A pandemia do novo coronavírus
impôs um novo estilo de vida, e, em busca de lazer longe das aglomerações, os
brasilienses estão redescobrindo o Distrito Federal por meio do pedal. O
bancário Henrique Campos Ribeiro, de 32 anos, não fazia ideia de que a capital
tem 400 km de trilhas que levam a cachoeiras, avistamento de animais silvestres
e inúmeras espécies da flora. Antes da pandemia, o jovem frequentava a Água
Mineral (Parque Nacional de Brasília) para nadar, e, uma vez por semana, a
Flona (Floresta Nacional de Brasília), em Taguatinga. Desde o início de 2020,
deixou a natação de lado, devido à pandemia, e passou a focar nas trilhas.”Tem
algumas nascentes, dá pra encontrar bichos diversos e ainda desfrutar de frutas
do Cerrado. Gosto de ter contato com a natureza sem precisar ir muito longe, e
a Flona é ótima para esse propósito”, destaca.
Existem 87 parques com trilhas
para bike ou caminhadas no Distrito Federal. Com 44km de extensão, a trilha da
Flona é a maior de mountain bike dentro de uma unidade de conservação do país.
Morador de Taguatinga, o músico Hugo Leonardo Pires, 35 anos, costumava
frequentar o Taguaparque para andar de skate. Como o fluxo de pessoas no local
é grande, ele prefere evitá-lo durante a pandemia. Substituiu o parque pela
Flona, para andar de bike e correr. “O local era mais difícil de ser explorado
por não ter marcação nenhuma para os trilheiros. Hoje, todas as trilhas estão
devidamente sinalizadas e já fiz muitos percursos tanto correndo quanto
pedalando”, comenta Hugo. De todos os passeios na Flona, há alguns que ficarão
para sempre na memória de Hugo. “Uma vez, um lobo-guará andou ao meu lado por
alguns metros enquanto eu estava de bike e se assustou por conta de outro
ciclista que estava comigo. Outro vez, vi um filhote de lobo-guará que pulou
muito alto para dentro da mata. Também já vi uma anta, gigante”, lembra.
A estudante Lêda Almeida Felix, 28
anos, também é fascinada pelo pedal; uma vez, chegou a percorrer 100km. Em
Brasília, já visitou mais de 20 trilhas. “Em tempos pandêmicos, não há nada
melhor do que estar em contato com a natureza. O contraste do azul do céu com o
verde da mata pra mim é o mais encantador. Em cada ponto que percorro, vejo
formas diferentes”, contempla a ciclista.
Mesmo sendo dentro de parques, é
preciso estar alerta. Há relatos de preocupação com a segurança. É o caso da
engenheira ambiental Isabela Tibães, 31 anos. Como não se sente segura sozinha,
ela sempre combina de pedalar ou caminhar com um grupo de amigos. “O grande
problema é porque eu nunca posso ir só. Já tive amigos que perderam a bike para
assaltantes na Flona. Além de furtos, mesmo acompanhada com outra mulher, em
algum momento somos assediadas”, ressalta. Mas, ainda assim, ela prefere
ambientes ao ar livre e gosta da Flona por ter trilhas diversas. Além de
praticar esporte, ela se sente emocionalmente bem ao ter contato com a
natureza. “Me traz muitas coisas boas. Além de cuidar da minha saúde, me sinto
bem, preenchida dentro dessas emoções tão fortes que estamos vivendo dentro de
uma pandemia, isolamento e solidão”, comenta.
Parques: O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) administra
82 unidades de conservação do Distrito Federal. No Lago Sul, o Parque Distrital
das Copaíbas possui uma trilha com 4km de extensão, onde o frequentador vai
encontrar o Cerrado bem preservado e uma pequena cachoeira no Córrego das
Antas, que nasce no parque. É de lá uma das vistas mais bonitas da cidade e do
Lago Paranoá, de onde se vê duas pontes em um mirante natural. “O Instituto
inaugurou a revitalização dessa trilha em 5 de junho, com a construção de oito
pontos de apoio e mais de 75 placas instaladas para proporcionar mais
informações sobre a trilha e mais segurança aos visitantes”, informa o órgão.
Além da Trilha do Copaíbas, o
Ibram prevê sinalizar trilhas de mais seis unidades de conservação, que são:
Parque Ecológico Veredinha (Brazlândia) e as unidades de conservação
integrantes do Programa Parque Educador: Três Meninas (Samambaia), Águas Claras,
Saburo Onoyama (Taguatinga), Sucupira (Planaltina) e Riacho Fundo; e o
Monumento Natural Dom Bosco (Lago Sul).
O Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio) administra cinco unidades de conservação
federal: Floresta Nacional de Brasília, Parque Nacional de Brasília, Reserva
Biológica da Contagem, APA do Descoberto e APA do Planalto Central. O órgão faz
rondas diárias para monitorar os incêndios florestais e coibir furtos.
No DF, há 87 parques com trilhas para bike ou caminhadas: contato com a
natureza em segurança
Água Mineral: O
parque possui duas trilhas de pequena e média dificuldade: a da Capivara e a da
Cristal Água. O local fica aberto todos os dias, de 8h às 17h, com entrada
permitida até as 16h. O acesso custa R$ 14. Para mais informações, ligue
3233-4553.
Jardim Botânico de Brasília: Conta com seis trilhas diferentes, com diferentes tamanhos e níveis de dificuldade. Há também coleções de jardins temáticos abertos ao público: Jardim Evolutivo, Jardim de Cheiros, Jardim Japonês e Jardim de Contemplação. O espaço abre as portas para visitação de terça a domingo, das 9h às 17h. Os ingressos custam R$ 5. Mais informações: ( https://bit.ly/3i9izkw )
Lei sobre trilhas: O DF é a primeira unidade da Federação a contar com
uma lei sobre trilhas ecológicas, a Lei 6.892/2021. Ela define objetivos e
mecanismos para criar e proteger as trilhas do Cerrado. A legislação criou o
Sistema Distrital de Trilhas Ecológicas denominado Caminhos do Planalto Central
(CPC), que contou com colaboração de sete deputados distritais: Leandro Grass
(Rede), Arlete Sampaio (PT), Chico Vigilante (PT), Eduardo Pedrosa (sem
partido), Fábio Félix (Psol), João Cardoso (Avante) e Reginaldo Veras
(PDT).