
der e vier? Eu não diria isso. Mas ficou claro que Bolsonaro conta com apoio e tolerância
do alto escalão da Defesa. No caso Pazuello, ele contou com o apoio do Ministro
da Defesa, general Braga Netto, que deveria atuar para proteger as FFAA das
interferências políticas. Foi o que fizeram o ex-ministro da Defesa (Fernando
Azevedo e Silva) e os ex-comandantes das (três) Forças quando, de forma
inédita, pediram em conjunto exoneração dos cargos.
O crescimento do ex-presidente Lula nas pesquisas fortalece
Bolsonaro entre os militares? Certamente, uma vez que há uma enorme rejeição a Lula entre os militares e
policiais. Bolsonaro, provavelmente, usará a influência junto a esses segmentos
para alcançar os interesses políticos dele. O ano de 2022 promete ser muito
tenso dentro e fora dos quartéis.
Qual é o risco da politização dos militares? O risco aumentou consideravelmente nos últimos dois anos. Para cooptar o “seu”
Exército, Bolsonaro tem presenteado os militares com benesses previdenciárias,
salariais e orçamentárias. Ao mesmo tempo que atende as demandas corporativas,
Bolsonaro enfraquece as instituições militares. A politização das FFAA passa
pelo predomínio dos interesses corporativos em detrimento das prerrogativas
institucionais. Foi assim que Hugo Chávez cooptou os militares venezuelanos.
Arthur Trindade
- Professor de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB) e integrante
do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP)
Ana Maria Campos –
Coluna “Eixo Capital” – Foto: Arthur Menescal/CB/D.A.Press – Correio
Braziliense.
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