Em 16 de março de 2016, neste
mesmo espaço, escrevi sobre um crime atroz, vil e bárbaro, que insiste em
acontecer. Um crime cometido por homens covardes, possessivos, que se acham no
direito de tratar uma mulher como mero objeto descartável. Homens que
demonstram fraqueza moral e que não aceitam uma desilusão amorosa. Ao menor
sinal de rejeição, decidem interromper uma vida. Julgam-se deuses, capazes de
ditar o destino de mulheres a quem um dia juraram amor. Deixam rastro de
sangue, lágrimas e dor. Muitas vezes, ceifam a vida da parceira na frente dos
filhos, impondo um trauma que os pequenos carregarão pelo resto de seus dias,
como se não bastasse a ausência eterna da mãe. Em 2020, houve 1.338
feminicídios — em média, 3,6 mulheres foram assassinadas a cada 24 horas.
A psicóloga Melissa Mazzarello, 41
anos, foi encontrada morta dentro de casa, no último dia 17, em Sobradinho. O
marido, Leandro de Barros Soares, confessou ter esganado a esposa durante
discussão. Os dois filhos do casal, de 6 e de 8 anos, estavam na escola. Agora,
terão que conviver com a família desestruturada: a mãe sepultada e o pai no
presídio. Três dias depois, no domingo, também em Sobradinho, Thaís da Silva
Campos, 27, foi assassinada a tiros pelo ex-marido Osmar de Sousa Silva, 36. O
casal estava separado havia cinco meses e tinha um filho de 2 anos. Melissa
havia entrado com medida protetiva contra Leandro, em 23 de setembro de 2020.
Em 2016, outra mulher tinha denunciado Osmar com base na Lei Maria da Penha. Em
9 de junho, Fernanda Landim Almeida, 33, foi esfaqueada na jugular pelo
companheiro, Angelo Gabryel, 28, enquanto dormia com a filha de 2 anos, agora
órfã.
Repito o mesmo ditado usado em
outro artigo que escrevi 63 meses atrás. “Em mulher não se bate nem com uma
flor.” Aos covardes, um recado: saibam perder. Entendam que toda a mulher
merece ser respeitada, além de ter suas vontades e seus sonhos valorizados.
Toda a mulher merece amar quem ela quiser. E se não forem vocês, deixem-na partir
e comecem a reconstruir sua vida em vez de arruinar duas vidas, ou mais, caso
tenham filhos. Às mulheres, o desejo de que possam encontrar amparo da Justiça
e da polícia. Sobretudo proteção eficaz. Que suas denúncias e medidas
protetivas realmente preservem sua integridade física e moral.
A Lei do Feminicídio está
tipificada no Código Penal desde 2015. O Decreto-Lei 2.848/40 estabelece que
esse tipo de assassinato deve ser tratado como crime hediondo. Mas nem mesmo o
rigor da Justiça tem sido capaz de coibir a covardia extrema. É preciso mais.
Uma campanha que atinja o público masculino, na tentativa de minar qualquer
traço de possessividade e de impedir que o rompimento de um relacionamento seja
o estopim para a tragédia. Que o homem tenha a hombridade de entender que toda
a mulher precisa ser tratada com dignidade e respeito. Que o homem não seja
covarde para tolher sonhos, planos e futuros amores de verdade. Meus
sentimentos às famílias de Melissa, Thaís e Fernanda, mas também de Marias,
Joanas, Paulas, Carlas, Lucianas, Luízas...