Como a pandemia
atingiu os advogados? Atingiu e muito. Foram
inúmeros os escritórios que fecharam, especialmente nas cidades satélites. As
pessoas muitas vezes têm como referência aquela advocacia glamourosa, dos
escritórios luxuosos que passam de pai para filho. A vida real não é assim. Os
advogados passam por dificuldades como qualquer cidadão, moram em apartamentos
ou casas que não foram adaptados para o home office, são obrigados a trabalhar
dividindo o mesmo ambiente com o companheiro ou companheira e também com
filhos. A pandemia empobreceu os advogados, que passaram a ter mais
dificuldades para exercer a profissão, como, por exemplo, as audiências com os
magistrados e os promotores. Eu sei de um caso de uma juíza que não admitiu
fazer audiência presencial na Justiça do Trabalho, mesmo sabendo que o
reclamante não conseguia acessar a internet e era semianalfabeto. Imagine a
angústia do profissional que estava defendendo este trabalhador.
As sessões por videoconferência comprometem a qualidade do trabalho dos
advogados? Claro que compromete. O ser humano é feito de cinco
sentidos. As audiências são feitas para que o advogado possa argumentar e poder
defender os interesses dos seus constituintes, sejam eles autores ou réus,
vítimas ou agressores. Não são raras as vezes que os magistrados fazem as
audiências praticamente cumprindo tabela, como se diz na gíria, ouvindo
testemunhas por telefone. Isso acaba comprometendo a qualidade do nosso
trabalho, sem dúvida alguma.
Seu nome é apontado como possível candidato à Presidência da
OAB-DF. Pretende concorrer? Meu nome surgiu porque não são poucos
os advogados que acreditam no meu trabalho. Aqueles que querem que eu seja
candidato têm me procurado porque acreditam que a OAB precisa de um candidato
que seja capaz de defender os advogados, que transforme a OAB na advogada dos
advogados. Nós hoje temos uma diretoria que valoriza mais a punição que a
prerrogativa. O Tribunal de Ética da OAB de Brasília ocupa um andar inteiro,
enquanto a comissão de ética foi espremida numa salinha. Faltou coragem para
cobrar da Magistratura o cumprimento de coisas básicas, como atenção ao
advogado, que é um direito. A pandemia fez com que perdêssemos a paridade de
armas para os juízes e promotores e a OAB, que deveria ter sido a primeira a
denunciar isso, se omitiu de maneira vergonhosa. Serei candidato, porque a
pressão tem sido grande e há muita gente querendo que as coisas mudem para
melhor.
Além de você, há pelo menos outros cinco advogados da oposição à
atual gestão da OAB-DF com intenção de concorrer. Essa pulverização de
candidaturas favorece a reeleição do Delio Lins e Silva Júnior? O
número de candidatos reflete o tamanho da insatisfação com a atual
administração. Isso mais prejudica do que ajuda quem está sentado na cadeira e
ficou devendo. Não é a primeira vez que temos um quadro como este. Apesar de
aparentemente divididas, as pessoas querem a mesma coisa: resgatar o papel da
OAB como entidade influente na sociedade civil, respeitada por defender os
direitos das pessoas, de ser uma voz ativa, de tornar a Justiça cada vez mais
acessível, especialmente para os mais carentes. O presidente Délio errou,
faltou atitude, sensibilidade e até bom senso. Não é por acaso que ele tem sido
comparado à Maria Antonieta, aquela rainha francesa que mandou os pobres que
não tinham pão comerem brioches e acabou perdendo o trono e a cabeça.
Você foi secretário do governo Ibaneis. Acredita que o governador
vai apoiar sua candidatura? Fui secretário e servi a esta cidade
como uma forma de retribuir a Brasília tudo o que ela me proporcionou. Sou
grato a Brasília e ao seu povo. O governador Ibaneis está fora da OAB e não tem
participado das nossas atividades, até porque sua vida como governador não está
fácil diante de todos os problemas que estamos vivendo. Não sei se vai apoiar
ou não minha candidatura, nem se vai apoiar alguém. Mas se o fizer me sentirei
honrado assim como me sinto honrado com o apoio de qualquer advogado
comprometido com nossos objetivos. Minha candidatura é uma candidatura de
compromisso com a advocacia, com a defesa das prerrogativas dos advogados, com
as oportunidades para a advocacia jovem. Não estou aqui para me aproveitar do
cargo de presidente da OAB, nem estou em busca de notoriedade. Eu quero
trabalhar, porque há muito a ser feito.
O que precisa mudar na OAB-DF? A OAB é uma instituição permanente, que vem
se aprimorando há décadas. A OAB tem sido vítima de uma administração tímida,
reativa, sem iniciativa. Nós não vamos mexer naquilo que está funcionando, que
é bom. Mas muita coisa poderia ser feita para o advogado, seja ele veterano ou
iniciante. Há um empobrecimento patente da nossa classe e a OAB fechou os olhos
para isso, assim como fechou os olhos para as questões das prerrogativas. Falta
apetite para o trabalho, coragem e atitude para defender os advogados naquilo
que eles mais precisam.
Qual é a sua opinião a respeito do embate no Conselho Federal da
OAB, em que o atual presidente, Felipe Santa Cruz, vem sendo criticado por ter
se filiado ao PSD, com possibilidade de concorrer ao governo do Rio? Sempre
levantei a bandeira da independência da OAB. Seja o presidente Felipe Santa
Cruz ou quem quer que seja, OAB não pode ser puxadinho de partido político. Ela
é uma instituição da sociedade civil, a defensora do Estado de Direito e da
democracia. Não existe sociedade livre sem que as pessoas tenham direito à uma
Justiça imparcial, profissional. A OAB tem de ser apartidária e qualquer um que
utilize seu cargo na instituição para fazer política terá a minha oposição.
Misturar no mesmo caldeirão política partidária com OAB é muito perigoso e
esses feitiços sempre acabam se voltando contra o feiticeiro. Tancredo Neves,
um sábio advogado, dizia que quando a esperteza é grande, cresce e engole o
esperto.