Patrícia Rosa, filha de Tião e atual gestora da Pastelaria Viçosa,
afirma que, apesar da dor da perda, a família está grata por tudo que aprendeu
com o empresário. “Meu pai foi uma pessoa muito importante na nossa vida. Desde
o começo de Brasília, ele teve garra e perseverança. O positivismo e a fé dele
foram passados para nós e eu me orgulho disso”, conta.
Patrícia Rosa, filha de Tião, gerencia o empreendimento atualmente. Ela
afirma que se inspira na fé e na garra do pai
Na sexta-feira (11/6), Tião chegou a visitar a sede administrativa da
empresa que fundou. “Ele estava bem, mas tinha problemas de saúde que o faziam
ir e voltar do hospital”, relata Antônio Paulo Gonçalves, 53 anos, do
departamento pessoal da Pastelaria. Ele lembra com carinho de Tião, que lhe deu
o primeiro emprego em Brasília.
“Eu cheguei do Maranhão, há 24 anos, sem nada. Comecei nos serviços
gerais da unidade da Rodoviária e ele me promoveu até chegar no departamento
pessoal. Ele valorizava os empregados, era um bom patrão”, lembra emocionado.
Em pronunciamento oficial, publicado nas redes sociais, a Pastelaria
Viçosa diz que os 92 anos de Tião deixou um legado “de um homem alegre,
batalhador e positivo, que realizou inúmeras tarefas, dentre as quais, viveu
uma vida bem vivida”. A nota ainda afirma que a família “está sentida”, mas
agradecida pela convivência com o empresário.
Confira a nota na íntegra, que é acompanhada por um vídeo com o depoimento de Tião, feito para uma campanha da empresa há alguns meses...
No entanto, foi na terra fluminense que ele viu, no cinema, um trailer
que mostrava o começo de Brasília: pessoas animadas indo para o que viria ser a
nova capital. Ele propôs à esposa que mudassem para lá, plano que foi
concretizado em 1957, quando Tião tinha 28 anos. Em um depoimento, ele chegou a
dizer que a vida era “comer, dormir e trabalhar”.
Em pouco tempo, ele se aventurou a servir pão com manteiga aos
pioneiros. O negócio deu certo e ele abriu uma padaria em Sobradinho. Tudo
mudou, no entanto, quando Tião e a esposa perderam um ônibus para ir até Belo
Horizonte e, com fome, comeram um pastel de um ambulante que vendia os produtos
em uma cesta — era o futuro sócio de Tião, Eugênio Apolônio. O mineiro
propôs uma sociedade a Eugênio, que aceitou.
A unidade mais famosa da pastelaria, na Rodoviária do Plano Piloto,
começou, em 1960, em um espaço de 2,5 m², com uma fritadeira e uma máquina de
caldo de cana. Nascia a Pastelaria Viçosa, a mais tradicional da cidade.
De acordo com a assessoria, o negócio chegou a vender, no início, cerca de 40
mil pastéis por dia. Passaram no local o ex-presidente da República Juscelino
Kubitschek, ainda no começo, seguido por operários, artistas e outros
políticos, inclusive presidentes da última década — Dilma Rousseff, Michel
Temer — e o atual, Jair Bolsonaro (sem partido).
Tião ainda abriu outros empreendimentos, começou a cultivar a própria
cana, e passou a vender pastéis para outros negócios. De acordo com a
Pastelaria, são mais de mil revendedores fora do Distrito Federal.
Em um vídeo gravado para uma campanha do empreendimento, ele diz que
Brasília mostrou ao mundo o poder do país. “Eu vi tanta coisa. Qualquer coisa
que você me perguntar de Brasília eu vi. Entreguei pão em todas as obras. Hoje
Brasília mostra ao mundo que tem um país na América do Sul que tem poder e que
terá ainda mais”, diz Tião.
“Eu me sinto orgulhoso, cheio de vaidade de ter ajudado a fazer
Brasília. Eu dei à cidade o que eu pude, onde eu passei, eu ajudei. Faria tudo
de novo. Hoje eu tenho uma esperança só: fazer o mundo melhor, todo dia”,
conclui.